SALVAÇÃO PELA GRAÇA
Pode parecer que a ênfase em abandonar nossas próprias paixões, desejos e metas a fim de servir ao Deus verdadeiro é uma maneira de obter salvação por nosso próprio esforço. Isto não é verdade, de forma alguma. Arrependimento significa que desistimos de tentar nos salvar. Sabemos que somos incapazes de nos libertar do pecado. Romanos 7.14-19 diz:
“Sabemos que a Lei é espiritual; eu, contudo, não o sou, pois fui vendido como escravo ao pecado. Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. … Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo.”
Paulo em Efésios 2.1-10 explica quem é que nos salva:
“Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, 2 nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem[a] deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência. 3 Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne[b], seguindo os seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira. 4 Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, 5 deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos. 6 Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus, 7 para mostrar, nas eras que hão de vir, a incomparável riqueza de sua graça, demonstrada em sua bondade para conosco em Cristo Jesus. 8 Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; 9 não por obras, para que ninguém se glorie. 10 Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos.”
A salvação não depende de nosso próprio trabalho meritório, mas do que Jesus fez por nós. Jesus fez e faz por nós o que não podemos fazer por nós mesmos. “Todos os nossos atos justos são como trapos imundos”, diz Isaías (64.6). “Não há quem faça o bem, nem mesmo um” (Salmo 14.3; Romanos 3.10). “Todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Nós somos incapazes de obedecer adequadamente a Deus, e somos incapazes de expiar nossos pecados. De fato, todos os nossos esforços para pagar pelos danos que infligimos não restauram a situação ao que era antes de nosso pecado. Suponha que roubamos uma grande quantia de dinheiro, fomos presos e prometemos pagar tudo de volta. Mesmo se pudéssemos pagar o dinheiro de volta, como podemos pagar pelo esforço de investigação que levou nossa prisão? Como podemos restaurar a confiança que antes existia? Inicialmente, falhamos e depois, falhamos em nossa restituição.
Gosto de resumir rapidamente a obra salvadora de Cristo. Ele obedeceu por nós, morreu por nós, ressuscitou da morte e ganhou a vida eterna por nós, subiu ao céu onde intercede por nós e retornará para nos ressuscitar da morte e nos levar para si.
Primeiro, ele obedeceu a Deus perfeitamente. Adão, o pai da humanidade, pecou e, em consequência, trouxe a morte ao mundo. Também herdamos dele uma natureza pecaminosa (Romanos 5.12). Por outro lado, é através da obediência de Cristo que somos feitos justos com Deus pela fé em Cristo, tudo isso pela graça de Deus (Romanos 5.17-19). Jesus disse: “Quando vocês levantarem o Filho do homem, saberão que Eu Sou, e que nada faço de mim mesmo, mas falo exatamente o que o
Pai me ensinou” (João 8.28). Ele também disse: “ Se eu não realizo as obras do meu Pai, não creiam em mim. Mas se as realizo, mesmo que não creiam em mim, creiam nas obras, para que possam saber e entender que o Pai está em mim, e eu no Pai”
(João 10.37-38). E no jardim do Getsêmani, Jesus orou: “Aba, pai, tudo é possível. Afasta de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres” (Marcos 14.36).
Segundo, Jesus por sua morte é o sacrifício expiatório pelos nossos pecados e pelos pecados do mundo inteiro (1 João 2: 2). Deus considerou seu Filho, que era perfeito e sem pecado, como se fosse pecador e o fez uma oferta pelo pecado nosso (2 Coríntios 5.21), para que Deus pudesse se reconciliar conosco, sem levar em conta os nossos pecados (2 Coríntios 5.19). Ou, como Isaías profetizou:
“Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças; contudo nós o consideramos castigado por Deus, por Deus atingido e afligido. Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados. Todos nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós” (53.4-6).
Terceiro, Jesus ressuscitou da morte para ganhar a vida eterna por nós. “Por
seu poder, Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará” (1 Coríntios 6.14). “Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem” (1 Coríntios 15. 22-23). “A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso” (Filipenses 3.20, 21). E como João escreve em sua Primeira Epístola: “Mas sabemos que, quando ele [Cristo] se manifestar, seremos semelhante a ele, pois o veremos como ele é” (3.2).
Quarto, no céu, Jesus intercede por nós. À direita de Deus, Ele ora por nós, para que a acusação de Satanás e a condenação do nosso pecado sejam nulas e sem efeito (Romanos 8.34). Como ele orou por Pedro enquanto estava na terra: “Simão, Simão, Satanás pediu vocês para peneirá-los como trigo. Mas eu orei por você, para
que a sua fé não desfaleça. E quando você se converter, fortaleça os seus irmãos” (Lucas 22.31,32), assim também ora por nós no céu.
Por fim, Jesus retornará do céu e nos ressuscitará da morte para estarmos com ele para sempre.
“Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que estivermos vivos seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre.” (1 Tessalonicenses 4.16-17).
Veja também 1 Coríntios 15.50-57. E simultâneamente Cristo julgará os vivos e os mortos (2 Timóteo 4.1; Apocalipse 20.12), incluindo-nos (2 Coríntios 5.16), e expulsará Satanás (Apocalipse 20:10) e todos os seus seguidores (Mateus 25: 31-46; Apocalipse 20:15).
Se pensarmos no arrependimento como se fosse uma obra de mérito, perdemos o objetivo da graça. O arrependimento, a mudança de coração e mente, não ganha salvação. Se formos honestos, percebemos que mesmo nosso arrependimento é muitas vezes parcial, provisório e limitado ao nosso pensamento nublado. Arrependimento significa que chegamos a um lugar em que entendemos que não podemos salvar a nós mesmos e que Jesus realizou para nós tudo o que era necessário para ser aceito por Deus. Paulo escreveu que a “confiança na carne”, o rito da circuncisão, o fato de pertencer à família de Israel e a justiça baseada na lei não são nada. Ele escreveu: “Eu as considero como esterco para poder ganhar Cristo e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da lei, mas a que é mediante a fé em Cristo” (Filipenses 3.8-9). Ele escreveu que o falar em línguas e o dom de profetizar, o privilégio de dar todos os bens aos pobres não nos ganham nada (1 Coríntios 13.1-3). Viver no amor de Deus e deixar que seu amor seja revelado em nosso pensar e agir é viver pela graça. Nossa salvação é completamente ganha por Cristo e é recebida pela graça de Deus pela fé em Cristo.
Mesmo nossa evangelização, o falar aos outros sobre o amor de Deus e o juízo final, não é uma ação meritória que ganha a vida eterna. Não devemos nos vangloriar de que “até os demônios nos submetem” em nome de Jesus (Lucas 10.17), mas que nossos “nomes estão escritos no céu” (Lucas 10.20), algo que é um dom de Deus ganho para nós por Cristo.
O despertar da alma para ouvir e entender é um ato sobrenatural do Espírito Santo. Deus pode usar nossas palavras, mas elas são apenas uma das coisas que ele usa para tocar a consciência do pecador e acelerar o sentimento de desamparo que pede ajuda. Se falarmos aos mortos, eles não podem nos ouvir. É Deus quem lhes dá vida para ouvir e agir. Ezequiel escreveu a mensagem de Deus:
“Aspergirei água pura sobre vocês e ficarão puros; eu os purificarei de todas as suas impurezas e de todos os seus ídolos. Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. Porei o meu Espírito em vocês e os levarei a agirem segundo os meus decretos e a obedecerem fielmente às minhas leis” (Ezequiel 36: 25-27).
O apóstolo Paulo escreveu:
O Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as coisas mais profundas de Deus. Pois, quem conhece os pensamentos do homem, a não ser o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus. Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente. Delas também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando verdades espirituais para os que são espirituais. Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente” (1 Coríntios 2.10-14).
Não temos o poder para mudar o coração. Nossa tarefa é testemunhar a
verdade e, em seguida, permitir que o Espírito de Deus aplique essa verdade ao nosso ouvinte, como e quando Ele queira. Eu reparei que Deus trabalha de tal maneira que Ele recebe o crédito e não nós. Os novos convertidos não gostam se nos gabarmos deles como fruto de nosso trabalho. Eles sabem que não éramos nós, mas Deus. Se
nos vangloriarmos, isso retarda mais do que ajuda o processo de conversão. É bom lembrar-nos das palavras de Jesus: “Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: Somos servos inúteis; apenas cumprimos nosso dever”. (Lucas 17.10).
