Sumário no início
Sumário
O CUIDADO ESPECIAL DE DEUS PARA OS POBRES 27
JESUS SE FEZ POBRE PARA QUE NOS TORNÁSSEMOS RICOS 38
A ÓRDEM DE JESUS PARA FAZER DISCÍPULOS 41
A ÓRDEM PARA DISCIPULAR OS POBRES 41
AS INSTRUÇÕES DE JESUS PARA FAZER DISCÍPULOS 43
AS BOAS NOVAS: O PONTO DE VISTA DO REINO DE DEUS 46
INTRODUÇÃO – POR QUE APRESENTAR JESUS COMO SENHOR? 46
ESBOÇO – MINI APRESENTAÇÃO DO EVANGELHO 50
TORNAMO-NOS COMO O DEUS A QUEM SERVIMOS 57
ARREPENDIMENTO DE SEGUIR FALSOS DEUSES 60
CREIAM NO EVANGELHO, NAS BOAS NOTÍCIAS 69
DISCIPULADO COMO UM PROGRAMA DE LIBERTAÇÃO DE VÍCIO 72
ENTENDENDO COMO PESSOAS TOMAM DECISÕES 75
DISCIPULADO E A ÉTICA DE TRABALHO 96
DISCIPULADO: CASAMENTO E ABUSO CONJUGAL 102
DISCIPULADO E RECONCILIAÇÃO 108
FAZENDO AMIZADE E CRIANDO AMIGOS 113
Sumário no início
BOAS NOVAS PARA POBRES:
Fazendo Discípulos do Povo da Periferia
Charles D. Uken
September, 2019
Tradução – Maio de 2021
Todas as citações bíblicas vem da versão
Nova Almeida Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil, 2017
Para a memória da minha mãe Theressa Roskamp Uken (1918-2008), viúva e professora de escola pública primária, que lutou com a falta de certeza da salvação eterna até que ela encontrou alívio louvando a Deus por seu cuidado providencial. Foi a paixão dela servir a Jesus Cristo e ser sua testemunha.
E para a memória dos meus avós Bert (1894-1977) e Anna (1893-1988) Roskamp que providenciaram uma casa na sua fazenda leiteira no estado de Washington para minha mãe, meu irmão e eu (uma viúva e órfãos) depois da morte de eu pai. Eles também demonstraram hospitalidade a ministros, missionários e imigrantes.
O filósofo chinês Lao Tzu disse uma vez: “Dê um peixe a um homem e você o alimentará por um dia.
Um desafio maior é motivá-lo a querer pescar; ou seja, a desejar trabalhar e se tornar autossuficiente.
Um desafio ainda maior é ser liberto da escravidão às coisas deste mundo, que são todas transitórias, e buscar a vontade de Deus revelada na Bíblia. Este livro expoe o proposito de Deus de salvar e abençoar aqueles que são pobres, pobres materialmente e espiritualmente.
Prezado leitor, eu lhe desafio a ver os os pobres alem de objetos de misericórdia, mas a vê-los como potenciais servos de Deus — líderes de famílias, evangelistas, presbíteros, diáconos — pessoas cheias do Espírito e que demonstram os dons de amor, alegria, paz, paciência, amamilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Efésios 4:10-13; Gálatas 5:22-23).
PREFÁCIO
Do início o leitor deve estar ciente das presuposições do autor:
Primeiro, a Bíblia é a revelação de Deus aos homens. Como o livro de Hebeus diz: “Antigamente, Deus falou, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, mas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também fez o universo”(1:1-2). Portanto, faço uso liberal de citações da Bíblia neste livro.
Segundo, o invisível é tão real quanto o visível, o espiritual é mais importante que o material, e o eterno é mais duravel que o temporal.
Nossa primeira impressão de pessoas é de fora. Como elas se aparecem, como se vestem, que automóvel dirigem, onde moram, que é seu emprego, que forma de lazer gostam, que são seus companheiros, e assim por diante. Porem, o invisível é mais importante que o visível. Que é sua razão a viver? Que valores controlam sua maneira de gastar dinheiro. É um maço de cigarros, um bife para o jantar, o celular mais moderno, passagens de coletivo ou prestações de carro? Quais valores determinam o uso do tempo? Olhar a vídeos? Praticar esportes? Cozinhar refeições? O que tatuagens nos dizem sobre as pessoas que as têm? Certamente, declaram o que valorizam por dentro? O que as pessoas dizem? Por certo, falam sobre suas experiências? Ou do que está em suas mentes--o que está deixando-os exultantes ou irritadas? Jesus disse: “Porque cada árvore é conhecida pelos frutos que produz. Porque não se colhem figos de ervas daninhas, nem se apanham uvas dos espinheiros. A pessoa boa tira o bem do bom tesouro do coração, e a pessoa má tira o mal do mau tesouro; porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6:44-45).
O espiritual é mais importante que o material. Deus criou todas as pessoas com um senso de sua existência (Rm 1:20). Ele as fez com um desejo de viver eternamente, para sempre (Ec 3:11). Ele também criou a humanidade com uma consciência — um senso do que é reto e não torto, e do que é legitimo e justo (Rm 2:15). Todos agem conforme um sistema de valores. A questão é: esses valores reconhecem Deus como o supremo legislador e juiz, ou exaltam o ego da pessoa. É meu propópsito a satisfazer a mim mesmo, ou vivo para agradar a Deus?
A alma é mais importante que o corpo. À medida que envelhecemos, vemos o enfraquecimento do nosso corpo. Um dia nossos órgãos vão falhar e nossos corpos vão se decompor por meio da cremação ou apodrecimento na terra. Nossa alma, no entanto, vive para desfrutar da alegria eterna ou para sofrer tormento eterno (Lucas 16:19-31). A existência da alma não deve minimizar a importância de nossos corpos. Eles são “membros de Cristo” (1 Coríntios 6:15) e “santuário do Deus vivo” (2 Coríntios 6:16). E um dia teremos que prestar contas a Deus como vivemos no corpo. “Porque é necessário que todos nós compareçamos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (2 Coríntios 5:10).
Por causa dessas pressuposições, as boas novas para os pobres não devem ser encontradas, em primeiro lugar, em programas governamentais, ou projetos de renovação urbana, política fiscal, oportunidades educacionais, na justiça e na aplicação da lei, ou em algum tipo de divertimento. As boas novas vem a nós por meio de nossa cultura e, ao mesmo tempo, são contraculturais. Nossa cultura que está sempre em mudança não tem a última palavra; apenas o Deus eterno tem. Enquanto vivemos em uma sociedade tecnologicamente avançada, nós que lemos a Bíblia somos capazes de viajar pelas culturas de Abraão, Davi, Ezequiel, Jesus e Paulo. Lendo na história ou nos mantendo a par dos assuntos atuais, somos capazes de viver no mundo do reformador João Calvino ou visitar os plantadores de igrejas pouco celebrados pelo mundo. Todos eles viveram como parte de sua cultura, mas tiveram um chamado que veio de fora dela.
As boas novas consistem em seguir a Cristo. Seus mandamentos não são onerosos. Seu jugo é suave e seu fardo é leve (Mt 11:30). Enquanto trabalhamos neste mundo, nossos olhos estão fixo no mundo vindouro. Jesus dá émfase naquilo que é realmente importa: “Ajuntem tesouros no céu, onde as traças e a ferrugem não corroem, e onde ladrões não escavam, nem roubam” (Mt 6:20). Este mundo não é nosso lar, e a sepultura não é nosso destino. Nosso verdadeiro lar é no céu com Cristo e nosso destino é uma nova criação onde não há morte e nem choro, nem dor (Ap 21:1-4).
Este livro foi escrito sob a perspectiva de um missionário indo para um país estrangeiro. Envolver-se com pessoas necessitadas e ouvi-las é como entrar em um país diferente. O capítulo "A Classe Lutadora" descreve os valores culturais dos menos abastados na América do Norte, onde muitas vezes suas casas estão em um bairro simples, num parque de trailers, ou apartamentos cujo aluguel é subsidiado pelo governo. No Brasil, os menos favorecidos vivem marginalizados, em bairros distantes, em casas alugadas, casas de familiares ou amigos, casas doadas pelo governo (ou cujo financiamento é facilitado), ou até mesmo em casas próprias sob condições precárias, como falta de saneamento e tratamento de água e esgoto, sem asfalto, escolas, hospitais e segurança, ou casas inacabadas. Em alguns lugares, moram em favelas ou em loteamentos longe do centro da cidade.
Nesta tradução, não uso os termos "classe marginalizada " ou "classe oprimida" porque o foco não é discorrer sobre a justiça social ou a falta dela e possíveis soluções no âmbito das legislações, adequação das leis tributárias, ou manifestações de rua. Por qual razão? Nos Estados Unidos, país rico e muito poderoso no contexto mundial, a pobreza é vista em todo lugar porque o povo continua pobre de espírito, famintos do Pão da Vida (João 6:48), cego para a Luz do Mundo (João 8:12), perdido e separado da Vida (Jesus - João 11:25) e da comunhão com Deus, que é a fonte de toda bênção. No entanto, uso os termos "classe lutadora", "setor operário", "os de baixo nível econômico", e "moradores das periferia" para traduzir o termo struggling class, da versão original.
Nos Estados Unidos, a maioria deles não está integrada à vida social de uma igreja. Sua estrutura familiar é rompida pela infidelidade e pelo divórcio. Muitas vezes as crianças crescem sem um pai fiel, amoroso e comprometido. Uma grande porcentagem negocia programas complexos de assistência governamental que oferecem aluguel e assistência alimentar, renda básica, previdência social por invalidez ou renda suplementar para crianças, e assistência médica. Os jovens podem se unir com gangues de rua e passar algum tempo em cadeias locais ou na prisão. Embora o vício e o abuso afetem pessoas de todas as classes sociais, seus efeitos devastam a vida dos marginalizados.
Uso o termo classe “lutadora” porque os pobres despendem grandes esforços e engenhosidade para sobreviver. É um termo com o qual todos podemos nos identificar. Ele enfoca nas habilidades das pessoas e não em suas deficiências ou inabilidades. Em alguns aspectos, a luta deles difere da nossa e, em outros, é a mesma. Podemos enfrentar juntos a luta.
A boa notícia é que Deus tem uma preocupação especial e cuidado providencial pelos pobres e marginalizados. Ele é um Deus justo. Ele vai retribuir mal para aqueles que escravizam e se aproveitam dos fracos. Ele é o libertador de escravos e o salvador de pecadores. Aqueles da classe lutadora são vítimas do mundo do espetáculo – a indústria do cinema, a televisão e a música pop que glorifica o poder e a liberdade sexual. A infidelidade é a nova norma cultural. Assim, os filhos deste setor enfrentam muitas dificuldades e crescem sem a orientação que Deus designou que cada família devesse prover. Deus vê quando as mulheres são abandonadas por seus companheiros. Também, está ciente de como mulheres podem ser uma isca para pegar rapazes que não têm autodisciplina ou âncora moral. Deus não isenta o pecador da culpa.
Por causa da preocupação especial de Deus para os pobres e pecadores, ele enviou Seu Filho para viver entre eles. Este Filho nasceu de pais pobres, viveu no Egito como refugiado, foi recebido com alegria pelos camponeses pobres, rejeitado pelas autoridades e morreu apenas com as roupas do corpo.
A próxima seção principal do livro descreve como a Salvação entrou neste mundo por um Senhor estrangeiro. O mundo pertence a Deus por direito, visto que Ele é o Criador. Porém, por causa da rebelião e do pecado da humanidade e do poder demoníaco, o mundo está sendo mantido sob o domínio das trevas e da mentira. Na apresentação das boas novas, Jesus é descrito como Aquele que trouxe o céu à terra. Ele disse: “O reino de Deus está próximo”. Sabemos como é o céu – o reino de Deus – por meio dos milagres e do ensino de Jesus. No céu, a nova criação está livre da maldição do pecado. As pessoas amarão e adorarão a Deus sinceramente com singeleza de coração, e com generosidade amarão as outras pessoas, preocupando-se com o seu bem-estar. Não haverá o rompimento das relações entre Deus e o homem, nem separação entre pessoas.
Na apresentação do evangelho, a Bíblia explica claramente como as pessoas se tornam semelhantes aos mestres ou aos deuses a quem servem. Aqueles que servem a ídolos feitos por mãos humanas se tornarão como eles e sofrerão o seu destino (Salmo 115:8). Nosso Deus é o Criador do céu e da terra (Gênesis 1:1) e está vivo e ativo, capaz de socorrer e defender Seu povo (Salmo 115:3, 9-13). Deuses feitos por homens não podem salvar alguém (Isaías 44:9-20; 56:5-7) e serão destruídos. Se Israel ignorasse as ordens de Deus e começasse a adorar ídolos, Deus o julgaria severamente: "Destruirei os seus altares idólatras, despedaçarei os seus altares de incenso e empilharei seus cadáveres sobre seus ídolos mortos, e rejeitarei vocês” (Levítico 26:30). *
Conforme o ensino de Jesus, o chamado do evangelho é para o arrependimento. Nós, como Jesus, convidamos pessoas a abandonarem a idolatria e se voltarem para Deus. O apelo é para crer nas boas nevas, confiar em Jesus para o perdão dos pecados e se submeter a Ele em fiel obediência. Ele nos chama para nos tornarmos seus discípulos, tomar a nossa cruz e seguir após Ele (Lucas 9:23). Esse desafio é dirigido tanto a ricos como a pobres. Jesus chamou Pedro e João, chamou o jovem de posição elevada e rico, e chamou a mulher supreendida em adultério. O chamado foi o mesmo para todos e hoje Ele nos chama da mesma maneira.
Na seção sobre o discipulado da classe lutadora, reconhecemos o chamado do evangelho para trazer todos os aspectos da vida sob o domínio de Deus. Uma grande parte do estilo de vida da classe operária é contraproducente. Ele perpetua uma vida miserável e pobre. A infidelidade deve ser substituida por amor fiel e sacrificial. Aqueles que são preguiçosos devem voltar ao trabalho (2 Tessalonicenses 3:11-12), mesmo que considerem aquele trabalho degradante e mal remunerado. A pessoa abusiva e viciada por drogas deve aprender a amar, a louvar a Deus, a se reconciliar, a perdoar e a ser perdoado.
Na seção final do livro, somos desafiados a “fazer igreja,” conduzir a igreja de tal forma que aqueles da classe operária possam não apenas participar, mas também liderar. Seu testemunho do poder libertador de Deus pode ser um exemplo para outras pessoas nos seus relacionamentos. Já que eles, como nós, receberam o Espírito Santo, eles podem dar testemunho do amor de Deus e fazer discípulos de Cristo. A organização da igreja não deve depender de edifícios suntuosos ou de um clero profissional. Os programas devem ser simples, biblicamente corretos e reproduzíveis repetidamente em qualquer local.
Oro para que você, leitor, compreenda e ponha em prática o mandato de Jesus de “pregar boas novas aos pobres´” e “proclamar liberdade aos presos” e oprimidos. (Lucas 4:18).
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* Veja Ezequiel 30:18 e Naum 1:14 sobre a destruição dos ídolos de Mênfis e Nínive, respectivamente. Nabucodonosor sonhou com uma grande estátua enorme e impressionante, que representava vários reinos mundiais, a começar pelo Império Babilônico de Nabucodonosor. A estátua foi atingida e esmagada por uma pedra que soltou-se, sem auxilio de mãos. Por outro lado, a pedra se tornou uma montanha que encheu toda a terra (Daniel 2:31-35). Essa rocha representava o reino que Deus estabeleceria e que jamais seria destruído. Isso iria destruir todos aqueles reinos e os exterminar, mas ele duraria para sempre (Daniel 2:44).
INTRODUÇÃO
A Bíblia traz boas novas para os pobres, para os operários, para as classes com dificuldades. A salvação em toda a sua riqueza é para aqueles que estão caídos, abatidos, fracos, rejeitados, desprezados, ignorados, pobres, doentes, marginalizados, oprimidos, sobrecarregados, e esquecidos. Deus teve pena de seu povo escolhido quando eles eram escravos, em cativeiro no Egito. Ele os libertou por meio de Moisés, com sinais e maravilhas, e os trouxe para a Terra Prometida. Jesus disse que veio buscar e salvar o que estava perdido. Ele chamou aqueles que estavam cansados e sobrecarregados para virem a ele e encontrar descanso para suas almas (Mateus 11:28). Paulo disse que Deus escolheu os néscios, os humildes, os fracos, os desprezados e os incultos deste mundo (1 Coríntios 1: 26-27).
Essa salvação vem às pessoas, não por mérito ou boas obras, mas unicamente pela graça por meio da fé em Jesus Cristo (Efésios 2: 5, 8). O pagamento pelo pecado e a obra de perfeita obediência já foram realizados por Jesus através de Sua encarnação, ministério, morte, ressurreição e ascensão ao céu para interceder por nós. Como resultado, aqueles que estavam longe foram aproximados e unidos a ele por meio da vivificação do Espírito Santo em seus corações (Efésios 2: 14-18). Na verdade, o filho pródigo, que desperdiçou a herança de seu pai e voltou para casa vestido em trapos, foi celebrado com mais honra do que o filho mais velho que sempre estava com seu pai (Lucas 15: 11-32).
Na narrativa dramática da prisão de Paulo e Silas em Filipos, quando um terremoto abriu as portas da prisão e o carcereiro perguntou: "O que devo fazer para ser salvo?", Paulo respondeu: "Creia no Senhor Jesus e serão salvos, você e os de sua casa ”(Atos 16:31). Então Paulo e Silas “pregaram a palavra do Deus, a ele e a todos os de sua casa” (Atos 16:32). Depois que o carcereiro lavou suas feridas, “ele e todos os seus foram batizados.” (Atos 16:33). Evidentemente, escravos foram incluídos quando famílias inteiras abraçaram a fé e foram batizadas. Em suas instruções para a vida familiar, Paulo se dirige a maridos, esposas, filhos e escravos (Efésios 5: 21-6: 9). Embora houvesse uma hierarquia de autoridade, todos participavam como iguais quando se tratava da Ceia do Senhor. Paulo repreendeu severamente a igreja de Corinto porque alguns dos ricos se separaram dos pobres e prosseguiram a comer sua fina comida abundante, humilhando assim “os que nada têm” (1 Coríntios 11:22).
A igreja é o Corpo de Cristo onde todos os seus membros foram batizados em Cristo. Nela todos se revestiram de Cristo, e não há judeu nem gentio, nem escravo nem livre, nem homem e mulher, mas todos são um em Cristo Jesus ( Gálatas 3:28). Nesta unidade em diversidade, todos receberam o Espírito e dons para a edificação da igreja, o Corpo de Cristo (1 Coríntios 12), de forma que até um dom “menor” é de vital importância para o bem-estar de todo o corpo, do ministério em sua totalidade. Mesmo as viuvas, mulheres outrora casadas que eram conhecidas por sua hospitalidade e boas ações, que estavam no rol dos que recebiam assistência, foram reconhecidas pelo ministério de oração (1 Timóteo 5: 5, 10). As mulheres mais velhas foram instruídas a motivar as mulheres jovens a viverem uma vida frutífera em casa (Tito 2: 4-5) e, assim, cumprir parcialmente o mandamento de Cristo de fazer discípulos.
Então, se isso é verdade, por que é que essas mesmas pessoas não se sentem em casa na igreja de classe média? Por que recebem o benefício de um dado ministério, isto é, ajudados de várias maneiras, mas raramente são convidados a ministrar a outros? Por que uma igreja que se vê como uma família unida e amorosa é vista por outros como fechada e elitista? Por que tantas pessoas assistem cultos em igrejas grandes onde podem permanecer escondidas e despercebidas, e continuar a não experimentar uma vida transformada à semelhança de Cristo? Por que o evangelho é apresentado de tal forma que as pessoas possam concordar com ele e ter a certeza do amor de Deus e da vida eterna, mas não aprendem como se submeter e obedecer a Cristo quando enfrentam dificuldades e rejeição?
Os membros da igreja que desfrutam dos benefícios de uma família estável, boa capacitação profissional e conexões com a comunidade acham posições em liderança e gerenciamento. Em torno deles, e sob sua supervisão, estão aqueles que pertencem ao setor braçal e ganham pouco mais que um salário mínimo. Essa posição social superior os impede de desenvolver relacionamentos significativos com trabalhadores pobres. Quantos trabalhadores aceitam o convite de um patrão para irem à sua igreja? E quantos chefes deixam de convidar subordinados por medo de serem acusados de coerção?
Por que as igrejas em um bairro se dissolvem quando seus membros se mudam para subdivisões mais novas, em vez de serem transformadas pelo evangelismo e pela admissão de novos convertidos dentre os novos residentes que tomaram o seu lugar no bairro? Será que aqueles que se mudaram seguiram um Cristianismo formal e nunca aprenderam o que significa ser fraco e humilde como crianças, e abraçar, restaurar e edificar os quebrantados e caídos? Por que os líderes da igreja não perceberam a mudança da população do bairro e não fizeram ajustes no ministério? Por que a igreja reconhece a necessidade de se transformar apenas quando seus membros foram reduzidos em número e são idosos, frágeis, e que carecem de energia para implementar algo novo?
E por que as igrejas estão presas a um modelo organizacional que exige grandes gastos de dinheiro para a construção de edifícios e para empregar pessoal, como pastores altamente capacitados em seminários, líderes de jovens, secretários, ministérios de música e muito mais? As pessoas da classe operária podem ter muitas coisas, mas o que elas não têm é muito dinheiro. Assim, enquanto a demanda por serviços ministeriais aumenta, os recursos financeiros diminuem; e o resultado é que a igreja se dispersa e não ministra de forma alguma.
Ouvi de duas igrejas numa cidade do Brasil cuja liderança quis vender um templo com terreno num bairro pobre para empregar o dinheiro na construção do templo da sede. Alguns membros combateram essa proposta porque sentiram nela desrespeito à visão missionária que motivou a abertura do trabalho naquela região carente. A igreja valoriza uma equipe de ministério bem compensado, mas não sabe como formar e treinar uma equipe evangelística para chamar pobres para conversão e discipulado. O propósito deste livro é corrigir essa falta de visão e mostrar como levantar os recursos espirituais e financeiros para o crescimento de congregações compostas predominantemente de operários.
Eventualmente, se pela bênção de Deus uma igreja de trabalhadores do setor braçal for organizada, o pastor que sucede o pastor missionário e fundador frequentemente tem dificuldade de se adaptar e não tem a mesma visão de crescimento e ministério. Como resultado, a igreja recentemente organizada não cresce mais e entra num período de estagnação.
Deus me transformou por meio de ministério direcionado a pessoas da classe operária. Por ter visto a hesitação, a timidez e os erros que as igrejas na América do Sul e do Norte cometem, fui impelido a escrever este pequeno livro sobre as boas novas para os pobres, para a classe lutadora.
TESE
A tese deste livro é que a igreja deve adotar uma visão missionária mundial transcultural para ministrar à classe lutadora. Deixe o leitor perguntar se sua igreja está negligenciando bairros ou núcleos mais carentes. Usarei “classe” para me referir a um grupo de pessoas que vive de acordo com um conjunto de normas culturais. É um modo de vida com costumes, hábitos e expectativas comuns. Esse grupo de pessoas faz parte de “todas as nações”, raças, tribos, países e bairros que Jesus nos ordena a discipular, isto é, batizar em Seu nome e ensinar a obedecer tudo o que Ele ordenou (Mateus 28:18-20). O objetivo é estabelecer igrejas culturalmente relevantes que geram recursos, financeiros e de pessoas (líderes consagrados), para crescer e multiplicar. Uma igreja é uma reunião de crentes que se dedicam ao ensino da Bíblia, à comunhão, à convivência, à oração e ao compartilhamento de seus recursos (Atos 2:42-44).
Nosso foco estará naquilo que se faz necessário para trazer pessoas a Deus e à comunhão de sua família, a igreja. Embora Deus se preocupe com o bem-estar dos pobres, Seu propósito não é apenas melhorar a sua sorte e o seu senso de bem-estar. Seu objetivo principal é trazer as pessoas para Si. Deus teve compaixão de Seu povo cativo e escravo, sofrendo sob a crueldade de seus mestres egípcios (Êxodo 3:7). Deus os libertou com uma demonstração de Seu grande poder e os trouxe para Si (Êxodo 19:4) no Monte Sinai, onde Ele fêz uma aliança formal com eles (Êxodo 20:1-17; 24:3-11).
Deus os libertou da escravidão, mas as dificuldades continuaram ao mesmo tempo em que eram chamados a confiar em Deus na sua peregrinação pelo deserto. Antes da sua entrada na Terra Prometida, Deus os conduziria através de provações, testes e sofrimento. O povo reclamava de Moisés, foi infiel, rebelou-se muitas vezes e foi disciplinado pela peregrinação no deserto por quarenta anos. No entanto, por tudo isso, Deus supriu tudo o que precisava.
Deus está preocupado com os pobres, mas Ele está mais preocupado com a escravidão deles aos demônios que os tentam e oprimem (Efésios 6:11-12). Na medida que são libertos, Deus garante que suas necessidades físicas sejam supridas (Mateus 6:33). Jesus adverte a eles, e a nós, que o esforço desordenado pelo bem-estar físico e social está, na realidade, servidão ao deus do dinheiro (Mateus 6:24). Mesmo que alguém nunca suba os degraus da escada socioeconômica, ele pode na sua situação existente florescer e prosperar para Deus.
Prefiro usar o termo "classe lutadora" ao termo “classe pobre.” Tenho em mente as pessoas com quem conversei e orei, que estavam esperando na fila para ser atendidas pela previdência social, as mães solteiras que visitei e que estavam recebendo ajuda do governo de várias formas, homens arrebentados pela dor que os levara a receberem aposentaria por invalidez, presidiários de uma cadeia, moradores de casas alugadas que necessitavam de reparos numa zona rural, e muitos outros. Cada termo em uso comum os definia por suas necessidades e carregava conotações pejorativas. Também percebi que essas pessoas estavam sobrevivendo sem mim ou a igreja. Eles ganhavam a vida empregando considerável habilidade e engenhosidade. Eureka! Eles estavam se empenhando em um tipo de atividade ou de outra e não estávamos lhes dando crédito por suas habilidades e recursos. Eles são a classe lutadora.
Alguém desta faixa econòmica tem dificuldades de recorrer a muitos recursos – assistência pública, assistência para aluguel, creche, educação escolar, tratamento médico de emergência, além de trabalhar por um salário mínimo. De certa forma, aqueles que lutam irão “comprar” o melhor negócio, “Que programa lhes fornece mais pelo seu esforço?” O último lugar que um preso quer ir após ser liberto da prisão é para um abrigo para mendigos (albergue). Muito preferível é viver com uma família em sua casa e dormir no sofá da sala.
Em minha opinião, a classe lutadora está intimamente associada ao que o governo, pelo menos nos Estados Unidos, classifica como viver na pobreza. No entanto, usar o termo como “viver apertado” permite que nos identifiquemos com eles, porque nós também nos esforçamos de várias maneiras, embora tenhamos uma renda melhor. Este termo também nos permite e até nos obriga a abordar a dimensão espiritual da pobreza.
Primeiro, devemos entender que Deus deseja que os pobres façam parte de seu reino. Jesus disse: “Bem-aventurados são vocês, os pobres [crentes], porque o Reino de Deus é de vocês” (Lucas 6:20; Mateus 5:3). A razão pela qual os pobres não estão no reino é o resultado de seu pecado, uma realidade que é uma realidade de todas as pessoas (Romanos 3:23; Efésios 2:1-3, 11-12). A falta de recursos materiais ou herança familiar não separa as pessoas de Deus. Este é um chamado a nós para assumirmos a responsabilidade por nosso próprio pecado. Como respondemos à injustiça, ao abuso que nos é imposto, às nossas circunstâncias? Cumprimos a nossa palavra ou fugimos? Nós lutamos? Nós nos rebelamos? Quebramos votos? Fugimos para um mundo de drogas ou de álcool? Nós, assim como os pobres, precisamos compreender como os nossos desejos e ações pecaminosas nos separam de Deus e dos outros. Precisamos nos perguntar, “Como o pecado traz separação e depois sofrimento e pobreza?”.
Em segundo lugar, precisamos nos considerar pobres e também ter certeza de que Deus enviou seu Filho Jesus para se tornar pobre para que pudéssemos nos tornar ricos (2 Coríntios 8:9; 5:21).
Terceiro, nós, como eles, lutamos para sobreviver. Nós, como eles, trabalhamos para aproveitar as melhores oportunidades. E além disso, como eles, podemos fazer de nós mesmos um deus e procurar garantir o nosso próprio destino, à nossa maneira, para satisfazer nossos próprios desejos carnais--poder, luxúria, prestígio. Nosso objetivo não é acrescentar outro programa social ou diaconal num bufê de benefícios de que um cliente possa escolher para satisfazer suas necessidades, livrando-os da responsabilidade de agir com fé e submissão a Deus. Não devemos nos tornar em pequenos deuses providenciadores. Nosso propósito é inclinar os nossos corações a Deus, para ouvir, confiar e obedecer à sua vontade, e então ajudar outros em suas circunstâncias a fazer o mesmo. Nosso chamado é deixar a escravidão no Egito e fazer a difícil peregrinação à Terra Prometida. Precisamos confiar nas promessas de Deus; e precisamos ajudar os outros, também os pobres, a fazerem o mesmo.
Às vezes, precisamos dizer: “Vá em frente e faça do seu jeito. Veja aonde isso vai te levar! Desta maneira não vai sair bem. Quando você estiver pronto para abandonar o seu pecado e confiar em Deus, esteja absolutamente certo de que oraremos com você e lhe mostraremos como confiar e obedecer. Essa será a sua porta para a paz e a alegria.
Quarto, para ganhar os pobres, devemos estar como eles. Os pobres fazem parte das “nações”, as ethne, os povos rústicos, os gentios, o que também inclui as várias classes socioeconômicas. Paulo é nosso exemplo: “Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns” (1 Coríntios 9:22).
Quinto, Deus quer usar os pobres para ganhar outros para Cristo. Eles precisam ser discipulados para uma vida transformada para que o seu testemunho e o testemunho das Escrituras possam ser eficazes no discipulado de outros. Com razão, Deus usa ex-usuários de drogas e álcool para ajudarem a libertar aqueles que estão nas garras desses vícios. Ele usa ex-presidiários para ajudarem aqueles que estão encarcerados. Ele usa pessoas divorciadas para ensinarem casais em dificuldades como resolver conflitos juntos.
Em todo o meu ministério, às vezes dolorosamente, tenho estado muito ciente das diferenças sociais entre as classes. O evangelho precisa ser traduzido para o idioma e cultura de cada povo. Ministrar entre os ricos ou os carentes é geralmente mais complicado do que ir para outro país com outro idioma. O evangelho se dirige aos ricos e aos pobres, mas não permite que se separem uns dos outros. Estaremos escrevendo sobre igrejas para operários. Essas igrejas precisam dos dons e recursos dos "privilegiados". Os crentes que são financeiramente ricos, porém, precisam se humilhar (Tiago 1:9-10), se associar com os de posição inferior (Romanos 12:16) e considerar os outros como sendo superiores a si mesmos, cuidando dos seus interesses como aos seus próprios interesses (Filipenses 2:3-4). Os ricos precisam ser libertos da escravidão da riqueza e compreender o privilégio de servir como iguais aos outros na comunhão de fé. “O irmão de condição humilde glorie-se na sua exaltação”, como filho de Deus e herdeiro com Cristo das riquezas da vida eterna (Tiago 1:9). Aos olhos de Deus, somos todos pobres e necessitados. Ele quer que todos nós juntos compartilhemos as riquezas de sua graça.
Nosso chamado é estar ao lado daqueles que labutam, assim como Cristo veio ao nosso lado com Seu Espírito (João 14:15-17). O mundo, tanto rico como pobre, deseja os peixes, o alho-poró, os melões do Egito, e a palha na fabricação de tijolos (Êxodo 5:6-21). Ele quer agradar o faraó e obter seu favor (Êxodo 5:21) em vez de agradar a Deus e confiar em Sua provisão. Deus está nos enviando como Moisés para torná-lo conhecido entre o povo (Êxodo 9:16) e chamá-los a adorar a Deus por meio de Cristo (Êxodo 5:1; 8:1; 9 1).
A CLASSE LUTADORA
O uso da palavra “classe” nos EUA é controverso. “Não temos classes sociais na América”, dizem muitos. “Isso é o que existe em países mais atrasados. Somos um país de oportunidades.” A realidade é que as pessoas estão mais presas a uma posição social e a um estilo de vida do que desejam admitir. Todo mundo nasce em uma tradição familiar e, mesmo que seja fragmentada, é difícil romper com ela. Romper relações com a nossa tradição significa ir contra as expectativas de todos os que conhecemos.
Classe não é o mesmo que casta. Os limites que delineiam a classe são principalmente invisíveis e mal definidos; no entanto, o domínio que a classe exerce sobre uma pessoa é tão real que uma pessoa pobre pode ganhar uma fortuna na loteria e, em seguida, desperdiçar tudo em um ano por falta de mordomia econômica. Sendo pródiga com pouco, ela continua pródiga com muito. É o modo de vida que controla a pessoa, do qual é difícil se livrar.
Todos conhecemos o que é separar em classe. Na escola, as crianças são divididas em grupos por idade, de modo que a maioria dos alunos de oito a nove anos está na terceira série. Algumas escolas maiores podem ter uma classe avançada com alunos intelectualmente avançados, enquanto as outras classes são consideradas medianas. Muitos distritos escolares colocam adolescentes problemáticos em uma escola secundária de educação alternativa, onde se aplica uma norma diferente de disciplina.
Uma classe social pode ser quase qualquer grupo de pessoas que compartilham alguma afinidade. Os tradutores da Bíblia Wycliff estão atualmente usando métodos acelerados de tradução (MAST - Mobilizing Assistance Supporting Translation) para fornecer as Escrituras a pequenas tribos para que seus membros possam ler a Palavra de Deus na sua língua materna. Até hoje, essas pessoas tiveram que ouvir a palavra de Deus na igreja em uma linguagem oficial comum a toda a nação. Semelhantemente, os trabalhadores, moradores em bairros populares, têm uma "linguagem" que diverge da "linguagem" dos profissionais altamente instruídos. Uma pregação erudita aos profissionais não tocaria os corações de obreiros braçais, ou de empregadas domésticas. Em um ambiente de trabalho formal, recepcionistas em um consultório médico, por exemplo, são capazes de se comunicar perfeitamente bem com pacientes, enfermeiras e médicos. No entanto, se colocarmos a mesma recepcionista e a sua família na sala de estar da casa do médico com sua família, seu marido e filhos ficariam calados e inibidos. Os filhos da recepcionista podem ser bem disciplinados enquanto os filhos do médico são arrogantes e abusivos. O jantar em vez de ser agradável, então, se torna um desastre; e provavelmente não será repetido. Em vez de unir as famílias, este encontro gera conflito e mal entendimento (constrangimento).
Podemos comparar nossa interação com os membros da classe lutadora com uma pessoa que queira viajar para um país estrangeiro. A primeira coisa que se precisa fazer é obter permissão para viajar para fora do país. Solicitamos um passaporte que atesta nossa identidade. Sendo cidadãos de uma nação com suas leis, costumes, e língua, precisamos aprender as leis, os costumes, e a língua do país que pretendemos visitar.
Quando viajamos para outros países, precisamos de um visto que nos permita entrar. Isso exige o envio de uma foto, um formulário devidamente preenchido e uma guia de pagamento para pagar a taxa. Nosso pedido é acrescentado a uma pilha de outros que um funcionário do consulado examina, um por um. Se o nosso requerimento está em ordem em todos os detalhes, o visto é aprovado e colocado em nosso passaporte. Todo o processo pode levar de uma a três semanas, dependendo da eficiência e do número de funcionários alocados no escritório de emissão de vistos.
De maneira semelhante, nosso esforço para ganhar acesso ao coração de uma pessoa pode ser um processo longo e trabalhoso de visitas breves e repetidas por um longo período de tempo. Outras vezes, é rápido e fácil. Uma pessoa pode abrir a porta e dizer: “Entre. Aceita uma xícara de café? Quero que você ore por mim: é isso que estou enfrentando. Eu preciso de ajuda".
Um requerimento de visto exige que nos sujeitermos às leis do país que estamos visitando. O país anfitrião espera que respeitemos sua autoridade. Na mesma forma as pessoas que visitamos podem ser muito hospitaleiras, mas querem ser tratadas com respeito. Certamente acharemos alguns costumes deles estranhos, mas não temos o direito de zombar deles.
Para conhecermos esses forasteiros e estrangeiros (estranhos para nós), precisamos descobrir qual é sua relação com Deus. Já sabemos que se o deus deles não for o Criador do universo, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, ele é um ídolo, um falso deus – muitas vezes o EU – feito pela imaginação da pessoa (Jeremias 10:6-15). Esse falso deus tem sua origem em Satanás, o adversário de Deus, também nosso, e o pai de toda mentira. Para conhecer alguém, precisamos lhe perguntar o que ele acredita sobre Deus e como essa crença influencia sua vida. Quais são as inconsistências entre uma suposta fé em Deus e os hábitos que são contrários aos mandamentos de Deus? Se eles clamam pelo perdão e misericórdia de Deus, isso os motiva a mudar de comportamento e adotar um novo estilo de vida, ou a continuar no pecado com uma consciência tranquila? À medida que avaliamos a fé e a conduta de uma pessoa desta maneira, precisamos perguntar a nós mesmos quais são as incoerências em nossa própria vida entre a fé que professamos e a vida que vivemos.
Gosto de aceitar o que as pessoas me dizem sem delas duvidar, aceitando o que elas relatam como um fato. Ao mesmo tempo, reconheço que, enquanto estou tentando impressioná-los, eles também estão tentando me impressionar. Nós e eles raramente contamos toda a história e, por isso, enganamos uns aos outros. Sendo assim, é bom inquirir mais profundamente, e buscar maior esclarecimento. Sendo invasivos assim, nós podemos nos sentir desconfortáveis, embaraçados, e envergonhados.
Se quisermos perscrutar o coração deles para sabermos o que os controla, quem é o seu deus, devemos permitir que eles nos façam perguntas e perscrutem o nosso coração. Há segredos que mantemos escondidos, mas se forem pecados de qualquer natureza, conhecidos por nós somente, devemos confessá-los. Ao revelar nossa própria fragilidade, nossas tentações e pecados, estamos demonstrando aos outros como recebemos a redenção e a libertação do poder do pecado. Estaremos compartilhando como nossos pecados estão sendo tratados por Deus amorosamente. Por meio do amor de Deus, somos perdoados e tomados pelo Espírito de Cristo que vive em nós. Viver abertos e transparentes é o maior anúncio da verdade sobre o governo de Deus (o reino) administrado por Cristo – Aquele que é amado pelo Pai (Mateus 17:5) e revelado por ser o Senhor de todos através da ressurreição (Mateus 28:18). Estaremos demonstrando que Deus “nos libertou do poder das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a remissão dos pecados” (Colossenses 1:13,14).
Pedimos permissão para entrar em suas vidas, em seu mundo. Nosso objetivo é convidar as pessoas a entrarem em nossa vida, em nosso mundo. Para eles, é estranho. Na realidade, é o reino de Deus, uma herança e direito de cidadania preparada para eles e para nós pela obra de Cristo. Desejamos que eles façam deste reino o seu lar, sua família atual e eterna.
Somos chamados a compreender as pessoas que Deus nos chama a alcançar. Timothy Keller e Allen Thompson (“Church Planter Manual”, Redeemer Church Planting Center, 2002, pg.76 sg) nos ensinam a importância da pesquisa demográfica e etnográfica como uma das etapas no processo de plantação de igrejas. Os autores nos lembram de que a pesquisa etnográfica não é nada nova, mas pode ser encontrada na Bíblia. Conforme praticado pelo apóstolo Paulo, foi em grande parte intuitivo. Ao falar com os da sinagoga de Antioquia da Pisídia, Paulo argumentou que Jesus era o Messias (isto é, Cristo), o Filho de Deus, referindo-se a uma visão de mundo derivada das Escrituras do Antigo Testamento (Atos 9:20, 22; cf. 13:14-48). Em Atenas, por outro lado, Paulo estava face a face com os gentios, com a fé idólatra pagã grega e com o modo como eles viram o cosmos. Lá, ao conversar com filósofos gregos, ele apontou a tolice de adorar ídolos quando um de seus próprios poetas tinha escrito: “Nós somos sua descendência”, referindo-se ao Deus Criador. A partir dalí, Paulo passou a testemunhar sobre o fato da ressurreição de Jesus da sepultura, dizendo que por meio dele Deus julgaria o mundo com justiça (Atos 17:22-31).
A maioria da classa lutadora não tem problemas mentais ou físicos. Isso exige um ministério mais especializado e adequado às suas necessidades. Como nós, eles precisam do amor salvador de Jesus; mas nós não os incluímos em nosso desafio de discipular os trabalhadores pobres. Para conhecer gente do setor operário é uma questão de ver gente de verdade. Quando fazemos compras em um supercentro temos a tendência de não “ver” os funcionários. Eles estão lá para fazer um trabalho, principalmente estocar prateleiras, responder a perguntas de clientes e ajudá-los a encontrar mercadoria, comparecer aos caixas ou supervisionar um departamento. Cada trabalhador se veste de um uniforme com o logotipo da loja para que sejam facilmente identificados. Eles são pessoal para nos assistir, mas será que paramos para olhar as roupas que se vestem sob o uniforme ou os sapatos com que se calçam? Já reparamos como eles falam? Têm um sotaque que revela que são imigrantes ou que procedem de uma outra parte do país? Já nos perguntamos como seria sua vida em casa: são solteiros ou casados (usam aliança?); têm filhos? onde moram? ou como passam o tempo livre?
Quando viajamos, temos notado a arrumadeira do nosso andar no hotel? Temos reparado as pessoas que preparam e servem um lanche rápido? Ou, em um restaurante mais sofisticado, temos tomado nota da recepcionista ou da garçonete que anota nosso pedido, ou do garçom que limpa nossa mesa e a arruma para os próximos clientes? Vemos nós realmente os pedreiros, os carpinteiros, os pintores num projeto de construção?
Se eu for um construtor, em pouco tempo conhecerei os meus empregados. Eu os conheço pelas reclamações ou elogios. Eu começo a duvidar da sua honestidade se um deles me telefona cedo a cada segunda-feira dizendo que não pode vir ao trabalho porque está doente. Conheço os homens que comparecem cedo ao recinto da construção e trabalha dando atençao aos detalhes. Mas, provavelmente não sei se são irmãos da fé e membros de uma igreja. Quando distribuo os contracheques de salário, posso não querer saber como os gastam. Provavelmente não quero saber das condições de sua casa. Não quero ir lá para não sentir pena de sua difícil situação na vida. Tudo o que quero saber é se eles fazem seu trabalho.
Outra maneira de conhecer a classe lutadora é pelos dados do censo. O censo fornece informação sobre estado civil, renda, idade e raça para cada município. Isso é útil, mas não nos revela a existência de uma favela na periferia de um bairro nobre, nem revela informações sobre atitudes ou filiação política. O departamento de planejamento da prefeitura pode ter muitas informações sobre os bairros. É uma questão de chegar ao escritório correto e fazer perguntas. O departamento de polícia local provavelmente pode ajudá-lo a identificar bairros com altos índices de criminalidade ou violência doméstica.
Professores e administradores de escolas podem nos ajudar a entender uma população menos favorecida. Pode chegar ao(à) diretor(a) da escola e se oferecer para servir como mentor de uma criança em dificuldades, ou fazer outra coisa útil qualquer. Em breve observaremos a ordem ou a falta dela numa sala de aula. Conhecendo as crianças e o os seu professores, abre-se uma porta de entendimento da comunidade relacionada àquela escola.
Se identificarmos um bairro onde moram trabalhadores de baixa renda, podemos andar pelas ruas e conversar com quem quer que esteja por aí. Podemos perguntar se eles têm um pedido de oração, se pertencem a uma igreja onde assistem regularmente ou se aceitariam um convite para vir à nossa igreja. Podemos também perguntar por quanto tempo residem no bairro, de onde vieram, onde trabalham, etc. Às vezes, os moradores podem achar nossa presença suspeita. É bem sermos francos e claros sobre nossa intenção. Não há suspeita em nos identificarmos como sendo de uma igreja local e perguntarmos se há um pedido de oração.
O colapso moral da sociedade afetou negativamente os de baixa renda mais do que os outros níveis da sociedade. Por exemplo, nos Estados Unidos da América, no outono de 2012, a Grand Rapids Press (Imprensa do Estado de Michigan) informou que 51% das crianças nasceram fora do casamento, 71% em Detroit e mais de 85% em Chicago. Em 7 de julho de 2011, Sue Thomas, do MILive.com, intitulou um artigo com as seguintes palavras: “O aumento acentuado de partos de filhos de mães solteiras em Michigan significa muito mais crianças crescendo na pobreza”. Algumas delas decidiram coabitar com um homem sem a formalidade do casamento; porém, a maioria dessas famílias estão inerentemente instáveis, pois, sem apoio legal, uma separação ocorre mais facilmente por causa do conflito, da atração por uma outra pessoa, bem como de circunstâncias adversas como desemprego ou doença.
As crianças nessas casas geralmente crescem sem um pai fiel, amoroso e protetor. Eles recebem disciplina aplicada de forma inconsistente. Às vezes passam fins-de-semana alternados com a mãe ou com o pai. Outras vezes, são deixados à própria sorte para escolher amigos, assistir televisão, e como ocupar o tempo livre. Alguns não se sentam à mesa para comer uma refeição, mas pegam comida fria de uma panela no fogão a qualquer hora em que sentir fome. Em alguns distritos escolares, até 100% das crianças se qualificam para o programa de merenda gratuita por causa de uma dúzia ou mais de fatores de risco.
Mais da metade das pessoas nos EUA dbaixo nível econômico não frequentem regularmente uma igreja. Um pastor pode descobrir esta percentagem fazendo uma pesquisa no seu bairro. A geração mais velha ia à igreja quando eram crianças. Seus filhos não vão, exceto para uma escola bíblica de férias ou talvez uma programação para adolescentes, se a igreja oferecer transporte. O conhecimento da Bíblia lamentavelmente é deficiente. O que eles ouviram é: "Deus é amor. Ele fez tudo. Ele responde a oração. Jesus é seu amigo. Tente ser bom e gentil com os outros.” Raramente vi qualquer história ou lição que ensinasse sobre o juízo de Deus por causa do pecado.
Alguns dos homens têm dificuldade em manter um emprego. Eles têm dificuldade em obedecer às ordens, sofrem de dores crônicas e se machucam com facilidade. Isso os leva a clínicas para tratamento de várias doenças, como dores nas costas, síndrome do túnel do carpo, etc. Isso pode levá-los a abusar de analgésicos, álcool ou drogas. Eventualmente, um médico pode declará-los inválidos e não capacitados a trabalhar. Assim, podem receber um salário da Previdência Social. Um bom número gasta dinheiro com fumo e bebida em detrimento da alimentação para si e para seus filhos.
Tantas famílias, tanto ricos como pobres, não tem hora fixa para se reunir â mesa para comer as refeições. Tanto as crianças quanto os adultos colocam a comida no prato e a levam para a sala de estar onde assistem o que está passando na televisão, ou se assentam diante da tela do computador ou do celular.
A moralidade das crianças, ou a falta dela, é aprendida com os colegas da escola ou da rua, das redes sociais, dos filmes e do exemplo dos pais. Eles podem detestar a forma como seus pais os tratam e, ainda assim, adotar os mesmos hábitos (gritar, por exemplo) que os levarão a fazer a mesma coisa.
A disciplina é aplicada de forma inconsistente, geralmente com gritos, talvez berros. Um pai, mais provavelmente a mãe, após uma violenta cena de gritos, pode abraçar a criança e demonstrar afeto como forma de se reconciliar e tentar restabelecer o relacionamento. O relacionamento continua, mas a criança não aprendeu a obedecer e continua a fazer o que quiser. Os pais geralmente não estão envolvidos na disciplina, mas quando o fazem, podem ser brutais e mesquinhos.
A pobreza nem sempre está relacionada à baixa renda. Certa vez, ofereci-me para ajudar um trabalhador "pobre" – tão pobre que não poderia contribuir para a igreja – a fazer sua declaração de imposto de renda. Eu pude fazer isso de graça, já que tinha um programa no computador para fazer isso. Para minha surpresa, ele estava ganhando mais do que eu!
Por outro lado, há trabalhadores de baixa renda que não vivem na pobreza. Em 2013, dei uma série de mensagens no culto noturno de uma igreja que não tinha pastor. Embora toda a igreja tenha sido convidada, os tópicos foram escolhidos especificamente para preparar um grupo de dez pessoas para a profissão de fé. Dos dez, uma família branca e duas mulheres afro-americanas compareceram ao culto com certa regularidade. No Dia de Ação de Graças, Daniel e Virginia e seus três filhos adolescentes transferiram formalmente para o rol da igreja. Seu filho mais velho, Carlos, professou sua fé.
Essa família recentemente se-mudou para nossa cidade para ficarem mais pertos dos pais idosos. Eles venderam tudo e compraram uma casa em execução hipotecária que precisava de reparos. Eles se mudaram numa época de uma grande recessão econômica. Daniel não conseguia emprego na construção civil como carpinteiro; mas somente num emprego que pagava apenas US $ 10 a hora, um salário baixo nos EUA. Depois do trabalho no emprego, ele trabalhou na sua própria casa na instalação de pisos, pintura e ampliação da pequena sala de estar, para que fosse mais habitável (confortável). Sua esposa Virginia continuou a dar aulas em casa aos filhos adolescentes e a ajudar o marido na reforma. Carlos era muito tímido e não falava muito, mas encontrou emprego de meio período.
Quando os visitei e revisei o questionário que Carlos respondeu para fazer profissão de fé, percebi como sua casa tinha pouca mobília, mas estava limpa e bem arrumada. Havia um único computador compartilhado por todos da família. Carlos respondeu ao questionário no tempo previsto. Embora fosse calado, ele respondeu bem às perguntas e deu um bom testemunho da sua fé.
Esta família que labutou para ganhar a vida vivia em comunhão com Deus, com a família e com a igreja. As duas mulheres afro-americanas, no entanto, não completaram o curso. Suas vidas foram marcadas por relacionamentos rompidos. Embora a igreja tivesse começado a se aproximar delas, não podia oferecer mentores que estivessem preparados/aptos para caminharem com elas, amá-las e conduzi-las a uma vida plena com Deus, com a família e com a comunidade da fé. A família intacta, por outro lado, vinha da mesma tradição espiritual-cultural e não tiveram problemas para fazer a transição para uma nova igreja.
Alguns anos depois, talvez seis, por acaso, encontrei um dos presbíteros da igreja. Indaguei-lhe sobre a família. Ainda frequenta a igreja? Ele pensou um pouco antes de responder. Não, ele não a via há muito tempo. Não fiquei totalmente surpreso. Talvez, seus filhos adolescentes não se sentissem compatíveis com os outros adolescentes da igreja. Talvez, eles nunca tenham encontrado um lugar na igreja para ministrar aos outros. Ou talvez, eles tenham se tornado críticos quanto às mudanças no estilo de culto ou outro programa da igreja. A disparidade de renda provocou uma separação?
Ninguém quer ser identificado como pobre. Um colega do pastorado disse, “A pobreza não tem nada a ver com dinheiro, tem tudo a ver com relacionamentos quebrados. Para reverter a maré da pobreza é necessária a restauração de relacionamentos. Primeiro com Deus Todo-Poderoso e depois com aqueles que tiveram relações rompidas no passado. "
De onde veio o rompimento de relações amigáveis? Tudo começou quando Adão e Eva quebraram a aliança com Deus e procuraram se esconder dEle. Eles foram expulsos do Éden e, a partir de então, Adão teve que combater ervas daninhas (pragas), espinhos e cardos e arar o solo com o suor de sua testa. Sua esposa sofreria as dores do parto e seria vítima da dominação masculina e, muitas vezes, de abuso (Gênesis 3). Seu filho primogênito assassinaria seu irmão e se tornaria um “fugitivo e errante pela terra” (Gênesis 4:12).
Certa vez, um casal com problemas conjugais veio à minha igreja. Ronaldo, o marido, era um construtor esforçado. Sua esposa Claire era mais refinada e começou a se sentir desrespeitada. Juntos eles decidiram fazer um curso de aconselhamento conjugal, mas nada mudou. Depois de um tempo eles se divorciaram.
Pouco depois disso, Ronaldo encontrou uma divorciada, mãe de alguns adolescentes que tomaram parte da mocidade. Eles começaram a morar juntos e tiveram um filho. Depois de um tempo, eles se casaram. Este foi um relacionamento turbulento e terminou em divórcio também. Algum tempo se passou e então ouvi que Ronaldo encontrou uma mulher que era casada com um marido alcoólatra. Ela deixou o marido e, segundo relatos, encontrou um relacionamento harmonioso com Ronaldo.
Ronaldo parecia nunca ter falta de dinheiro, mas ele morava numa casa inacabada. Seu filho e sua namorada se mudaram para um casebre onde Ronaldo havia morado. Veículos antigos estavam estacionados no quintal e latas de cerveja espalhadas pela entrada. Era uma imagem da pobreza rural do Kentucky nos Apalaches. Para Brasileiros pensem num zona rural no interior no Nordeste.
Um dia, quando Ronaldo estava frequentando nossa igreja com sua primeira esposa, recebi um telefonema de sua mãe que se preocupava com o bem-estar espiritual do seu filho. Fiquei sabendo que ele foi criado numa família cristã sólida, formou-se de um colégio cristão e tinha um irmão que era presbítero duma igreja. Depois de se casar e se mudar para minha região, o casal frequentava uma igreja cujo pastor ensinou que o marido tinha autoridade absoluta sobre a esposa e o lar. A submissão a Jesus como Senhor e para uma vida de serviço amoroso para com o cônjuge não foram compreendidos ou praticados. Dentro de 15 anos, o Ronaldo caiu da classe média estável para uma vida pobre e caótica.
Se os seguidores de Cristo aprenderem a se identificar, se comunicar e ministrar aos trabalhadores de baixa renda, logo descobrirão que são capazes de se comunicar bem com pessoas de qualquer nível social. Não são apenas os pobres que lutam conta vícios e problemas de relacionamento. Quando os ricos se encontram fracassados como os pobres, descobrirão que as boas novas para os pobres são boas novas para eles também. Jesus ministrou às pessoas comuns, a maioria das quais eram pobres, mas foi procurado por Nicodemos, um homem rico da classe mais alta da sociedade judaica. Jesus chamou Mateus, um coletor de impostos que tinha uma riqueza considerável, para ser um de seus discípulos, e Mateus imediatamente deixou tudo, inclusive seu posto de coletor de impostos, e seguiu após Jesus. Mulheres proeminentes e ricas também o seguiram (Lucas 8:1-3).
Embora a pobreza esteja mais relacionada a relacionamentos rompidos do que ao dinheiro ou à falta dele, a igreja americana está lamentavelmente ausente dos bairros habitados por uma grande porcentagem de pessoas que se qualificam para algum tipo de assistência. A igreja está ausente porque seus líderes acreditam que é impossível iniciar e desenvolver um trabalho onde há tão pouco dinheiro e tão poucos recursos. Tenho certeza de que Jesus não gosta de ver isso acontecendo. Jesus veio ministrar entre pessoas assim.
No Brasil, por outro lado, as igrejas pentecostais estão florescendo na periferia e nos bairros dos operários, até mesmo em favelas. Vi quatro igrejas pentecostais dentro do espaço de um quarteirão numa pequena favela em Bauru, SP. Numa visita a um amigo numa das cidades satélites de Brasília, vi que cada quarteirão tinha uma igreja montada na garagem do pregador e dono da casa. Graças a Deus pelo evangelho que está sendo ensinado; porém, parece-me que um grande número de crentes estão sendo explorados por seus líderes. A fé reformada, da linha de João Calvino, continua a ser relevante aos pobres porque é uma fé baseada na Palavra de Deus. Na minha experiência como missionário no Brasil, a busca do perdido e a pregação e o ensino da Palavra deram resultado. Pessoas e famílias foram convertidas para o crescimento da igreja.
Os trabalhadores de baixa renda, mais do qualquer outra classe, aprendem a viver como Jesus ensinou. Eles são como os pássaros que não semeiam, cultivam, colhem ou armazenam em celeiros, mas dependem do que nosso Pai celestial fornece (Mateus 6:26). Eles, e nós também, estamos tentados a nos preocupar. Estamos tentados a procurar a nossa segurança em dinheiro (Mateusw 6:24), e até mentir e roubar para obtermos o que o mundo diz que vai nos dar uma vida alegre. Eles também precisam buscar, em primeiro lugar, obedecer os ensinos do Reino dos Céus, confiantes que Deus lhes proporcionará tudo mais – família, bens, saúde, emprego, e contentamento.
Se identificarmos a classe de pessoas de baixa renda, e tivermos a dolorosa experiência de adaptação e aprendizado do seu idioma, se este pessoal carimbar um visto em nosso passaporte deixando-nos entrar em seu mundo, então enfrentaremos mais um desafio. Teremos a tentação de tirar as pessoas de seu mundo e as trazer para o nosso mundo, para a nossa classe, para alcançar o nosso nível social? Ou, vemos nisso o chamado de Deus para congregá-los numa comunidade de fé, uma família de seguidores de Cristo, composta de outras pessoas do seu nível social, no seu bairro, e no seu ambiente? Quem sabe, podemos incentivá-los a abrirem os olhos para a oportunidade de montar uma creche para os filhos de mães que trabalham? Eles podem compartilhar recursos e informações para apoiar uns aos outros? Eles podem se unir para cantar louvores a Deus, estudar a Bíblia juntos e orar para que Deus aja de maneira milagrosa? Podemos ensiná-los a abrir os corações em amor para outras pessoas, assim como eles, que precisam de perdão e do poder do Espírito Santo para abandonar o pecado e vencê-lo? Finalmente, estamos dispostos a conceder-lhes permissão se vierem até nós perguntando: "Você me permite compartilhar uma ideia ou reprovação que irá ajudá-lo em seu relacionamento com Deus?" Acredito que nossa resposta será "sim" a todas essas perguntas, uma vez que compreendemos a preocupação especial de Deus para com os menos favorecidos. É isso o tópico do próximo capítulo.
O CUIDADO ESPECIAL DE DEUS PARA OS POBRES
NO VELHO TESTAMENTO
É boa nova que Deus, o Criador todo-poderoso, é o defensor dos fracos e humildes. “Pai dos órfãos e juiz das viúvas é Deus em sua santa morada. Deus faz com que o solitário more em família; liberta os cativos e lhes dá prosperidade; só os rebeldes habitam em terra estéril” (Salmo 68.5-6). O Salmo 146.9 repete esse tema: “O Senhor guarda o estrangeiro, ampara o órfão e a viúva, porém transtorna o caminho dos ímpios”.
Ele ouviu os clamores para justiça de Abel e Nabote. Para Caim, Deus disse: "A voz do sangue do seu irmão clama da terra a mim” (Gênesis 4.10). Séculos depois, Deus disse a Elias: “Levante-se, vá encontrar-se com Acabe, rei de Israel, . . . Eis que ele está na vinha de Nabote, aonde foi para tomar posse dela. . . . Fale com ele, dizendo: Assim diz o Senhor: Você matou e, ainda por cima, tomou a herança? . . . No mesmo lugar onde os cães lamberam o sangue de Nabote, cães lamberão o seu sangue — sim, o seu sangue" (1 Reis 21:18,19).
Ser rico, poderoso e favorecido e além disso ser orgulhoso é muito perigoso. Deus não tolera qualquer pessoa tomar o seu lugar de honra. Ana, a mãe de Samuel, triste e angustiada, clamou a Deus por um filho. O Senhor ouviu a sua oração e, ela em gratidão, louvou a Deus: “O Senhor empobrece e enriquece; humilha e também exalta.
Levanta o pobre do pó e tira o necessitado do monte de lixo, para o fazer assentar ao lado de príncipes, para o fazer herdar o trono de glória. Porque do Senhor são as colunas da terra, e ele firmou o mundo sobre elas” (1 Samuel 2:7,8).
O despojamento dos ricos e poderosos é encarado como uma grande libertação e salvação de Israel do Egito. Deus apareceu a Moisés na sarça ardente ao pé do Monte Sinai e disse: “Certamente vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus feitores. Conheço o sofrimento do meu povo. Por isso desci a fim de livrá-lo das mãos dos egípcios e para fazê-lo sair daquela terra e levá-lo para uma terra boa e ampla, terra que mana leite e mel” (Êxodo 3.7,8). Depois que viu os poderosos milagres de Deus realizados por meio de Moisés e sofreu o empobrecimento da sua terra e a perda de seu primogênito, o Faraó finalmente estava disposto a soltar Israel da escravidão.
E Israel não saiu de mãos vazias. Deus assegurou que fossem pagos por seus anos de escravidão. Após a última praga, a morte do primogênito, os egípcios literalmente expulsaram seus escravos. Ao sair, “Os filhos de Israel fizeram conforme a palavra de Moisés e pediram aos egípcios objetos de prata, objetos de ouro e roupas. E o Senhor fez com que o seu povo encontrasse favor da parte dos egípcios, de maneira que estes lhes davam o que pediam. E despojaram os egípcios” (Êxodo 12:35,36).
Portanto, se o Egito foi abatido e Israel foi exaltado por sua libertação pela misericórdia e poder do Senhor, ele nunca deve se esquecer de Deus, e oprimir os pobres e os fracos. Se Deus se opõe aos orgulhosos, Israel nunca deve se orgulhar na prosperidade proporcionada por Deus. Esse orgulho provocaria Deus a se tornar seu inimigo para ensinar-lhe humildade.
Na legislação que deu a Israel no Monte Sinai, no deserto, através de Moisés, Deus fez providência especial para os fracos, os levitas que não tinham herança de terra, as viúvas, os órfãos e o estrangeiro que vivia no meio do povo. Deus disse: "Não maltrate o estrangeiro, nem o oprima; porque vocês foram estrangeiros na terra do Egito" (Êxodo 22:21).
“Ao fim de cada três anos, tirem todos os dízimos do fruto do terceiro ano e os recolham nas cidades de vocês. Então virão os levitas — porque não têm parte nem herança com vocês —, os estrangeiros, os órfãos e as viúvas que moram nas cidades de vocês, e comerão e se fartarão, para que o Senhor, o seu Deus, os abençoe em todas as obras que vocês fizerem” (Deuteronômio 14:28-29).
“Quando fizerem a colheita na terra de vocês, não colham até as beiradas do seu campo, nem recolham as espigas que caíram durante a colheita; deixem essas espigas para os pobres e para os estrangeiros. Eu sou o Senhor , o Deus de vocês” (Levítico 23:22). “Se alguém do seu povo se tornar pobre e as suas mãos se enfraquecerem, então você tem o dever de sustentá-lo; ele viverá com você como estrangeiro e peregrino” (Levítico 25:35). “Se houver algum pobre entre vocês, no meio dos seus irmãos, em alguma das cidades de vocês, na terra que o Senhor , seu Deus, lhes dá, não endureçam o seu coração, nem fechem as mãos a seu compatriota pobre; pelo contrário, devem abrir a mão para ele e lhe emprestar o que lhe falta, tudo aquilo de que tiver necessidade” (Deuteronômio 15:7,8).
“Não oprima o empregado pobre e necessitado, seja ele um dos seus compatriotas ou um estrangeiro que está morando na terra e na cidade onde você vive. Pague-lhe o salário no mesmo dia, antes do pôr do sol, porque ele é pobre, e a vida dele depende disso; para que ele não clame ao Senhor contra você, e você seja culpado de pecado” (Deuteronômio 24:14,15).
As viúvas Noemi e Rute se beneficiaram da fidelidade de um rico proprietário em Belém, chamado Boaz (Rute 2:2-9). Provérbios 14:31 diz: “Quem oprime o pobre insulta aquele que o criou, mas o que se compadece do necessitado honra a Deus”.
No quinquagésimo ano, o ano do Jubileu, os israelitas que perderam suas terras, que era sua herança do Senhor, por causa da pobreza ou porque as venderam para pagar uma dívida, tiveram suas dívidas canceladas. Os que se venderam à escravidão para pagar uma dívida receberam sua liberdade e puderam retornar à suas terras (Levítico 25:3, 28, 54). Deus considerou a terra dele e o povo inquilino, como se fosse imigrante e estrangeiro (Levítico 25:23). Mesmo sendo vendidos em servidão, eles não podiam ser feitos como escravos, mas como trabalhadores contratados (Levítico 25:40).
Nos dias de Isaías, o povo se queixou por que Deus não os estava auxiliando, apesar de oferecerem sacrifícios e de jejuarem com orações. A resposta de Deus a essa queixa foi: " Acontece que, no dia em que jejuam, vocês cuidam dos seus próprios interesses e oprimem os seus trabalhadores" (Isaías 58:3). Ele continuou:
“Será que não é este o jejum que escolhi: que vocês quebrem as correntes da injustiça, desfaçam as ataduras da servidão, deixem livres os oprimidos e acabem com todo tipo de servidão? Será que não é também que vocês repartam o seu pão com os famintos, recolham em casa os pobres desabrigados, vistam os que encontrarem nus e não voltem as costas ao seu semelhante? Então a luz de vocês romperá como a luz do alvorecer, e a sua cura brotará sem demora; a justiça irá adiante de vocês, e a glória do Senhor será a sua retaguarda. Então vocês pedirão ajuda, e o Senhor responderá; gritarão por socorro, e ele dirá: ‘Eis-me aqui’. Se tirarem do meio de vocês todo tipo de servidão, o dedo que ameaça e a linguagem ofensiva; se abrirem o seu coração aos famintos e socorrerem os aflitos, então a luz de vocês nascerá nas trevas, e a escuridão em que vocês se encontram será como a luz do meio-dia” (Isaías 58:6-10).
Salmo 41.1 assegura aos que demonstram misericórdia, “Bem-aventurado é aquele que ajuda os necessitados; o Senhor o livra no dia do mal” (Salmos 41:1).
Em sua oração na dedicação do templo, Salomão pediu:
“Também ao estrangeiro, que não for do teu povo de Israel, porém vier de uma terra distante, por amor do teu grande nome e por causa da tua mão poderosa e do teu braço estendido, e orar, voltado para este templo, ouve tu desde os céus, do lugar da tua habitação, e faze tudo o que o estrangeiro te pedir, a fim de que todos os povos da terra conheçam o teu nome, para te temerem como o teu povo de Israel e para saberem que este templo, que eu edifiquei, é chamado pelo teu nome” (2 Crônicas 6:32,33).
Embora Salomão tenha recebido a rainha de Sabá e a tratado com hospitalidade real, ele não tratou os cananeus que ainda viviam na terra com o mesmo respeito. Ele os recrutou para trabalho forçado, uma prática que continuou até a época do cativeiro (2 Crônicas 8.7-8). Ele não apenas oprimiu os cananeus, mas também aproveitou seus companheiros israelitas. Para construir o templo, e provavelmente seus outros projetos, incluindo palácios e cidades, ele arregimentou 30.000 trabalhadores de todo o Israel e os enviou em turnos de dez mil por mês para trabalhar no Líbano. Ele tinha 70.000 transportadores e 80.000 pedreiros nas colinas. Adonirão chefiava o trabalho e os capatazes que, por sua vez, supervisionaram o trabalho forçado (1 Reis 5.13-16). Depois que Salomão morreu, as tribos do norte, sob a liderança de Jeroboão, pediram que seu filho Roboão aliviasse a dura servidão e o jugo pesado que sofreram durante o reinado de seu pai (1 Reis 12:4).
As tribos do norte foram arrancadas fora da linhagem de Davi porque Salomão se casou com esposas estrangeiras e adorou seus ídolos (1 Reis 11:1-5, 11). Deus usou a agitação social provocada pela opressão das tribos, fora da tribo de Judá, para provocar isso.
Numa era de aparente prosperidade, no reinado de Jeroboão II de Israel, Amós falou contra a opressão dos pobres:“Por três transgressões de Israel, sim, por causa de quatro, não suspenderei o castigo. Porque vendem o justo por dinheiro e condenam o necessitado por causa de um par de sandálias. Esmagam no pó da terra a cabeça dos pobres e pervertem o caminho dos necessitados”(Amós 2:6-7). Até as mulheres ricas e privilegiadas foram repreendidas: “Ouçam esta palavra, vacas de Basã, vocês que estão no monte de Samaria, que oprimem os pobres, esmagam os necessitados e dizem aos maridos: ‘Tragam vinho, e vamos beber!’ “ (Amós 4:1).
Ele advertiu que chegaria o dia em que elas seriam levadas (para cativeiro) com anzóis (Amós 4:2). O Senhor continua sua acusação contra Israel: “Portanto, visto que pisam os pobres e deles exigem tributo de trigo, vocês não habitarão nas casas de pedras lavradas que construíram, nem beberão o vinho das belas videiras que plantaram” (Amós 5:11). Ele implorou: “Busquem o bem e não o mal, para que vocês vivam. E assim o Senhor , o Deus dos Exércitos, estará com vocês” (Amós 5:14). “Em vez disso, corra o juízo como as águas, e a justiça, como um ribeiro perene" (Amós 5:24).
No período perigoso antes da queda de Jerusalém, o rei Zedequias fez um pacto com o povo da cidade para proclamar o Jubileu, liberdade para os escravos. Porém o rei e os ricos da cidade mudaram de ideia e forçaram os pobres de volta à escravidão. A palavra do Senhor veio a Jeremias: “Portanto, assim diz o Senhor : Vocês não me deram ouvidos e não apregoaram liberdade, cada um a seu compatriota e cada um ao seu próximo. Por isso, eis que eu apregoo liberdade para vocês, diz o Senhor , liberdade para a espada, para a peste e para a fome” (Jeremias 34:17). Em poucos anos, a riqueza, o poder e o privilégio dos ricos foram totalmente destruídos pelas forças sitiantes de Nabucodonosor.
Quando Davi estava enfrentando um grande perigo, possivelmente quando estava fugindo da ameaça mortal do rei Saul e, mais tarde, de seu próprio filho Absalão, Davi se humilhou como um pobre quando fez seu apelo a Deus: “Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim. Tu és o meu amparo e o meu libertador; não te demores, ó Deus meu!” (Salmos 40:17). Mesmo como rei no auge do sucesso e do poder, ele entendeu que Deus tomava o lado dos pobres.
Natã veio a ele com uma parábola de um homem rico que roubou o único cordeirinho de um homem pobre. Ao tomar Bate-Seba e matar seu marido, Davi estava pisando os direitos dos pobres. Condenado por seu pecado, sem inocência para se apoiar, e completamente quebrantado, Davi implorou a Deus por perdão (Salmo 51) e o Senhor lhe respondeu graciosamente (Salmo 32). Ele sabia em seu coração que Deus era o defensor dos fracos e dos pobres.
Quando falamos sobre o cuidado especial de Deus pelos pobres no Antigo Testamento, precisamos nos lembrar de que Deus também chama os pobres à responsabilidade moral. Eles não são meramente vítimas de abuso ou negligência. Deus chama todos, ricos e pobres, para serem santos e justos. Na lei de Israel, Deus se revela justo. Ele diz ao seu povo: “Não seja injusto ao julgar uma causa, nem favorecendo o pobre, nem agradando o rico; julgue o seu próximo com justiça” (Levítico 19:15). Esta é uma advertência para todos nós, envolvidos no ministério aos pobres que não devemos desculpar o pecado deles. Sabemos que circunstâncias podem influenciar uma pessoa a se envolver em atividade criminosa. Uma criança pode crescer sem a presença, o amor e a orientação de seu pai, mas isso não desculpa sua desobediência e desrespeito à mãe. “Pobreza e vergonha sobrevêm ao que rejeita a instrução, mas o que aceita a repreensão será honrado” (Provérbios 13:18).
Muitos pobres estão sofrendo as consequências de sua própria loucura. Preguiça e negligência levarão um indivíduo à pobreza (Provérbios 6:9-11; 10:4-5). “Em todo trabalho há proveito; meras palavras, porém, levam à penúria (Provérbios 14:23). Além disso, o continuar numa vida de pecado não recebe a bênção de Deus. “Quem encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e abandona alcançará misericórdia. Feliz é aquele que sempre teme o Senhor ; mas o que endurece o seu coração cairá na desgraça” (Provérbios 28:13,14).
Por outro lado, se tivermos escapado das consequências de nosso pecado, nunca devemos nos gabar do desaventura de outros, para que não soframos o castigo de Deus em nossa vida (Provérbios 17:5). Uma vez eu ri quando meu irmão foi punido. O que minha mãe fez? Ela me pegou pelo braço e me puniu também. Israel foi punido por sua idolatria, mas as nações que a desprezavam e se vangloriavam dela também entraram em condenação.
Contudo, Deus é misericordioso com aqueles a quem humilhou. Ele permitiu que sofressem as consequências da sua loucura; mas, ele salva e redime os que o invocam em seus problemas (Salmo 107:6,13,19,28, 41). Podemos pensar: "Eles estão recebendo o que merecem", mas devemos ter cuidado para não nos orgulharmos e então sofrermos o mesmo castigo. Precisamos nos humilhar diante de Deus e imitar seus caminhos de perdão e compaixão pelos outros.
NO NOVO TESTAMENTO
O cuidado especial de Deus pelos pobres e necessitados continua sendo revelado no Novo Testamento. Além de escrever mais no Novo Testamento do que qualquer outro escritor, Lucas também destaca a preocupação especial que Deus tem pelos pobres mais do que qualquer outro. Como um bom repórter, Lucas desenvolve a sua mensagem pela maneira que seleciona e relata histórias transmitidas por testemunhos oculares (Lucas 1:2; Atos 1:1). Juntamente com as testemunhas, ele é um "ministro da palavra" (Lucas 1:2), não um criador dela.
O que está fazendo Deus ao enviar seu Filho ao mundo? Seu propósito para a salvação do mundo é apresentado em termos de amor e preocupação pelos fracos, desamparados e caídos, todos aqueles derrotados por seu grande inimigo, Satanás. Satanás, o enganador, se exaltou com o propósito de tomar o lugar de Deus. Como o rei de Tiro, Satanás, cheio de orgulho, disse: “Eu sou um deus; sobre a cadeira de um deus me assento no coração dos mares: (Ezequiel 28:2). Por causa de seu orgulho, pecado e violência, Deus o derrubou (Ezequiel 28:16). Deus fez o mesmo com todos os outros reinos antigos, incluindo o governo corrupto em Jerusalém, que revoltaram contra Deus (Isaías 13-24; Jeremias 46-51; Ezequiel 27-32). Derrubando os orgulhosos, Deus está abrindo um lugar para que os pobres e humildes prosperem.
Maria, mãe de Jesus, uma jovem virgem recebeu a visita do anjo Gabriel, que anunciou o nascimento de um filho através da concepção do Espírito Santo (Lucas 1:35). Ao instruir-lhe a dar o nome Jesus a seu filho, o anjo disse, “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo. Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim” (Lucas 1:32,33). Foi isso o que Maria celebrou em cântico quando visitou sua parente Isabel, a mãe de João Batista: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque ele atentou para a humildade da sua serva” (Lucas 1:46-48).... “Derrubou dos seus tronos os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos” (Lucas 1:52).
Lucas continua sua narrativa. No início de seu ministério, Jesus definiu o propósito do seu ministério citando um texto do profeta Isaías. “Jesus foi para Nazaré, onde havia sido criado. Num sábado, entrou na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler” (Lucas 4:16). Lá, foi-lhe entregue o livro do Profeta Isaías, e abriu-o à passagem de 61.1-2:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos,
e proclamar o ano aceitável do Senhor” (Lucas 4:18,19).
Jesus se referiu a esse mesmo tema quando João Batista, da prisão, enviou lhe mensageiros. João, ouvindo de tudo o que Jesus estava fazendo, enviou dois de seus discípulos a Jesus, perguntando: " Você é aquele que estava para vir ou devemos esperar outro?” (Lucas 7:19). Repare a resposta de Jesus: “Voltem e anunciem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos veem,os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e aos pobresestá sendo pregado o evangelho. E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço” (Lucas 7:22,23; Mateus 11:2-4).
A ênfase de Lucas nos pobres pode ser vista comparando seu registro das bem-aventuranças com o de Mateus. Enquanto Mateus interpreta o significado espiritual da primeira e da quarta bem-aventuranças, “Bem-aventurados os pobres em espírito... Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça” (Mateus 5.3-6), Lucas simplesmente escreve: “Bem-aventurados vocês, os pobres. . . . Bem-aventurados são vocês que agora têm fome” (Lucas 6:20,21). Os pobres, aqueles que têm fome e sede, que buscam a Deus, pertencem ao reino. Todas as suas necessidades serão satisfeitas, como Jesus disse: “Peçam e lhes será dado; busquem e acharão; batam, e a porta será aberta para vocês” (Lucas 11:9; Mateus 7:7). A primeira e maior dádiva é o Espírito Santo (Lucas 11:3), mas também está incluído o nosso bem-estar físico e emocional. “Portanto, não fiquem perguntando o que irão comer ou beber e não fiquem preocupados com isso. . . . . Busquem, antes de tudo, o seu Reino, e estas coisas lhes serão acrescentadas” (Lucas 12:29,31,32: Mateus 6:32,33).
Incluídas no Sermão da Montanha, conforme Lucas, estão estas palavras: “Não tenha medo, ó pequenino rebanho; porque o Pai de vocês se agradou em dar-lhes o seu Reino. Vendam os seus bens e deem esmola; façam para vocês mesmos bolsas que não desgastem, tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega, nem a traça corrói” (Lucas 12:32,33).
Diante de tanta pobreza, Jesus enfatiza a esmola. Um fariseu ficou surpreso que Jesus não lavou [suas mãos, Marcos 7.2 e sgs]. Então Jesus explicou que o que está dentro do coração revela se alguém está impuro ou puro. “Mas deem como esmola o que está dentro do copo e do prato, e tudo lhes será limpo” (Lucas 11:41).
Lucas diz que em outra ocasião, quando Jesus e seus discípulos estavam na casa de um fariseu para comer, Jesus disse-lhe:
“Quando você der um jantar ou uma ceia, não convide os seus amigos, nem os seus irmãos, nem os seus parentes, nem os vizinhos ricos; para não acontecer que eles retribuam o convite e você seja recompensado.
Pelo contrário, ao dar um banquete, convide os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos, e você será bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que recompensá-lo.A sua recompensa você receberá na ressurreição dos justos” (Lucas 14:12-14).
Isso reflete o desejo de Deus de que os pobres estejam à mesa no banquete da salvação (Lucas 12.23).
Todos os Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) contam a história de um jovem rico e importante. Ele tinha tudo o que o mundo oferecia: riqueza, juventude e posição. Além disso, ele possuía uma rica herança baseada nos mandamentos do Senhor, mas não estava satisfeito. Jesus lhe disse: “Uma coisa ainda falta a você: venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres e você terá um tesouro nos céus; depois, venha e siga-me” (Lucas 18:22). Ao ouvir isso, o homem ficou triste e saiu.
Uma pessoa que ouviu a mensagem de Jesus e a levou a sério foi Zaqueu, um chefe dos publicanos (cobradores de impostos). Foi um homem de posição, um supervisor de outros publicanos e rico (Lc 19:1-2). Quando Jesus expressou o seu desejo de ir para sua casa, ele imediatamente desceu da árvore e acolheu Jesus de bom grado (Lc 19:6). Em resposta à mensagem de Jesus, ele respondeu: "Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres. E, se roubei alguma coisa de alguém, vou restituir quatro vezes mais. Então Jesus lhe disse: — Hoje houve salvação nesta casa, pois também este é filho de Abraão” (Lucas 19:8,9).
Jesus contou uma parábola sobre um homem rico que ignorou um mendigo repugnante (“coberto de feridas”) ao seu portão (Lucas 16:19-31). Lázaro recebeu um nome cujo significado é "ajudado por Deus". Sem nome específico, o homem rico tinha unicamente um só apoio, a sua riqueza, e essa foi retirada com a morte. Embora rejeitado pelos homens nesta vida, Lázaro não foi esquecido por Deus na hora da morte. Ele foi levado para o lado de Abraão, enquanto o rico foi abandonado para o tormento de Hades, o reino dos mortos perdidos. Jesus sugeriu que, se tivesse ouvido Moisés e os Profetas, as escrituras do Antigo Testamento, e se tivesse se preocupado com a situação dos pobres (Lucas 16:29), ele não teria ficado atormentado.
E não devemos omitir a Parábola do Bom Samaritano, que ensina que nosso próximo é qualquer pessoa em necessidade. Devemos amar nosso próximo, especialmente um necessitado, como gostaríamos de ser tratados com compaixão se nós estivéssemos passando por aflição e angústia. O samaritano foi “o próximo” do homem assaltado e espancado por ladrões porque teve piedade dele. Jesus disse: "Vá e faça o mesmo". (Lucas 10:37).
Para as pessoas que estavam com fome e cansadas, Jesus multiplicou cinco pães e dois peixes que ele partiu, deu graças e deu a seus discípulos para distribuírem a uma multidão de pelo menos 5.000 homens (Mateus 14:21). O povo não entendeu o significado disso. Eles pediram mais outro sinal: “Que sinal o senhor fará para que vejamos e creiamos no senhor? O que o senhor pode fazer? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: ‘Deu-lhes a comer pão do céu’" (João 6:30,31). Infelizmente, eles queriam mais comida perecível, enquanto Jesus estava oferecendo-lhes a si mesmo, o verdadeiro pão do céu, o pão da vida (João 6.32, 35). Quem acredita nele viverá para sempre (João 6:51). Nesta mesma linha de pensamento numa outra ocasião disse: “Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu os aliviarei. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim,porque sou manso e humilde de coração;e vocês acharão descanso para a sua alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30).
Mateus registra o último discurso principal de Jesus antes da traição, sofrimento e morte. Esse discurso chega à conclusão com Jesus falando sobre seu retorno em glória para sentar-se no seu trono glorioso para julgar. Como um pastor separa as ovelhas das cabras, assim Jesus separará aqueles que foram seus seguidores daqueles que não foram. Sobre suas ovelhas, seus seguidores, ele diz:
“Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: "Venham, benditos de meu Pai! Venham herdar o Reino que está preparado para vocês desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; eu era forasteiro, e vocês me hospedaram; eu estava nu, e vocês me vestiram; enfermo, e me visitaram; preso, e foram me ver" (Mateus 25:34-36)
A igreja cristã, formada como resultado do derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes, tinha como uma das suas marcas identificadoras a venda de suas propriedades e posses, a fim de dar a quem precisasse (Atos 2:45). O que Israel não fez quando ignorou a Lei do Jubileu (Levítico 25:8-55) a igreja fez pelo poder do Espírito. A cada cinquenta anos, Israel não tocava a trombeta em todos os lugares da terra para proclamar liberdade a todos (25:9-10). Os escravos não foram libertos. A terra que um israelita foi forçado a vender para pagar dívidas não foi resgatada e devolvida à família. As dívidas não foram canceladas e a terra não recebeu descanso. Em suma, os pobres não foram acudidos, mas explorados.
Isso mudou, porém, no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo foi derramado. Os apóstolos receberam a liberdade e poder para testemunhar sobre a ressurreição de Cristo (Atos 1:8). Aqueles que retornaram a Deus e foram batizados "perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. . . . Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum” (Atos 2:42, 44).
Com o acréscimo de mais de cinco mil homens (Atos 4:4) que se tornaram discípulos, alguns dos necessitados foram ignorados. A razão disso foi uma certa discriminação étnica, pois as ignoradas foram as viúvas que falavam a língua grega. Quando os judeus helenistas (de língua grega) se queixaram dos judeus hebraicos porque suas viúvas estavam sendo negligenciadas na distribuição diária de alimentos, os apóstolos não ignoraram a queixa. Os clamores dos fracos e marginalizados foram ouvidos. E eles nomearam diáconos, líderes com nomes gregos, para administrar a distribuição diária de alimentos. (Atos 6:1-6).
Dorcas, a quem Pedro ressuscitou da morte, “era notável pelas boas obras e esmolas que fazia (Atos 9:36). Fazer mantos e outras roupas foi apenas uma das maneiras pela qual ela ajudou as viúvas (Atos 9:39). O centurião Cornélio, que com toda a sua família (família e servos) era devoto e temia a Deus, deu generosamente aos necessitados e orou a Deus continuamente (Atos 10:2). Ao ouvir a mensagem de Pedro, ele e sua família receberam o derramamento do Espírito Santo e foram batizados (Atos 10:44-48), apesar de serem gentios.
O apóstolo Paulo se preocupou com a divisão na igreja de Corinto, manifestada pela exclusão dos pobres quando se reunia para a festa de amor, a celebração da ceia da comunhão em memória do Senhor Jesus. Ele escreveu: “Cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros. Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga” (1 Coríntios 11:21). Eles não estavam discernindo o “corpo do Senhor” e, em consequência, estavam comendo e bebendo “para sua própria condenação” (1 Coríntios 11:29). Os ricos agiram como uma elite em um banquete, tratando os outros como "servos" que estavam esperando a sua vez. Estes não foram tratados como irmãos e irmãs de uma família, compartilhando juntos como iguais, todos sendo pecadores redimidos pelo sangue de Jesus e participantes dos benefícios de sua oferta na cruz.
Paulo também dedicou dois capítulos da sua segunda carta à igreja de Corinto, exortando-os a contribuir liberalmente para a oferta levantada pelas igrejas gentias para os pobres entre os cristãos de Jerusalém" (2 Coríntios 8-9, Romanos 15:26, Atos 24:17). Quando surgiu a questão do batismo dos gentios sem que antes fossem primeiro circuncidados como judeus, o Sínodo em Jerusalém deu sua bênção sobre a prática. Ao relatar essa decisão aos gálatas, Paulo escreveu: “Somente recomendaram que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer” (Gálatas 2:10). Isso não foi relatado nos requisitos finais do Sínodo para as igrejas gentias (Atos 15:29), mas evidentemente foi comunicado aos delegados - Paulo, Barnabé, Judas e Silas – oralmente (Atos 15::7). Não foi escrito, mas Paulo se lembrou disso como uma das coisas mais importantes a se recomendar.
Quando Paulo partiu de Éfeso para ir para a Macedônia, ele insistiu que Timóteo ficasse ali (1 Timóteo 1.3) para continuar a ensinar e liderar em questões de culto, a seleção e nomeação de presbíteros e diáconos e muito mais. Ele deveria se dedicar “à leitura pública das Escrituras, à exortação, ao ensino” (1 Timóteo 4:3). Ele também deu instruções sobre quais viúvas eram dignas de apoio e o que deveria ser o ministério delas na igreja (1 Timóteo 5:3-16). Recursos para um ministério desse tipo tem que vir de algum lugar; então ele diz a Timóteo:
“Exorte os ricos deste mundo a que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para o nosso prazer. Que eles façam o bem, sejam ricos em boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; ajuntando para si mesmos um tesouro que é sólido fundamento para o futuro, a fim de tomarem posse da verdadeira vida” (1 Timóteo 6:17-19).
É interessante observar que os pobres estavam na mente de Paulo quando ele, pela última vez, instruiu os presbíteros de Éfeso em sua última viagem a Jerusalém. Paulo os lembra de como ele ministrou entre eles e como deixou um padrão a ser imitado. Ele terminou sua mensagem com estas palavras:
“De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem roupas; vocês mesmos sabem que estas minhas mãos serviram para o que era necessário a mim e aos que estavam comigo.Em tudo tenho mostrado a vocês que, trabalhando assim, é preciso socorrer os necessitados e lembrar das palavras do próprio Senhor Jesus: "Mais bem-aventurado é dar do que receber" (Atos 20:33-35).
Tiago, o irmão de Jesus escreveu - “Se um irmão ou uma irmã estiverem com falta de roupa e necessitando do alimento diário, e um de vocês lhes disser: ‘Vão em paz! Tratem de se aquecer e de se alimentar bem’, mas não lhes dão o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta” (Tiago 2:15-17). Ele estava ilustrando o princípio geral, “A religião pura e sem mácula para com o nosso Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se incontaminado do mundo” (Tiago 1:27).
O apóstolo João, em sua primeira carta, diz que se compreendermos o amor de Cristo que o levou a dar a sua vida por nós, estaremos prontos a dar a nossa vida por outros crentes.
“Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; portanto, também nós devemos dar a nossa vida pelos irmãos. Ora, se alguém possui recursos deste mundo e vê seu irmão passar necessidade, mas fecha o coração para essa pessoa, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem da boca para fora, mas de fato e de verdade” (1 João 3:16-18).
JESUS SE FEZ POBRE PARA QUE NOS TORNÁSSEMOS RICOS
Quando falamos sobre pobreza e riqueza, é proveitoso ver quem Jesus era em sua humanidade. Paulo escreveu: “Pois vocês conhecem a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que, por meio da pobreza dele, vocês se tornassem ricos” (2 Coríntios 8:9).
Deixar a glória de sua existência celestial para nascer como criança neste mundo foi um grande passo em sua humilhação no caminho para a cruz. Mas isto não foi tudo. Jesus nasceu em circunstâncias humildes. Não diz na Bíblia que José possuiu um burro no qual a mãe grávida de Jesus cavalgou de Nazaré a Belém. Quando eles chegaram em Belém, não havia lugar para eles, e por isso Maria deu à luz em um lugar onde os animais se abrigaram, e deitou seu primogênito em uma manjedoura (Lucas 2:7). Seus primeiros visitantes foram humildes pastores rústicos que ouviram falar de seu nascimento por um anjo que lhes apareceu à noite, junto com um coro do exército angelical celestial (Lucas 2:8-20). Quando chegou a hora de Maria passar pelo rito de purificação exigido pela lei, e José e Maria redimirem seu filho primogênito, eles apresentaram uma oferta de um par de pombas e dois pombos jovens (Lucas 2:24) porque eles não tinham o dinheiro para comprar um cordeiro sacrifical (Levítico 12:8).
Evidentemente, José e Maria estabeleceram residência em Belém, onde acharam uma casa, e José sustentou a família trabalhando como carpinteiro. Dentro de dois anos (Mateus 2::6), magos do Oriente os visitaram e lhes deram presentes de ouro, incenso e mirra. Mas estes donativos não os tornaram ricos; porque naquela mesma noite, José sendo avisado em um sonho, fugiu para o Egito para escapar da ameaça assassina do rei Herodes. Ali Jesus viveu como refugiado com sua família, entre outros da comunidade judaica.
Quando entrou no ministério, Jesus fazia parte de uma família composta por sua mãe, seus irmãos Tiago, José, Judas, Simão e duas ou mais irmãs (Marcos 6.3). José provavelmente tinha morrido antes. Maria era uma viúva, mas não desamparada, pois tinha filhos que podiam sustentá-la. Jesus era carpinteiro, tendo aprendido o ofício com seu pai. Seus irmãos podiam ter aprendido o mesmo ofício, embora não tenhamos como saber com certeza. Isso os colocou na categoria de trabalhadores por conta própria, não empregados ou arrendatários de um rico fazendeiro.
Durante seu ministério, Jesus e seus discípulos ficaram hospedados em casas de outros (Mateus 10:9-11) e foram sustentados por doações, algumas das quais vieram de mulheres ricas que os acompanharam (Lucas 8:1-3). Judas Iscariotes, atuando como tesoureiro, carregou a bolsa de dinheiro, comprou provisões para o grupo e distribuiu parte dos fundos aos pobres (João 13:29). Ele também roubou dela (João 12:6). As únicas posses de Jesus quando morreu foram as roupas com que se vestia (Mateus 27:35).
Ele nunca usou seu poder divino para adquirir riqueza, prestígio e poder para si ou para seus associados. Tendo visto a multiplicação dos pães e dos peixes, o povo queria fazê-lo rei, mas ele enviou seus discípulos em um barco para o outro lado do mar da Galileia, despediu a multidão e se retirou sozinho a um monte para orar (João 6.15, Marcos 6.45-46).
Quando Jesus novamente entrou em contato com o povo em Cafarnaum, explicou por que não ia multiplicar os pães sempre, todos os dias: Ele era o pão da vida (João 6.48). Se o maná era um sinal para o povo demonstrar fidelidade a Deus e seguir Moisés como seu líder designado, então agora através deste sinal Jesus estava apelando ao povo para segui-lo como Aquele a quem Deus havia enviado para dar-lhes vida eterna (João 6:35-40 e 53-58). Eles queriam que Jesus os servisse e providenciasse por suas necessidades, mas Jesus queria que eles o aceitassem como Senhor e Messias e o seguissem e servissem.
A vida de Jesus foi um grande contraste com os saduceus, especialmente os da classe sacerdotal, e com os fariseus e os intérpretes da lei, todos com cargos de autoridade, prestígio e poder. Eles desfrutaram da riqueza que veio com sua posição.
Jesus era um pobre plebeu e isso foi um escândalo para os com posição social e interesses. Por sua vez, ele viu todos com a perspectiva celestial. Na sua visão todos eram pobres, necessitados, desamparados, coxos, perdidos, estrangeiros, refugiados, miseráveis e pecadores. Ele disse a Nicodemos, o fariseu, um membro de renome do sinédrio, o conselho governante: “Se vocês não creem quando falo sobre coisas terrenas, como crerão se eu lhes falar sobre as celestiais?” (João 3:12). Nicodemos precisava nascer de novo. (João 3:3). Ele teve que receber o reino como uma criança (Marcos 10:15). As crianças viram e entenderam. Elas aceitaram sem reservas, sem medir as consequências, confiando implicitamente naquele que os liderava. Por outro lado, os escribas e fariseus eruditos eram “guias cegos” (Mateus 23:16), incapazes de discernir a verdade.
O homem nascido cego, provavelmente um mendigo, foi curado por Jesus. Ele aceitou e defendeu seu curador antes de vê-lo (João 9:31). Então, quando viu Jesus, creu nele (João 9:38). Para os fariseus que estavam observando, Jesus disse: "Se vocês fossem cegos, não teriam pecado algum. Mas, porque agora dizem: "Nós vemos", o pecado de vocês permanece” (João 9:41).
Da mesma forma, o homem rico não receberia o “tesouro no céu” a menos que vendesse tudo, desse aos pobres e seguisse a Jesus (Marcos 10:21). Se ele tivesse feito isso, teria recebido cem vezes mais no tempo presente - com perseguições - e na era futura, a vida eterna (Marcos 10:29-30). Ele, como tantos outros, foi deslumbrado pelo mundo - os desejos do homem pecador, a luxúria dos olhos e a vanglória do que ele tem e faz (1 João 2:16).
Esta não era a extensão total da pobreza de Jesus. Isso foi exposto por sua morte ignominiosa. Traído por um de seus discípulos e defendido pela espada de um pescador assustado, Jesus foi preso e levado a julgamento e morte. Até suas roupas foram divididas entre os soldados que o crucificaram. Mas Deus não abandonou seu filho no reino dos mortos, nem deixou seu filho fiel ver a corrupção (Salmo 16:10; Atos 2:27; Atos 13:35), mas o ressuscitou da sepultura e deu-lhe toda a autoridade no céu e na terra (Mateus 28:18). Paulo, em sua carta aos filipenses, nos diz que devemos ter a mesma atitude de Cristo Jesus:
“que, mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus algo que deveria ser retido a qualquer custo. Pelo contrário, ele se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos seres humanos. E, reconhecido em figura humana, ele se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Filipenses 2:6-11).
Agora, se foi assim que Deus ouviu a oração do Filho que ele ama, rejeitado e abandonado pelos homens, Deus também ouvirá nosso pedido de ajuda, considerando seu amor por nós (Efésios 2:4-6). Ele não nos abandonará à morte, mas nos ressuscitará na vinda de Cristo no último dia (1 Tessalonicenses 4:13-17 e 1 Coríntios 15).
A ÓRDEM DE JESUS PARA FAZER DISCÍPULOS
A ÓRDEM PARA DISCIPULAR OS POBRES
Não há uma ordem específica para fazer discípulos dos pobres. Eles estão incluídos no mandamento de Jesus de fazer discípulos de todas as nações, tribos e povos (Mateus 28:19). Acontece que o mundo tem mais gente comum e pobre do que elite privilegiada.
Através de seus milagres, Jesus mostrou que tinha o poder de livrar o mundo da maldição que veio sobre a humanidade através do pecado de Adão. Através de sua morte e ressurreição, ele recebeu o poder e a autoridade do Reino (Mateus 28:18). Esse reino está se expandindo pelo mundo através de suas testemunhas. Com seu retorno, no Dia do Juízo, ele derrotará o último inimigo, a morte inimiga; expulsará o maligno e vindicará seus santos e fiéis seguidores. Esses crentes - pobres, rejeitados, perseguidos e mortos por causa dele - serão justificados e reinarão com ele para sempre (Apocalipse 6: 9-11; 20: 11-22: 5).
Incluída nesta visão vasta do Reino de Cristo, está sua comissão de proclamar boas novas aos pobres, literalmente evangelizar ou levar o evangelho aos pobres. Todo ser humano é pobre e necessitado, morto em seus delitos e pecados e separado da comunidade de Deus. Mas, Cristo, através de seu sangue derramado pagou o preço do perdão para que, pela graça pura e simples, qualquer pessoa possa se aproximar de Deus pela fé em Cristo. Nesse nível, os ricos não têm vantagem sobre os pobres. Todos são pecadores e todos têm acesso a esta salvação pela graça através da fé. Em Efésios 2:-22 Paulo se esforça para mostrar que nem a sua descendência de Abraão e nem a obediência à lei de Moisés davam vantagem aos judeus sobre os crentes gentios. Por causa de Cristo, todos eles têm acesso igual à salvação e à comunhão com o povo de Deus. Estas são as boas novas que Cristo e sua igreja proclamam aos pobres.
Em sua parábola do grande banquete (Lucas 14:15-24), Jesus diz que um certo homem (Deus) preparou um grande banquete (salvação) e convidou muitos (Seu povo, os filhos de Abraão): “Venham, porque tudo já está preparado" (Lucas 14:17). O Salvador chegou, mas todos começaram a dar desculpas. Ao ouvir isso, o homem enviou o seu servo para ir rapidamente para as ruas e becos da cidade e trazer os pobres, os aleijados, os cegos e os mancos (Lucas 14.17, 21). Em outras palavras, aqueles desprezados e negligenciados são bem-vindos para compartilhar nas riquezas do banquete. Porque ainda havia lugar, o mestre disse ao servo: “Saia pelos caminhos e atalhos e obrigue todos a entrar, para que a minha casa fique cheia” (Lucas 14:23). Dessa maneira, Jesus estava abrindo a porta para a missão entre gentios e a sua inclusão no povo de Deus e nas riquezas da salvação.
O apóstolo Paulo descreve os seguidores de Cristo na igreja de Corinto:
“Irmãos, considerem a vocação de vocês. Não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento. Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. E Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são, a fim de que ninguém se glorie na presença de Deus” (1 Coríntios 1:26-29).
Até os escravos foram batizados e pertenciam à igreja com a expectativa de que vivessem vidas exemplares por amor de Cristo (Efésios 6:5-8; Colossenses 3:22-25; 1 Coríntios 7: 20-23; Tito 2: 9-10). Tiago escreve que o crente em circunstâncias humildes deve orgulhar-se na sua alta posição (Tiago 1:9) como alguém escolhido por Deus para tomar parte das riquezas da glória.
AS INSTRUÇÕES DE JESUS PARA FAZER DISCÍPULOS
Quando Jesus iniciou seu ministério, ele disse: “O tempo está cumprido, e o Reino de Deusestá próximo; arrependam-se e creiam no evangelho” (Marcos 1:15). Na região da Galileia “Jesus percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do Reino e curando todo tipo de doenças e enfermidades. Ao ver as multidões, Jesus se compadeceu delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor” (Mateus 9:35,36).
Nestas circunstâncias, Jesus disse aos discípulos: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, peçam ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Mateus 9:37,38; Lucas 10:2). Respondendo à sua própria oração, Jesus escolheu doze apóstolos (Mateus 10: 1-4) e os enviou (“apóstolo” significa “aquele que foi enviado”) para exercer o mesmo ministério que ele exerceu e ao mesmo povo, às “ovelhas perdidas de casa de Israel” (Mateus 10:6). Jesus ordenou-lhes:
“Pelo caminho, preguem que está próximo o Reino dos Céus. Curem enfermos, ressuscitem mortos, purifiquem leprosos, expulsem demônios. Vocês receberam de graça; portanto, deem de graça. Não levem ouro, nem prata, nem cobre em seus cintos; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bordão; porque o trabalhador é digno do seu alimento” (Mateus 10:7-10).
Em suma, Jesus estava dizendo a seus discípulos que seguissem seu exemplo, que fizessem o que ele fez. Jesus não levou dinheiro consigo, mas viveu com o apoio daqueles que receberam sua mensagem. Ele estava dizendo a seus discípulos para sair e fazer o mesmo.
Um pouco depois, Jesus designou setenta e dois outros “e os enviou de dois em dois, para que fossem adiante dele a cada cidade e lugar onde ele haveria de passar” (Lucas 10:1). Como Jesus achou todos esses voluntários? Podemos dizer que foram reconhecidos como seus seguidores. Certamente, alguns foram curados ou libertados da opressão demoníaca. Outros foram simplesmente chamados a segui-lo.
Esse princípio foi unido com o princípio de levar o evangelho ao ouvinte livremente, sem custo. O evangelista foi obrigado a dar, assim como ele já havia recebido gratuitamente. Em Filipos, o apóstolo Paulo e Silas receberam hospedagem e apoio de Lídia (At. 16:15) e de outros crentes. A igreja de Filipos continuou a prestar apoio mesmo após a expulsão dos evangelistas da cidade (Filipenses 4:14-18). Quando os recursos financeiros acabaram Paulo sustentou a si mesmo e a seus companheiros fazendo tendas juntamente com outros do mesmo ramo de atividade, Aquila e sua esposa Priscila. Ele não fez uso de seu direito de receber sustento como pregador do evangelho, mas forneceu sua pregação e liderança como um presente gratuito para os coríntios (1 Coríntios 9:18). Pago ou não, Paulo foi obrigado a pregar o evangelho (1 Coríntios 9:16). Ele havia recebido sua comissão de Cristo (Atos 26:16-18) e a cumpriria tendo apoio financeiro ou não.
Jesus, antes de tudo, deu de graça o que ele havia recebido. Ele tinha poder divino para curar e dar vida. Ninguém poderia forçá-lo a fazer isso por obrigação. Ele fez essas coisas com um coração de compaixão e amor. A única coisa que ele desejava era que as pessoas, a começar pelos líderes religiosos, o reconhecessem por quem ele realmente era: o Messias.
Pode parecer que Jesus estava desencorajando as pessoas a segui-lo. Ele os advertiu a calcular o preço: eles deveriam estar dispostos a entregar tudo para se tornarem discípulos (Lucas 14:33). Eles seriam rejeitados e perseguidos pelas autoridades religiosas e civis, mesmo pelo pai, mãe, esposa, filhos, irmãos e irmãs. Eles podiam até perder suas vidas. A organização Open Doors (Portas Abertas), em sua “World Watch List 2019” (Lista Mundial de Perseguição 2019), indica claramente que os especialmente vulneráveis à perseguição em países muçulmanos, hindus ou budistas, são os convertidos a Cristo. Até a própria vida deve ser relegada para o segundo plano, enquanto Cristo deve ter precedência (Lucas 14:26). "Você quer me seguir?" pergunta Jesus. Ele os lembrou de que ele :ão tenha um lugar que podia chamar de sua casa. “As raposas têm as suas tocas e as aves do céu têm os seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mateus 8:20).
O que aprendemos das instruções de Jesus?
Vá para onde as pessoas comuns moram, nas cidades e aldeias (Mateus 9.35). Numa época em que uma família podia cultivar um ou dois alqueires, as áreas rurais eram densamente povoadas e as aldeias ficavam uma curta distância uma da outras. Hoje, com a industrialização da agricultura, as áreas rurais estão sendo despovoadas. Os centros urbanos são onde as pessoas, principalmente pessoas comuns, agora vivem.
Ministre aos “aflitas e exaustas” (Mateus 9:36), como os trabalhadores urbanos de baixa renda que moram em bairros de casas populares ou favelas.
Proclame as boas novas, cure os enfermos e expulse demônios (Mateus 9:35; 10:1,7,8). Isso inclui o apelo para que as pessoas se arrependam. Este ensino não deve ser modificado, pois a natureza humana é a mesma e as aflições das pessoas são semelhantes.
Confie nos ouvintes por hospitalidade e apoio (Mateus 10:11), mas não use isso para obter ganhos pessoais (Mateus 10:8), como Simão, o mágico, de Samaria, que queria comprar o dom (poder milagroso) do Espírito Santo com dinheiro (Atos 8:20,21) e foi justamente condenado.
Aguarde rejeição e perseguição assim como Jesus foi rejeitado e perseguido (Mateus 10:16-25). Se você seguir Jesus, indo aos desamparados, pode ser rejeitado até por outros membros da igreja. Mas você, mesmo assim, não pode concordar com suas desculpas ou indiferença.
Não tenha medo. Seja destemido e corajoso. O Espírito Santo te ajudará a falar o que deve (Mateus 10:20). Tema a Cristo, não às pessoas. Nosso Pai celestial cuidará de você (Mateus 10:28-33).
AS BOAS NOVAS: O PONTO DE VISTA DO REINO DE DEUS
INTRODUÇÃO – POR QUE APRESENTAR JESUS COMO SENHOR?
Nós, cristãos evangélicos da América do Norte, vivemos à luz da Reforma. Damos ênfase ao amor e à graça de Deus diante do pecado e da desobediência. Nós pensamos que a população em geral acredita em um Criador amoroso, Deus, Legislador e Juiz. Por causa do nosso pecado temos um sentimento de culpa e medo de morrer. Temos um medo inquieto de um Juízo Final e de um sofrimento eterno no inferno. A boa notícia é que Deus deu seu Filho (João 3:16; Romanos 5:8) como oferta pelo pecado (Isaías 53:5-6; 2 Coríntios 5:21). Visto que Deus é reconciliado e sua ira totalmente satisfeita (2 Coríntios 5:19), ele nos oferece salvação, perdão e comunhão consigo. Isso é um dom gratuito recebido pela fé em Jesus (Efésios 2:1-10). Louvemos a Deus! Nossa culpa é removida e não há mais necessidade de temer a punição. Deus nos aceita como nós somos.
Nosso desejo é que as pessoas cheguem a orar, como é conhecida, a Oração do Pecador: “Senhor, confesso que sou um pecador e fiz o que está errado aos teus olhos. Por favor, perdoe-me. Eu creio que Jesus morreu na cruz e pagou o preço do meu pecado. Eu o aceito agora como meu Senhor e Salvador. Por favor, ajude-me a viver do teu agrado. Obrigado por tua maravilhosa salvação. Amém."
Baseado nesta oração, asseguramos ao ouvinte que ele é salvo e irá para o céu. Perguntamos: “Onde está Jesus?” Se a pessoa responder: “No céu”, nós responderemos: “Sim, é verdade; mas, também, hoje e para sempre, ele vive em seu coração.” Além disso, asseguramos-lhe que ele agora é irmão ou irmã na fé.
Depois, pedimos que a pessoa leia a Bíblia e ore todos os dias e se torne um participante regular dos cultos de uma igreja que segue a Bíblia. Geralmente, as pessoas ficam surpresas, pois não concordaram com isso quando oraram. Elas não concordaram em se tornarem discípulos e seguidores de Jesus. O que elas queriam era amor, aceitação e perdão. Nós não damos ênfase à necessidade de obedecer à vontade de Deus, porque temos um medo mortal de oferecer salvação baseada em nossas obras da lei. Temos aceito o ensinamento de Paulo em Gálatas que somos salvos à parte das obras da Lei, tanto que relegamos o fruto do Espírito (Gálatas 5:22-23; Romanos 12:1-2) a uma nota ao pé da página.
Certa vez, encontrei um jovem na rua cujo hálito cheirava a álcool. Pensei que ele pudesse estar vivendo com dúvidas e com um sentimento de fraqueza moral e de culpa. Por isso, lhe perguntei: “Você tem certeza de que, quando morrer, irá para o céu?” Qual foi sua resposta? “É, claro: todos vão para o céu.” Então, imediatamente, senti-me obrigado a informá-lo da verdade, das más notícias: Deus não nos aceita se continuarmos apegados à nossa vida de pecado. Aconteceu que foi assim que encerramos nossa conversa. Ele estava determinado a continuar seu modo de viver e também a justificar-se pensando: “Que direito tem esse velho homem para me dizer que tenho que mudar de vida? Esse velho representa um estilo de vida antiquado de um segmento da elite da sociedade. Não tem relevância para mim.”
Eu cheguei à conclusão: “Estamos dando a segurança da salvação baseada na recitação da oração do pecador? Esta é a mensagem que a igreja tem dado à nossa geração? É isso que os pregadores da televisão estão oferecendo? É assim que nós, crentes, comunicamos as boas novas às pessoas ao nosso redor?” Esta não é nossa intenção, mas parece que é isso que o mundo está ouvindo.
Um amigo me perguntou: “Como você apresenta o evangelho em um mundo que perdeu o senso de culpa, mas está sensível à vergonha?” Eu acredito que ele estava se referindo ao fato de que vivemos numa sociedade onde cada pessoa acredita que têm o direito de determinar o que é certo para si. Num mundo de redes sociais (YouTube, Facebook, WhatsApp, Twitter, Instagram, Tik Tok, etc.) os jovens ficam envergonhados ou prejudicados por não participarem do "momento", por não estarem no "grupo".
A igreja não está imune a isso. Apesar de conhecer as verdades da Bíblia, nós nos apresentamos de uma determinada maneira para agradar a opinão pública. Adotando o ponto de vista da cultura reinante, nos sentimos envergonhados pelos ensinamentos Bíblicos sobre a lei de Deus e o juizo vindouro.
As mulheres se levantaram para desmascarar a impropriedade sexual de homens poderosos, que agora são desgraçados publicamente. Em consequência desse movimento os educadores agora estão perguntando: “Como ensinamos 'sexo consensual' a adolescentes no ginásio?” Há muito tempo o mundo rejeitou a lei de Deus, ensinada na Bíblia, que as relações sexuais fora da aliança do casamento são pecado e esse adultério inclui luxúria, lascívia e concupiscência (Mateus 5:28). Numa sociedade pluralista esta linguagem é excluída da praça pública e do ensino nas escolas públicas. Agora, a cultura está dizendo, ”Cuidado para não ferir os sentimentos morais de outra pessoa, quaisquer que sejam esses sentimentos no momento”. Tomara que não estejamos envergonhados dos ensinamentos imutáveis cuja origem é divina, não humana.
Refletindo sobre essas coisas, comecei a perceber que não estávamos dando ao arrependimento a importância que a Bíblia lhe dá. Jesus iniciou seu ministério com estas palavras: “O Reino de Deus está próximo“ (Marcos 1:15). O juízo está próximo “Arrependam-se e creiam no evangelho” (Marcos 1.15). No dia de Pentecostes, Pedro acusou sua audiência de matar aquele que Deus tinha demonstrado ser o Senhor e o Messias, ressuscitando-o dentre os mortos (Atos 2:36). Então Pedro os chamou a se arrependerem e serem batizados (Atos 2:38). Paulo, em um mundo gentio, chamou os idólatras de Atenas a se arrependerem porque “Deus estabeleceu um dia em que julgará o mundo com justiça, por meio de um homem que escolheu” (Atos 17:31).
Arrependimento significa uma mudança de mente e coração. Uma tradução em inglês traduz a palavra grega metanoia com a frase: "abandonar o pecado e virar-se para Deus". Mas, fundamentalmente, é deixar de servir a deuses falsos (inclusive a si mesmo) para servir ao Deus vivo e verdadeiro. Então, com isso em mente, cheguei à conclusão de que deveríamos explicar o evangelho de uma maneira que apresentássemos Jesus antes de tudo. Foi aqui que os apóstolos começaram. Os Evangelhos que temos, creio, foram a primeira apresentação evangelística de Cristo ao mundo, conclamando o povo para deixar a idolatria e servir ao Deus verdadeiro, tornando-se discípulos daquele que Deus enviou para ser o sacrifício expiatório pelos pecados e ao mesmo tempo Senhor de todos. No Último Dia, o dia do Juízo, a ele todos prestarão conta. Essa justiça foi revelada na cruz e na ressurreição, para que algumas pessoas a vissem; mas no Último Dia será revelada a todos os homens, queiram ou não queiram.
Usando a apresentação tradicional do evangelho, é possível deixar intacta a idolatria de nosso ouvinte. Deixe-me ilustrar. Os professores das escolas públicas e a
mídia desafiam os jovens: “Seja a melhor versão de si mesmo”. Assim, o adolescente sai da escola, entra no mundo profissional e, eventualmente, falha em alcançar seu sonho. Com esse sentimento de fracasso, ele ouve um cristão dizer: “Reconheça seu pecado. Jesus morreu para receber a punição do seu pecado. Aceite-o como seu Salvador e Senhor. Confesse seu pecado e professe sua fé em Cristo em oração”. Nosso ouvinte segue nossa liderança. Ele está liberto para seguir seu sonho sem a escravidão da culpa e da vergonha. Ele se sente livre para deixar o passado e se esforçar para superar os desafios futuros.
Pense em uma situação em que alguém tentava abrir uma empresa de comércio, mas estava falhando. Ele era teimoso, orgulhoso, não disposto a seguir conselhos, egoísta, pródigo com finanças, etc. Ele estava perdendo a família por excesso de trabalho e negligência. Ele reconheceu suas falhas e aceitou a Jesus. Ele confiou em Deus para o sucesso e começou a dedicar mais tempo à família. Então, sua empresa avançou com sucesso. Ele pensou: “Jesus está me ajudando a realizar meu sonho. Louve a Deus!".
O problema é que o sonho dele é um produto do seu próprio deus - o deus da autodeterminação. “Eu mesmo sou livre para determinar meu destino da maneira que desejo”. Com essa mentalidade, nosso ouvinte está realmente usando Deus como um servo para realizar seus próprios desígnios pessoais. Ele não renunciou ao deus “AUTO”, de SI MESMO. Não se rendeu ao Deus verdadeiro. Ele não está permitindo que o verdadeiro Deus mostre a ele qual é a sua vontade, conforme a revelação na Bíblia.
Nós que afirmamos sermos seguidores de Cristo, precisamos examinar a nós mesmos para ver se estamos apegados a algum deus falso, feito por nós mesmos. Então, somos chamados por Cristo para ajudar nosso ouvinte a identificar seu deus criado por ele mesmo, e não confundir isso com o conhecimento do verdadeiro Deus Criador. O problema não é tanto uma falha em relação a pecados específicos, mas uma falha em render-se ao verdadeiro Deus que é Legislador e Juiz, aquele que se revelou como Salvador e Senhor por meio de seu Filho Jesus Cristo.
O desafio de Jesus é: “Se alguém quer vir após mim [ser meu discípulo], negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; e quem perder a vida por minha causa e por causa do evangelho, esse a salvará” (Marcos 8:34,35). Esta é a renúncia dos deuses da autodeterminação, da posição, poder e riqueza (Marcos 10:21-23), de família (Marcos 10:28-30; Lucas 9:59-62), ou da tradição (Marcos 7:6-13). Sem a renúncia do “eu” e a rendição da nossa vida a Jesus, somos filhos de nosso pai, o diabo, o mentiroso e assassino desde o início (João 8:42-45). Essa é uma linguagem dura para todos os que são iludidos por sua própria vontade e por sua própria determinação.
Portanto, considerando essas coisas, queremos voltar a apresentar Jesus como ele mesmo se apresentou: como o cumprimento das boas novas prometidas por Deus através dos profetas. Somos levados ao esboço básico do evangelho, às boas novas, como foi registrado em Marcos quando citou as palavras de Jesus no início do seu ministério: “O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo; arrependam-se e creiam no evangelhol” (Marcos 1:15).
ESBOÇO – MINI APRESENTAÇÃO DO EVANGELHO
Esta seção apresenta o esboço de uma apresentação do evangelho. Essa mini apresentação pode ser usada para conversar com pessoas. Sejam elas amigos, colegas de trabalho ou até mesmo estranhos. Ela introduz Jesus Cristo de maneira positiva e resumida. Também leva as pessoas a pensarem nas implicações de se tornar um seguidor de Jesus. Ao fim, você pergunta se a pessoa aceitará um convite para ir à igreja ou permitirá que você faça uma visita para uma explicação mais detalhada e para esclarecer dúvidas.
O que se segue é um mini esboço da apresentação do evangelho: Jesus iniciou o seu ministério desta maneira: “O Reino de Deus está próximo; arrependam-se e creiam no evangelho (Marcos 1:15).
1. Você gostaria de ir para o céu, certo?
Palavra “céu” é o que a maioria das pessoas entende como uma existência após a morte, cheia de paz e felicidade, sem nada de ruim. Eu acredito que as pessoas querem uma existência eterna melhor do que elas têm agora.
2. Você sabia que Jesus trouxe o céu para a terra? Ele nos mostrou como será o céu. )
Aqui “céu” é sinônimo de “Reino dos céus”. Jesus disse: “O reino de Deus está próximo” (Marcos 1.15). Jesus é a personificação de como é o reino perfeito de Deus. A esperança cristã, de acordo com o ensino bíblico, é uma nova criação (2 Pedro 3:13; Revelação 21:1,3-4). No retorno de Cristo, todos serão julgados (Mateus 25:31-33; 2 Coríntios 5:10). Todos aqueles que pertencem a Cristo desfrutarão de corpos ressuscitados como o corpo dele (Filipenses 3:20-21) e viverão em uma criação que demonstra a natureza da ressurreição (Romanos 8:18-21).
(Aguarde uma resposta e explique brevemente o seguinte)
- Veja seus milagres: No céu não haverá doença, fome, cegueira, tempestade, morte, etc.
- Veja o ensino dele: No céu todos amarão a Deus. Ninguém se rebela contra Deus no céu. E no céu todos amarão ao próximo como a si mesmo. Todos viverão em paz, sem ódio, inveja, traição ou malícia.
- Olhe para Jesus crucificado, ressuscitado dentre os mortos, elevado ao céu. Todos gozarão a vida eterna e abundante.
3. Você se tornará como o deus a quem serve (Salmo 115:8). Ídolos (estátuas) têm bocas que não falam, olhos que não vêm, ouvidos que não ouvem, narizes que não cheiram, mãos que não conseguem sentir, pés que não andam. As pessoas que os fazem e confiam neles serão como eles. O destino deles é o lixo.
Quando servimos aos nossos próprios interesses, somos como imagens feito de metal, madeira ou gesso: não vemos Deus, não o ouvimos, não o vemos, não o procuramos, não corremos para fazer sua vontade. Como imagens, estamos mortos em relação a Deus.
Todos os deuses criados por nós mesmos (paixão, luxúria, dinheiro, poder, fama, família, etc.) morrem quando nós morremos. Eles não podem nos dar vida eterna.
4. Se seguirmos a Jesus, nós nos tornamos como ele.
Nós o obedeceremos. Obedecemos a Deus como ele fez.
Buscamos a pureza, como ele foi puro.
Falamos a verdade como ele falou.
Perdoaremos aos outros como ele perdoou.
Ajudamos os outros, incluindo os fracos, como ele os ajudou.
E compartilharemos o seu destino: como ele seremos ressuscitados dentre os mortos.
5. Há uma negativa de seguir Jesus. Jesus trouxe o céu à terra, mas o que o mundo fez a Jesus? (aguarde uma resposta). O mundo o odiava e o matou. O mundo foi capaz de destruí-lo? (aguarde uma resposta). Não. Não foi possível porque Jesus ressuscitou dentre mortos no terceiro dia, o dia que celebramos como domingo, o Dia do Senhor.
Se você seguir Jesus, enfrentará todo tipo de obstáculos. As pessoas vão ridicularizar, rejeitar você. Eles podem expulsá-lo da família. As pessoas não querem que você mude. Mas não se preocupe. Mesmo que alguém o mate, você será ressuscitado como Jesus. Você tem vida eterna e ninguém pode tocar nisso.
6. O que Jesus quer que façamos? Arrependa-se (Marcos 1:15).
Identifique a coisa terrena que você serve. Faça estas perguntas:
- Você aceita a lei de Deus ou, você escolhe aquilo de que mais gosta?
- Você ora: “Eu me rendo a ti. Ajude-me a fazer o que Tu queres que eu faça?” Ou você ora:“Deus, por favor, me dê isso. Eu preciso tanto disso”?
- O que você acha que vai te fazer feliz? Isto pode ser o seu deus.
- Com o que você se preocupa? Isto pode ser o seu deus.
- O que você precisa para se sentir seguro? Isto pode ser o seu deus.
- Você evita a luz de Deus? Você continua na escuridão se não quiser ler ou ouvir a Bíblia. Se não entende o que lê. Se entende, mas não quer obedecer os mandamentos de Deus.
Uma vez que identificar o que é mais importante na sa vida, aquilo que pode ser “o seu deus estranho”, confesse essa coisa e o domínio que ela tem sobre você. Então a renuncie. Peça a Cristo para que lhe perdoe e liberte.
Arrepender-se significa: Voltar-se para Deus. Reconheça que Deus é luz. Nele não há trevas (1 João 1:5). Jesus é a luz do mundo (João 8:12). Quem o segue, terá a luz da vida. Quem entra na luz vê o seu pecado e o confessa (1 João 1: 8).
Você está perdoado porque tem um advogado, Jesus Cristo, que é o sacrifício da expiação pelos seus pecados e pelos pecados do mundo (1 João 2:1-2)
Acredite nas boas novas: (Marcos 1:15; Atos 2:38-43). Romanos 10:9 afirma: “Se com a boca você confessar Jesus como Senhor e em seu coração crer que Deus o ressuscitou dentre os mortos, você será salvo” (Romanos 10:9). Diga a outros que você pertence a Jesus. Seja batizado, que é professandolealdade a Cristo), reúna-se a outros que seguem a Jesus.
A vida cristã é o começo do céu. Estávamos mortos em nossos pecados, mas agora Deus nos levantou com Cristo e nos assentou com ele nos lugares celestiais (Efésios 2: 1,6).
Os pontos 6 e 7 exigem algum tempo. Nem sempre é fácil para nós, nem para outros, identificar a escravidão, o mal, ou a coisa mundana que nos controla. Provavelmente haverá resistência em reunir-se com irmãos da igreja onde possamos confessar nossos pecados, receber a garantia de perdão e orar um pelo outro. É nesta comunidade que somos motivados a confiar em Deus e produzir boas ações e amar aos outros como fomos amados por Deus.
EPOSIÇÃO DO ESBOÇO
Esta é uma versão ampliada da apresentação do evangelho, as boas novas de Jesus.
É muito longo para falar com alguém em uma sessão. Destina-se a informar a mente do cristão que está compartilhando com uma pessoa interessada em se tornar um seguidor de Cristo. Ao passar tempo com uma pessoa, você pode discernir que pontos do ensino são mais relevantes às circunstancias do indivíduo.
INDICADORES DE INTERESSE
Logo após apresentar Cristo de uma maneira sucinta e resumida, e depois de ter observado um interesse inicial em seguir a Cristo, convém incentivar a ler um dos Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas ou João) por si mesmos. Estes foram os apóstolos e irmãos que apresentaram Jesus à sua audiência no primeiro século. Escrevi um estudo bíblico auto didático sobre o Evangelho de Lucas, destinado a acompanhar a leitura do mesmo, versículo por versículo, do capítulo um ao capítulo vinte e quatro. Os Atos dos Apóstolos, juntamente com a leitura de uma das epístolas de Paulo, como Efésios, são uma boa introdução à nova vida que é vivida na igreja, a família de Deus, que vive a vida celestial neste mundo. Também preparei estudos auto didáticos para ajudar na leitura desses livros.
Um dos melhores indicadores de que Deus está trabalhando na vida de uma pessoa é que ela está lendo as escrituras para encontrar orientação para sua vida. Isso não é facilmente acompanhado. No entanto, quando alguém tem uma Bíblia e um livreto de um estudo auto didático, você pode perguntar: “Como você está indo com a leitura? Tem alguma pergunta?” Quando uma pessoa conclui a leitura de Lucas, por exemplo, e entrega o estudo com as perguntas respondidas, você pode verificar se há erros nas respostas. Isso ajuda você a entender se ela esta está compreendendo ou não. Frequentemente, uma pessoa responde a uma pergunta, não pelo que lê, mas pelo que ela mesma pensa. Erros são uma oportunidade de estudar mais profundamente essa parte das Escrituras, a fim de esclarecer seu significado. É também uma oportunidade de motivar o leitor a não desistir. Estamos todos em uma jornada de entendimento e obediência. Nós nunca devemos desistir.
Esses estudos (cursos) auto didáticos estão publicados em outra parte do site, https://pobresfelizes.blessedpoor.net. Eles estão disponíveis a todos, que podem utilizá-los enquanto está discipulando a outros.
Outro indicador de que o Espírito de Deus está operando na vida de uma pessoa é a frequência dominical ao culto e a criação de laços de amizade com outros irmãos da igreja. Embora tenhamos apresentado a pessoa a Cristo, devemos também apresentá-la a outros membros da igreja, que é o Corpo de Cristo. Não devo pensar que sou o único responsável por suprir tudo o que uma pessoa necessita de Cristo. Cristo forneceu muitos dons e talentos na família para ajudar todos nós a amadurecermos. Veja Efésios 4:10-16 e 1 Coríntios 12. Eu em mim não tenho todo a plenitude da graça de Deus. Outros têm dons que faltam em mim e que estão disponíveis para auxiliar a pessoa que estou guiando para Cristo.
Tendo dito isso, continuamos com uma explicação mais detalhada da apresentação do evangelho. A primeira seção principal é: Tornamo-nos como o deus auto criado (ídolo) que servimos, que nos conduz à morte; ou nós nos tornamos como Cristo, a quem seguimos e compartilhamos na vida eterna.
Assim, com estas palavras, apresentamos a primeira seção da apresentação do evangelho: Tornamo-nos como o deus que nós mesmos fazemos (ídolo) e que servimos, que é a morte; ou nós nos tornamos como Cristo, a quem seguimos, com o resultado que participamos na sua vida, a vida eterna.
a. Gostaria de ir para o céu?
Podemos iniciar nossa conversa com a pergunta: "Você gostaria de ir para o céu quando morrer?" Até agora não encontrei alguém que não queira ir para o céu, para viver em felicidade eterna. Todos desejam um estado de existência sem sofrimento, morte, separação, injustiça, ou violência. Eles querem paz, prosperidade, segurança e amizade. As pessoas anseiam por amor, justiça, respeito, cura e senso de valor. Eclesiastes 3:11 diz, “Deus fez tudo formoso no seu devido tempo. Também pôs a eternidade no coração do ser humano, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até o fim”. Uma parte essencial do ser humano é conhecer a Deus e discernir os seus propósitos; e, queremos estar com ele para sempre. Paulo dirigiu a mente dos filósofos pagãos em Atenas, ao Criador de tudo, que “a todos dá vida, respiração e tudo mais” (Atos 17:25). Ele continuou explicando o propósito disto: “para buscarem Deus se, porventura, tateando, o possam achar, ainda que não esteja longe de cada um de nós;
pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17:27,28).. Criados à sua imagem e semelhança (Gênesis 1:27), desejamos sua aceitação e a vida com ele para sempre.
b. Você sabia que Jesus trouxe o céu para a terra?
Em seguida, podemos perguntar: “Você sabia que Jesus trouxe o céu para a terra?” A maioria das pessoas não pensam em Jesus dessa maneira. Porém, com alguma reflexão, alguns reconhecem que Jesus estava pintando uma paisagem do céu. Por expulsar espíritos imundos das pessoas endemoniadas, Jesus estava mostrando que no céu não há espaço para o diabo. Apesar de ser tentado pelo diabo no deserto (Mateus 4:1-11), Jesus resistiu a tentação cintando em defesa a palavra de Deus. E mais, ele não tentou a ninguém. Semelhantemente, no céu não há tentação. Jesus curou os enfermos, deu vista aos cegos, sarou leprosos e até ressuscitou os mortos. Jesus perdoou pecados (Marcos 2:1-7; João 8:11), libertando-nos assim da culpa, vergonha e condenação. Com a multiplicação dos pães e dos peixes e assim alimentando uma grande multidão de gente, Jesus mostrou que ele satisfaz nossas necessidades e anseios básicos. Ele também acalmou um mar agitado, ordenando que cessassem os ventos, a força do vendaval, dando segurança aos discípulos em tempo de perigo. No reino dos céus não há distúrbios das forças de natureza. Não há fome, sede ou perigo.
Ao reafirmar a lei do amor de Deus (Marcos 12:29-31, citando Dt 6:4-5:7 e Levíticos 19.18), Jesus está nos dizendo que no céu Deus governa. Ele alcança tudo o que ele quer, dominando tudo e todos que abrem mão da sua própria vontade. No céu, as pessoas amam a Deus e amam todos os filhos dele - paz com Deus e paz entre a humanidade. No reino dos céus ninguém consegue se esconder de Deus. Agora, neste mundo nós tentamos esconder o nosso pecado e vergonha, mas no céu a vida de cada pessoa é um livro aberto. Porque amamos a Deus, queremos que ele esteja perto. Estamos louvando-o sempre (Apocalipse 4 e 5). Além disso, a nova criação está cheia de pessoas de todas as nações, tribos, pessoas e idiomas (Apocalipse 7:9). Pessoas não odeiam, enganam, mentem e defraudam os outros. Ninguém precisa se proteger com armas, muros e portões (Apocalipse 21:5). Os laços familiares não nos separam dos outros, pois seremos como os anjos (Mateus 22:30). Distinções que têm significado para a vida social neste mundo e que separam as pessoas perderão sua relevância no reino. Paulo escreve: " Não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vocês são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28). Tendo uma visão clara da vida da nova criação, nós procuramos não deixar essas distinções nos separar enquanto vivemos neste mundo.
Além disso, manifestações celestes indicavam que Jesus veio do céu. Enquanto o menino Jesus estava deitado na manjedoura, a glória do Senhor se mostrou ao redor dos pastores no campo. Ali um anjo disse: “Não tenham medo! Estou aqui para lhes trazer boa-nova de grande alegria, que será para todo o povo: é que hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lucas 2:10-11). No batismo, Jesus ouviu a voz de seu Pai do céu: “Você é o meu Filho amado; em você me agrado” (Marcos 1:11). João Batista viu a pomba descer sobre Jesus e também ouviu a voz: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado” (Mateus 3:17). Na montanha da transfiguração as roupas de Jesus se tornaram brancas, deslumbrantes e uma nuvem apareceu e o envolveu e uma voz disse: “Este é o meu Filho amado; escutem o que ele diz!” (Marcos 9:7).
Para cumprir as Escrituras, Jesus morreu na cruz como oferta pelo pecado, um sacrifício de expiação pelos pecados do mundo. Isaías escreveu: “Ele foi traspassado por causa das nossas transgressões e esmagado por causa das nossas iniquidades” (Isaías 53:5). Deus deu “a sua alma como oferta pelo pecado” (Isaías 53:10).
Finalmente, Deus ressuscitou Jesus da morte e da sepultura. Um anjo com aparência de relâmpago veio às mulheres que haviam ido ao túmulo para ungir seu corpo, e lhes disse: “Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Venham ver onde ele jazia” (Mateus 28:6). Com seu corpo ressuscitado, poderoso, e espiritual, Jesus não estava mais sujeito à maldição do pecado, ao sofrimento e à morte. Jesus poderia aparecer e desaparecer e até comer na presença de seus discípulos (Lucas 24:42,43). O apóstolo Paulo declara que na eternidade, na nova criação, nós teremos corpos semelhantes ao corpo ressuscitado de Jesus. “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas” (Filipenses 3:20,21).
Então, agora sabemos como Jesus trouxe o céu à terra. Foi isso que ele quis dizer quando disse: “O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo” (Marcos 1:15).
TORNAMO-NOS COMO O DEUS A QUEM SERVIMOS
a. Tornamo-nos como o deus a quem servimos: deuses de nossa própria criação.
Quando nos tornamos seguidores de Jesus, nós nos transformamos à semelhança dele e compartilhamos de seu destino. Quando servimos a ídolos, nós nos tornamos como eles. No Salmo 115:3-8, lemos que ídolos têm olhos, mas não vêem, bocas, mas não falam, narizes, mas não cheiram, mãos mas não podem sentir e pés mas não conseguem andar. Então o Salmo diz: "Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e todos os que neles confiam” (Salmos 115:8). Algum dia, ídolos feitos por seres humanos acabarão em uma pilha de poeira.
Que são os ídolos da nossa sociedade moderna? Personalidades da TV, cantores com shows e álbuns de música tem muitos seguidores que cantam suas músicas e imitam seu modo de se vestir. E quantos deles morreram por suicídio ou por overdose de drogas. Mesmo assim, milhões seguem suas músicas e os imitam. Eles podiam cantar no palco e receber os aplausos da multidão, mas não podiam viver consigo mesmo e descansar aos cuidados de Deus. Veja o Salmo 73 sobre o destino dos que exaltam a si mesmo e confiam nas suas riquezas. Os aplausos do mundo em nada influenciam o juízo de Deus. O seu destino é a ruína. De repente são destruídos (Salmo 73:18-19). Asafe, autor do Salmo 73, clama a Deus. Apesar de um certo desejo pela segurança e poder do dinheiro, ele grita: “No entanto, estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita. Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória” (Salmos 73:23, 24).
Qual é o destino daqueles que têm no lucro e o acúmulo de dinheiro o alvo da sua vida? Jesus disse: "Vocês não podem servir a Deus e às riquezas (Mateus 6:24). Seu coração estará com um ou outro, não com os dois. Para alguém que estava em uma discussão contenciosa com seu irmão sobre como dividir uma herança, Jesus respondeu: “Quem me nomeou juiz ou repartidor entre vocês?” (Lucas 12:14). Então ele disse: “Tenham cuidado e não se deixem dominar por qualquer tipo de avareza” (Lucas 12:15). Em seguida contou a história de um homem que havia ganho muito dinheiro e que disse a si mesmo: “Você tem em depósito muitos bens para muitos anos; descanse, coma, beba e aproveite a vida" (Lucas 12:19). Para esse tipo de pessoas Jesus disse: “Louco! Esta noite lhe pedirão a sua alma; e o que você tem preparado, para quem será?" (Lucas 12:20).
O Salmo 49 diz que a riqueza não pode resgatar a vida de alguém (49:7). Os homens levam nada consigo quando morrem (49:17). Os que confiam nas riquezas são "como os animais, que perecem” (Salmos 49:12). Mas Deus redimirá do reino dos mortos aqueles que confiam nele e os levará para si (49:15).
Os ídolos não têm vida em si mesmos. Aqueles que seguem deuses de sua própria criação, como fama ou riqueza, têm olhos, mas não vêem; têm ouvidos, mas não entendem o ensino dele; têm pés, mas não fazem esforço algum para obedecerem ao chamado de Cristo. (Mateus 13:11-16; 2 Coríntios 2:6-16). A morte caracteriza aqueles que seguem “o curso deste mundo, . . .o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (Efésios 2:2). Os ídolos não têm vida em si mesmos. Os que os fazem e os adoram são mortos para tudo o que é de Deus. Não ouvem, nem obedecem a sua palavra.
b. Tornamo-nos como o Deus que servimos: Jesus
Quando Jesus chamou seus primeiros discípulos, disse: “Venham comigo, e eu farei com que sejam pescadores de gente” (Marcos 1:17). O que quer dizer, “Pescar por pessoas?” Jesus percorreu todas as cidades e vilas, ensinando em suas sinagogas, proclamando as boas novas do reino e curando todas as doenças e enfermidades. Quando viu as multidões, teve compaixão delas porque eram como ovelhas sem pastor (Mateus 9:35-36). Esse é Jesus pescando pessoas.
Aqueles que seguem a Jesus aprenderão com ele e pescarão as pessoas exatamente como ele. Ele disse: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Mateus 9:37). Assim, ele deu a seus 12 apóstolos a autoridade para fazer exatamente o que estava fazendo - expulsar espíritos impuros e curar todas as doenças e enfermidades (Mateus 10:1), e eles saíram proclamando que o reino de Deus estava próximo (Mateus 10:7).
Durante seu ministério, Jesus disse: “Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu os aliviarei. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim,porque sou manso e humilde de coração;e vocês acharão descanso para a sua alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30). Estou em dívida com meu amigo Carl Bosma, colega dos dias missionários do Brasil que me deu a visão que aprendeu de um fazendeiro em sua congregação. “O boi domado é o experiente, firme, forte e obediente. O fazendeiro coloca um boi mais jovem e inexperiente ao lado dele. Ambos estão sob o mesmo jugo, mas o boi domado está ao lado do inexperiente, liderando, ensinando, assegurando e firmando”. Jesus é como o boi domado, manso, humilde, unido conosco. Ele está ensinando e nos ajudando a obedecer aos mandamentos do Pai.
Quando seguimos Jesus, não apenas nos tornamos como ele, mas também compartilhamos o seu destino. Para Marta, Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E todo o que vive e crê em mim não morrerá eternamente” (João 11:25,26).:E então ressuscitou Lázaro da morte. Então o próprio Jesus ressuscitou dos mortos. Tudo isso prova que ele tem o poder de fazer o que prometeu. Ele está vivo e voltará. No último dia, os que estão nos túmulos ouvirão sua voz e sairão (João 5:28). João, em sua 1ª Epístola (3.2), escreve: “Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”.
Além disso, seguindo Jesus, seremos tratados pelo mundo da mesma maneira que o mundo o tratou. Jesus, o Homem do céu, trouxe o céu à terra, mas o mundo trata o céu como se fosse um inimigo alienígena. João escreve, “O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (João 1:10,11). No Cenáculo, um dia antes de ser crucificado, Jesus advertiu seus discípulos:
“Se o mundo odeia vocês,saibam que, antes de odiar vocês, odiou a mim.
Se vocês fossem do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas vocês não são do mundo — pelo contrário, eu dele os escolhi — e, por isso, o mundo odeia vocês. Lembrem-se da palavra que eu disse a vocês: "O servo não é maior do que seu senhor." Se perseguiram a mim, também perseguirão vocês; se guardaram a minha palavra, também guardarão a de vocês” (João 15:18-20).
Sofreremos rejeição do mundo, mesmo por aqueles que consideramos mais próximos de nós, como família e amigos (Mateus 10:21-22, 34-39). Esse é o custo, aqui e agora, de seguir Jesus (Lucas 14:25-33).
Mesmo se sofrermos como consequência de seguir Cristo, não devemos nos preocupar. O mundo matou Jesus, mas não conseguiu detê-lo. Deus o ressuscitou da morte. Louvado seja Deus, Jesus vive para sempre e foi recebido de volta ao céu, onde reina em glória. Mesmo se nos tornarmos mártires da fé, nós, juntamente com Cristo,
reinaremos com Ele e compartilharemos sua glória. A vida eterna que recebemos pela fé (João 3:16) não pode ser extinta pela morte (Romanos 8:31-39).
O que fazemos para começar a experimentar o céu, o reino de Deus, já nesta vida? Nós nos arrependemos de nossa idolatria e acreditamos em Jesus confiando e obedecendo a ele. Isso será explicado nas próximas seções: arrependimento, graça e fé.
ARREPENDIMENTO DE SEGUIR FALSOS DEUSES
Na primeira seção sobre “Você sabia que Jesus trouxe o céu para a terra” explicamos até certo ponto o que significa, “o reino de Deus está próximo”. Com Jesus, o reino se manifestou de uma maneira diferente. Através de seus milagres, Jesus mostrou o poder de Deus; através de seus ensinamentos, ensinou como é o viver no reino. Em seu corpo humano, Jesus trouxe o céu à terra. Quando começou seu ministério, Jesus estava dizendo: “Observe-me. Ouça os meus ensinamentos. Escute-me. Estou lhe dizendo quem eu sou. Dê-me a honra que eu mereço.” A resposta correta não é exigir mais milagres, mais comida, mais demonstrações de poder e mais curas. A resposta correta não é reunir-se para se revoltar contra os ocupantes romanos do território israelita. A resposta correta é: “Arrependam-se e creiam no evangelho” (Marcos 1:15).
Começando com o capítulo 8:9 Mateus apresenta três conjuntos de milagres, cada conjunto seguido por um chamado ao discipulado. O primeiro conjunto relata a purificação do leproso, a cura do servo do centurião e a cura da sogra de Pedro e conclui com o chamado de Jesus: “Siga-me e deixe que os mortos sepultem os seus mortos” (Mateus 8:22).
O segundo conjunto de milagres inclui o acalmamento da tempestade, a expulsão de muitos demônios de dois homens endemoninhados, e a cura de um paralítico que foi baixado pelo telhado (Marcos 2:4). Então Mateus relata as palavras de Jesus a Mateus quando este se sentava na coletoria de impostos: “Siga-me” (Mateus 9:9).
O terceiro conjunto de três milagres inclui a cura da mulher com fluxo de sangue e a ressurreição da filha do líder da sinagoga, a cura de dois cegos e a restauração da fala de um homem endemoninhado. Então Jesus disse aos seus discípulos: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, peçam ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Mateus 9:37,38).
O que Jesus quis dizer ao nos chamar para nos arrependermos? Arrepender-se significa mudar de mente, mudar a direção de nossa vida, mudar nossa lealdade e cidadania. Arrependimento significa mudar de seguir deuses falsos para seguir o Deus verdadeiro. Quando Jesus diz, “Arrependam-se e creiam no evangelho.” (Marcos 1:15; cf Mateus 4:17), ele está nos chamando a deixar nossas redes, nossas prioridades mundanas, e segui-lo (Marcos 1:17, 18), aprender dos seus ensinamentos, e receber o seu Espírito para imitar o seu modo de vivier.
No Dia de Pentecoste, Pedro chamou o povo a se arrepender. Ao matar Jesus, eles se mostraram membros de um outro reino, servindo a um deus da sua própria criação. Jesus havia dito: “Vocês sempre encontram uma maneira de rejeitar o mandamento de Deus para guardarem a própria tradiçã” (Marcos 7:9). Ao criar as suas próprias tradições, eles estavam criando um deus à sua própria imagem, em vez de se submeterem ao verdadeiro Deus revelado pelos profetas. Em seguida, Pedro falou sobre Jesus citando profecias do Antigo Testamento. Ele encerrou sua mensagem dizendo: “Deus ressuscitou esse Jesus…, Este Jesus, que vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo” (Atos 2:34,36). Os ouvintes ficaram comovido. Eles perceberam que não estavam seguindo o Deus verdadeiro. Eles não tinham percebido que Jesus veio de Deus. Esse Jesus a quem eles rejeitaram mostrou ser o Messias. Com a ressurreição de Jesus eles reconheceram a verdade. Perguntaram a Pedro e aos outros discípulos: “Que faremos, irmãos? Pedro respondeu: — Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos seus pecados, e vocês receberão o dom do Espírito Santo” (Atos 2:37,38).
Mais tarde, em Atenas, Paulo ficou angustiado ao ver todos os ídolos na cidade. Para os filósofos gregos, Paulo falou sobre o Deus desconhecido, que era o Criador de todas as coisas e de quem todos somos dependentes. Ele concluiu com estas palavras:
“Portanto, visto que somos geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem.
Deus não levou em conta os tempos da ignorância, mas agora ele ordena a todas as pessoas, em todos os lugares, que se arrependam.Porque Deus estabeleceu um dia em que julgará o mundo com justiça, por meio de um homem que escolheu. E deu certeza disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (Atos 17:29-31
Este foi um chamado urgente para deixar deuses falsos para servir ao Deus verdadeiro.
Arrependimento significa transferir lealdade de deuses falsos para o Deus verdadeiro. Quando imigrantes se tornam cidadãos, eles juram lealdade ao país para o qual eles imigraram. Eles juram: “Eu juro lealdade à Bandeira e à Federação do Brasil”. Ao dar o passo para vir ao Brasil, eles se “arrependeram”, mudaram de ideia. Decidiram que não havia mais futuro em sua nação natal. Decidiram se tornar parte de um novo país com um novo modo de vida. Eles transferiram sua lealdade do país antigo para o novo.
João, em sua primeira carta, nos diz: “Não amem o mundo nem as coisas que há no mundo”(1 João 2:15). Como é o mundo? É dominado pela “cobiça da carne”, prazer sexual, vícios de todo tipo e o desejo de satisfazer os apetites do corpo. Também, o mundo está cheio “dos desejos dos olhos", levando-nos a cobiçar a última novidade e prometendo que isso nos dará felicidade e satisfação. Os do mundo são caracterizados pela “soberba da vida”, pela procura de poder, posição e louvor. João conclui escrevendo: “Ora, o mundo passa, bem como os seus desejos; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1 João 2:17). Ou, como Pedro diz, “Amados, peço a vocês, como peregrinos e forasteiros que são, que se abstenham das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (1 Pedro 2:11). Por não amar o mundo ou qualquer coisa no mundo, estamos nos arrependendo. Estamos transferindo nossa lealdade de um reino que não tem futuro para um reino que garante a vida eterna.
Perto do fim de sua vida, Frank Sinatra, um cantor popular da América do Norte, escreveu uma canção que termina com essas palavras. São as palavras de uma alma impenitente:
“Pois o que é o homem, o que ele tem?
Se não é ele mesmo, então ele não tem nada,
Para dizer as coisas que ele realmente sente
E não as palavras de alguém que ajoelha-se.
O registro mostra que eu levei os golpes
E vivi a vida do meu jeito, do meu jeito.”
Ele diz que muitos americanos como ele ecoam suas palavras: “Eu digo o que sinto. Eu obedeço a mim mesmo. Eu faço o que quero. Em consequência, posso sofrer, mas isso não importa, está bem. Eu faço do meu jeito.”
Ouça a pergunta de Jesus: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?” (Marcos 8.36). Arrepender-se significa “dizer as palavras de alguém que ajoelha,” confessando pecado e pedindo perdão. Significa, “Não quero mais fazer do meu jeito. Eu farei tudo do teu jeito, ó Senhor.”
Precisamos mudar de direção. Jesus contou a história de um filho rebelde que foi embora e, quando caiu em si, voltou a seu pai. Porque o filho não gostava das regras de seu pai na fazenda, ele pegou a riqueza de seu pai e a desperdiçou em festas e farras. Seus amigos nada mais eram do que parasitas que sugavam a vida dele. Eles o viciaram com drogas, álcool, sexo e na busca de sucesso e fama mundana. Como resultado, ele perdeu a família e tudo de valor, e se tornou escravo de um criador de porcos. Lá, ele desejou comer a que os porcos comiam, mas nem isso lhe deram. Finalmente, depois de cair no fundo do poço, ele voltou a si. “Caindo em si, disse: “Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui estou morrendo de fome! Vou me arrumar, voltar para o meu pai e lhe dizer: ‘Pai, pequei contra Deus e diante do senhor; já não sou digno de ser chamado de seu filho; trate-me como um dos seus trabalhadores.’" E, arrumando-se, foi para o seu pai” Lucas 15:17-20). Ele voltou, disposto a ser um servo e servir seu pai. Ele deixou de querer servir a si mesmo para querer servir a seu pai.
Não é fácil para alguém identificar seu falso deus e se afastar dele. Pode começar com remorso por fazer algo errado e sofrer as consequências. Durante uma sessão de aconselhamento, um preso às vezes dizia: "Eu simplesmente não posso me perdoar". Além de estar preso por alguma infração, ele foi abandonado por uma esposa, que se divorciou dele e persuadiu um juiz a proibir visitação aos filhos. Ele estava arrependido e prometeu nunca mais fazer isso, mas era tarde demais para recuperar o que havia perdido. Isso tudo é importante, mas não está completamente arrependido.
O importante aqui é ajudar a pessoa a entender que seu pecado é acima de tudo contra Deus. Ele pode ter ferido os outros e a si mesmo, mas isso é secundário perante a ofensa contra Deus. O Salmo 107 diz: “Alguns se assentaram nas trevas e nas sombras da morte, presos em aflição e em correntes de ferro, por terem se rebelado contra a palavra de Deus e desprezado o conselho do Altíssimo, de modo que lhes abateu o coração com trabalhos — esses caíram, e não houve quem os socorresse. Então, na sua angústia, clamaram ao Senhor , e ele os livrou das suas tribulações” (Salmos 107:10-13). “Que eles deem graças ao Senhor por sua bondade e por suas maravilhas para com os filhos dos homens!” (Salmos 107:15).
Uma pessoa pode não ser capaz de perdoar a si mesma. O que ela precisa é do perdão de Deus e, em seguida, uma aceitação da disciplina de Deus em sua vida. Tanto Judas quanto Pedro tinham uma agenda para o Messias além da que Jesus delineou para si (Mateus 16:21-23). Judas traiu Jesus e não podia perdoar a si mesmo, nem podia enfrentar os outros discípulos; então ele saiu e se matou. Pedro negou Jesus e saiu, chorando amargamente (Lucas 22:62). Judas não estava servindo a Jesus; ele nunca o servia. Ele pretendia lucrar com a sacola de dinheiro dos discípulos, a conta de despesas deles, por assim dizer (João 12:6). Pedro estava servindo ao Senhor e ele voltou ao Senhor pela graça e o perdão de Deus. Não somente foi ele perdoado, mas foi restaurado à liderança dos apóstolos (João 21:15-17). Paulo escreveu: “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte” (2 Coríntios 7:10). Lamentar o mal e sofrer as consequências não é suficiente. Precisamos lamentar um relacionamento quebrado com Deus e retornar a ele. O arrependimento mundano leva à autopiedade e autopunição. O arrependimento para com Deus produz paz por causa do preço pago pelos nossos pecados por Cristo na cruz.
GRAÇA: FÉ EM CRISTO
Confie em Cristo para a salvação: É salvação pela graça
Pode parecer que a ênfase em abandonar nossas próprias paixões, desejos e metas a fim de servir ao Deus verdadeiro é uma maneira de obter salvação por nosso próprio esforço. Isto não é verdade, de forma alguma. Arrependimento significa que desistimos de tentar nos salvar. Sabemos que somos incapazes de nos libertar do pecado. Romanos 7:14,15 diz:
“Porque bem sabemos que a lei é espiritual. Eu, porém, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.”
Paulo em Efésios 2:1-10 explica quem é que nos salva:
“Ele lhes deu vida, quando vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais vocês andaram noutro tempo, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência. Entre eles também nós todos andamos no passado, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossas transgressões, nos deu vida juntamente com Cristo — pela graça vocês são salvos —e juntamente com ele nos ressuscitou e com ele nos fez assentar nas regiões celestiais em Cristo Jesus. Deus fez isso para mostrar nos tempos vindouros a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus.Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”
A salvação não depende de nosso próprio trabalho meritório, mas do que Jesus fez por nós. Jesus fez e faz por nós o que não podemos fazer por nós mesmos. “Todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças são como trapo da imundícia” (Isaías 64:6). "Todos se desviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Salmos 14:3; Romanos 3:10). "Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3:23). Nós somos incapazes de obedecer adequadamente a Deus, e somos incapazes de expiar nossos pecados. De fato, todos os nossos esforços para pagar pelos danos que infligimos não restauram a situação ao que era antes de nosso pecado. Suponha que roubamos uma grande quantia de dinheiro, fomos presos e prometemos pagar tudo de volta. Mesmo se pudéssemos pagar o dinheiro de volta, como podemos pagar pelo esforço de investigação que levou nossa prisão? Como podemos restaurar a confiança que antes existia? Inicialmente, falhamos e depois, falhamos em nossa restituição.
Gosto de resumir rapidamente a obra salvadora de Cristo. Ele obedeceu por nós, morreu por nós, ressuscitou da morte e ganhou a vida eterna por nós, subiu ao céu onde intercede por nós e retornará para nos ressuscitar da morte e nos levar para si.
Primeiro, ele obedeceu a Deus perfeitamente. Adão, o pai da humanidade, pecou e, em consequência, trouxe a morte ao mundo. Também herdamos dele uma natureza pecaminosa (Romanos 5:2). Por outro lado, é através da obediência de Cristo que somos feitos justos com Deus pela fé em Cristo, tudo isso pela graça de Deus (Romanos 5:17-19). Jesus disse: “Quando vocês levantarem o Filho do Homem,então saberão que Eu Sou e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou” (João 8:28). Ele também disse: “Se não faço as obras do meu Pai, não acreditem em mim. Mas, se faço, e vocês não creem em mim, creiam pelo menos nas obras, para que vocês possam saber e compreender que o Pai está em mim e que eu estou no Pai” (João 10:37,38). E no Jardim do Getsêmani, Jesus orou: “Aba,Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice! Porém não seja o que eu quero, e sim o que tu queres” (Marcos 14:36).
Segundo, Jesus por sua morte é o sacrifício expiatório pelos nossos pecados e pelos pecados do mundo inteiro (1 João 2: 2). Deus considerou seu Filho, que era perfeito e sem pecado, como se fosse pecador, e o fez uma oferta pelo pecado nosso (2 Coríntios 5:21), para que Deus pudesse se reconciliar conosco, sem levar em conta os nossos pecados (2 Coríntios 5:19). Ou, como Isaías profetizou:
“Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o considerávamos como aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado por causa das nossas transgressões e esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu próprio caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós” (Isaías 53:4-6).
Terceiro, Jesus ressuscitou da morte para ganhar a vida eterna por nós. "Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará pelo seu poder” (1 Coríntios 6:14). “Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, na sua ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda” (1 Coríntios 15:22,23). “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas” (Filipenses 3:20,21). E como João escreve em sua Primeira Epístola: "Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (3:2).
Quarto, no céu, Jesus intercede por nós. À direita de Deus, Ele ora por nós, para que a acusação de Satanás e a condenação do nosso pecado sejam nulas e sem efeito (Romanos 8.34). Como ele orou por Pedro enquanto estava na terra: “Simão, Simão, eis que Satanás pediu para peneirar vocês como trigo! Eu, porém, orei por você, para que a sua fé não desfaleça.E você, quando voltar para mim, fortaleça os seus irmãos” (Lucas 22:31,32). assim também ora por nós no céu.
Por fim, Jesus retornará do céu e nos ressuscitará da morte para estarmos com ele para sempre.
“Porque o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor” (1 Tessalonicenses 4:16,17).
Veja também 1 Coríntios 15.50-57. E simultaâneamente Cristo julgará os vivos e os mortos (2 Timóteo 4:1; Apocalipse 20:12), incluindo-nos (2 Coríntios 5:16), e expulsará Satanás (Apocalipse 20:10) e todos os seus seguidores (Mateus 25: 31-46; Apocalipse 20:15).
Se pensarmos no arrependimento como se fosse uma obra de mérito, perdemos o objetivo da graça. O arrependimento, a mudança de coração e mente, não ganha salvação. Se formos honestos, percebemos que mesmo nosso arrependimento é muitas vezes parcial, provisório e limitado ao nosso pensamento nublado. Arrependimento significa que chegamos a um lugar em que entendemos que não podemos salvar a nós mesmos e que Jesus realizou para nós tudo o que era necessário para ser aceito por Deus. Paulo escreveu que a “confiança na carne”, o rito da circuncisão, o fato de pertencer à família de Israel e a justiça baseada na lei nada são. Ele escreveu: “Na verdade, considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele perdi todas as coisas e as considero como lixo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, mas aquela que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Filipenses 3:8,9). Ele escreveu que o falar em línguas e o dom de profetizar, o privilégio de dar todos os bens aos pobres não nos ganham nada (1 Coríntios 13:1-3). Viver no amor de Deus e deixar que seu amor seja revelado em nosso pensar e agir é viver pela graça. Nossa salvação é completamente ganha por Cristo e é recebida pela graça de Deus pela fé em Cristo.
Paulo retorna a este tema em Tito 3:4-7,
Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor por todos, ele nos salvou, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia. Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.
Aqui notamos que “lavar regenerador e renovador”” (grego paliggenesia) o nascer de novo, nascer de cima pelo Espírito (João 3:3; 5, 6). Por iniciativa de nossos pais, nascemos neste mundo. Por iniciativa do Pai, nascemos pelo Espírito Santo no reino de Deus, um mundo novo e eterno.
Mesmo nossa evangelização, o falar aos outros sobre o amor de Deus e o juízo final, não é uma ação meritória que ganha a vida eterna. Não devemos nos vangloriar de que "até os demônios se submetem a nós" em nome de Jesus (Lucas 10:17), mas que nossos nomes estão escritos no céu (Lucas 10:20), algo que é um dom de Deus ganho para nós por Cristo.
O despertar da alma para ouvir e entender é um ato sobrenatural do Espírito Santo. Deus pode usar nossas palavras, mas elas são apenas uma das coisas que ele usa para tocar a consciência do pecador e acelerar o sentimento de desamparo que pede ajuda. Se falarmos aos mortos, eles não podem nos ouvir. É Deus quem lhes dá vida para ouvir e agir. Ezequiel escreveu a mensagem de Deus:
“Então aspergirei água pura sobre vocês, e vocês ficarão purificados. Eu os purificarei de todas as suas impurezas e de todos os seus ídolos. Eu lhes darei um coração novo e porei dentro de vocês um espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. Porei dentro de vocês o meu Espírito e farei com que andem nos meus estatutos, guardem e observem os meus juízos” (Ezequiel 36:25-27).
Além disso, é impossível para alguém ouvir e entender uma mensagem de Deus a menos que o Espírito de Deus esteja vivendo dentro dessa pessoa. O Apóstolo Paulo escreveu:
Deus, porém, revelou isso a nós por meio do Espírito. Porque o Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus. Pois quem conhece as coisas do ser humano, a não ser o próprio espírito humano, que nele está? Assim, ninguém conhece as coisas de Deus, a não ser o Espírito de Deus. E nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, a pessoa natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura. E ela não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Coríntios 2:10-14).
Não temos o poder para mudar o coração. Nossa tarefa é testemunhar a
verdade e, em seguida, permitir que o Espírito de Deus aplique essa verdade ao nosso ouvinte, como e quando ele quiser. Eu reparei que Deus trabalha de tal maneira que Ele recebe o crédito e não nós. Os novos convertidos não gostam se nos gabarmos deles como fruto de nosso trabalho. Eles sabem que não éramos nós, mas Deus. Se nos vangloriamos, isso atrapalha mais do que ajuda o processo de conversão. É bom nos lembrarmos das palavras de Jesus: “Assim também vocês, depois de terem feito tudo o que lhes foi ordenado, digam: "Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer" (Lucas 17:10).
CREIAM NO EVANGELHO, NAS BOAS NOTÍCIAS
Jesus disse ao povo no início de seu ministério: “O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo; arrependam-se e creiam no evangelho” (Marcos 1:15). Agora, explicamos o que significa acreditar nas boas novas, que é o evangelho. Crer não é apenas um consentimento intelectual, como, "Eu acredito que existe um deus. Eu acredito que a Bíblia conta a história de Israel e a vida de Jesus.”. Não foi isso que Jesus quis dizer quando disse: “Creiam no evangelho.” Ele quis dizer mais. Seria uma fé que transformaria o ouvinte em uma pessoa que prestaria devoção e submissão total ao seu Senhor e Mestre, a fé de um discípulo confiante na liderança do seu mestre.
Vamos nos colocar no lugar das pessoas à nossa fronteira ao sul que deixaram Honduras, Guatemala e El Salvador. Eles têm medo dos traficantes, da violência, da falta de lei, e da falta de esperança e de um futuro. Eles acreditam que há uma vida melhor no norte, por isso farão qualquer coisa para chegar lá. Eles deixam tudo e agem de acordo com sua crença.
Outros nestes países não saem. Uma reportagem na edição de março de 2019 da National Geographic tinha uma foto de um pregador de rua, um ex-membro de gangue, sob uma plataforma com microfone na mão. Ele estava pregando no culto fúnebre de um convertido que foi libertado da prisão e depois foi morto por uma gangue adversária. O repórter conversou com um homem da plateia, um ex-membro de uma gangue e um convertido. Ele disse ao repórter: “Você anda com Deus ou você anda com o diabo. Você não pode servir aos dois.”.
Aqueles homens creram nas palavras de Jesus. Embora não tenham saído fisicamente da área, deixaram o mundo do medo e do terror. Eles creram em Jesus e nos seus corações entraram em um novo mundo -- o reino de Deus e, com ele, a segurança eterna. Imediatamente, eles voltaram ao território dos cartéis de drogas, não para serem submissos à autoridade da gangue, mas para pregar aos seus antigos amigos. Eles querem que eles experimentem a mesma verdadeira liberdade.
Crer no evangelho é acreditar que Deus através de Jesus cumprirá todas as suas promessas. Tão real foi a ressurreição dos mortos que Paulo pôde enfrentar qualquer rejeição, sofrimento ou perseguição. Foi porque considerou que “os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada (Romanos 8:18. Veja também 2 Coríntios 4:17). Como ele escreveu: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos as pessoas mais infelizes deste mundo” (1 Coríntios 15:19).
Os heróis da fé citados em Hebreus 11 fizeram grandes coisas, abandonaram as riquezas e os prazeres deste mundo e até sofreram o martírio porque estavam ansiosos por sua recompensa. Eles tinham confiança no que Deus havia prometido para o futuro e estavam certos de que Deus podia cumprir o que tinha prometido (Hebreus 11:1).
Quando Pedro disse, no Pentecostes: “Arrependam-se”, ele também disse, “Seja batizado” (Atos 2:38). Ele estava dizendo: “Se vocês acreditam que Jesus é o Messias, professem a sua fé pelo batismo”. Pedro estava seguindo o que Jesus tinha dito aos onze discípulos pouco antes quando subiu ao céu: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mateus 28:18). Então ele acrescentou, “Portanto, vãoe façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mateus 28:19,20). Jesus disse "portanto" porque ele queria que aqueles que o aceitaram o aceitassem como Senhor. Eles se tornariam discípulos, seriam conhecidos como discípulos (batismo) e obedeceriam como discípulos, obedecendo ao que ele ordenou. Jesus disse: “Se vocês me amam, guardarão os meus mandamentos” (João 14:15). Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Marcos 8:34). Tomar a nossa cruz significa assumir a marca e o nome de Jesus. Isso é batismo.
Como vocês sabem, o batismo significa morrer para este mundo e ser ressuscitado para uma nova vida. É morrer para o domínio de Satanás, do mundo e do pecado. O cristão está se tornando vivo e se unindo ao Cristo vivo. Está oferecendo o seu corpo como instrumento de justiça, não como instrumento de maldade. É ser um servo de Cristo, não um escravo do pecado e de si mesmo (Romanos 6).
Tomando a cruz e sendo identificado com Cristo através do batismo, estamos professando seu nome a todos. Nos países muçulmanos, hindus ou budistas, aqueles que são batizados são frequentemente excluídos e perseguidos pela família, vizinhança e até pelo governo. Alguns são mortos. Jesus já sabia disso. Ele próprio foi rejeitado e morto por sua obediência ao Pai. Tomar sua cruz inclui professar seu nome: “Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, o Filho do homem se envergonhará dele quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos” (Marcos 8:38).
No Dia de Pentecostes, Pedro continuou sua instrução para os novos discípulos: “Salvem-se desta geração corrupta.” (Atos 2:40), que certamente incluía a formação de uma nova comunhão. Se os governantes da sinagoga e seu povo tivessem decidido ser batizados e se tornassem seguidores de Jesus, o Messias, certamente teriam formado o núcleo da nova igreja. Em vez disso, os novos crentes se reuniram nas cortes (pátios) do templo, o amplo espaço público aberto em frente e ao longo das laterais do templo, adequado para ouvir o ensino continuado dos apóstolos. Certamente, o que eles ensinaram é o que temos nos Evangelhos da Bíblia.
Eles também em suas casas comeram juntos, tiveram comunhão e oraram juntos. Aqui também o ensino de Jesus foi compartilhado com aqueles que não puderam ir às cortes do templo. Muitas das pessoas mais ricas venderam suas propriedades e bens e deram para aqueles que estavam em necessidade. Sinais e prodígios foram realizados pelos apóstolos e em resposta às orações (Atos 2:42-47).
Mesmo que a frequência aos cultos da igreja tenha sido onerosa para nós durante a nossa juventude, foi necessária para o desenvolvimento de nossa vida como cristãos. Pessoas de lares desfeitos e que passaram desventuras na vida precisam de amor. Têm um profundo desejo de serem amadas e aceitas, não julgadas e rejeitadas. Isso é encontrado em uma igreja, onde o grande grupo se reúne para receber instrução como os apóstolos instruíam o povo diariamente nas cortes do templo. Também foi encontrado quando eles se encontravam em lares, em pequenos grupos, para discipulado e orientação personalizados, para confissão de pecados, dúvidas e medos, e onde todos intercediam uns pelos outros em oração. A parentela que muitos perderam foi substituída por uma nova família, a família dos cristãos.
Quando Jesus ministrou, ele trouxe as boas novas de perdão, salvação e uma nova vida. É no contexto da igreja que os seguidores de Jesus começaram a viver como se estivessem no céu. O reino deste mundo e a fraqueza da carne são realidades sempre presentes, mas é o reino dos céus que forma nossa nova identidade. Cada vez mais aprendemos o que significa amar a Deus e dar-lhe a prioridade em tudo, e aprendemos a amar o nosso próximo. Este é o começo do céu sendo vivido aqui na terra. Isso nos coloca em conflito com a ordem atual do mundo e podemos sofrer por isso. O sofrimento vale a pena. Nem mesmo a morte pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Haverá um dia em que o Senhor Jesus voltará e todo inimigo será julgado e expulso e tomaremos parte de uma nova criação. Este é o cumprimento do evangelho.
DISCIPULANDO OPERÁRIOS
DISCIPULADO COMO UM PROGRAMA DE LIBERTAÇÃO DE VÍCIO
O discipulado começa quando alguém aceita a Jesus Cristo como Salvador e Senhor. O principal chamado do evangelho é deixar o mundo do pecado e, pela fé em Jesus, entrar no reino de Deus, onde adoramos a Deus e amamos uns aos outros. Em Colossenses 1:13, Paulo escreve: “Ele [Deus Pai] nos libertou do poder das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a remissão dos pecados” (Colossenses 1:13,14). É neste reino que vivemos de maneira digna do Senhor, agradando-lhe plenamente, produzindo o fruto de toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus (Colossenses 1:10).
Algumas igrejas têm um programa de discipulado. Para alguns, esta é uma série de lições que preparam as pessoas para batismo ou profissão fé. Isso geralmente é uma adaptação da mensagem básica do evangelho: que todos nós desobedecemos a lei de Deus, resultando em separação do favor de Deus; que estamos restaurados ao favor de Deus pela graça por meio da fé em Jesus Cristo; e que, em gratidão pelo dom gracioso da salvação, nós nos dedicamos de coração a amar e servir a Deus e a outros seres humanos.
Frequentemente, o curso de discipulado acrescenta instrução sobre como descobrir e usar os dons espirituais para a edificação da igreja e o avanço de sua missão. A expectativa é que isso ajudará o novo membro a se tornar um membro ativo da igreja e se envolver em alguma forma do ministério da igreja.
Esta maneira de discipular é baseada em uma realidade que existia em muitas áreas do país. Havia uma maneira de viver apoiada pela lei de Deus ensinada pela Igreja e pela Bíblia. Desviar dessa norma provocaria o juízo de Deus e o desprezo da sociedade.
Em meados da década de 1970, a igreja evangelizou e conquistou convertidos em uma cultura em que sexo antes do casamento era entendido como adultério. Se uma moça engravidou enquanto namorava um rapaz, ela teria se casar com seu namorado. Do contrário, seus pais ou uma outra família do parentesco tomava o bebê para o criar, já que não era capaz de sustentar a criança e continuar na escola e ao mesmo tempo trabalhar. Os casamentos eram entendidos como a união de um homem com uma mulher, e na cerimônia o casal prometia ser fiel um ao outro até que a morte os separasse. Nos lares resultantes, os filhos cresceram com o cuidado, o amor e a disciplina do pai e da mãe. Mesmo em situações de incompatibilidade, quando um precisava “aguentar o outro,” o casal permanecia junto. De uma forma ou outra, por senso de obrigação ou por necessidade, o casal continuava no relacionamento.
Naquele ambiente, era geralmente aceito que o trabalho, o emprego remunerado, fornecia uma renda para se viver, uma casa em que morar e, muitas vezes, um pouco de recreação. A ética do trabalho foi a base para o sucesso e o bem-estar. Trabalhar, viver dentro dos limites do salário, economizar e comprar uma casa resultavam em segurança para o futuro e o prestigio na comunidade. Os pais podiam ajudar seus filhos a obter uma profissão ou educação superior, e os filhos bem sucedidos zelavam pelos pais na sua velhice.
Foi uma época em que as pessoas aceitavam a cosmovisão bíblica e seu padrão de moralidade, mesmo que elas não fossem ativas numa igreja. Algumas pessoas associavam tempestades fortes com o juízo de Deus e tinham medo da morte e do inferno, mesmo quando se rebelavam resolutamente contra a autoridade da igreja. Uma apresentação do evangelho com foco em ajudar as pessoas a entenderem que a segurança eterna é baseada na promessa de Deus foi muito significativa. Ao confiar na obra consumada de Cristo, eles não precisavam temer o futuro, mas podiam viver com alegria e confiança.
Hoje, em geral, este mundo não existe mais na sociedade norte-americana. Sexo entre namorados é a norma. Se uma mulher engravida, ela fica com o filho, mesmo que não pretenda se casar ou morar com o pai. Ela recebe assistência do governo para viver independentemente dos pais e do pai de seu filho. Ela pode receber e rejeitar quem ela quiser. Como resultado, seus filhos, muitas vezes, não crescem recebendo disciplina amorosa de ambos, pai e mãe.
Essa maneira de viver é desaprovada pela igreja, e os pobres interpretam isso como rejeição. Uma frase comum é: “Fui ferido pela igreja”. Talvez eles tenham sido envergonhados por fofocas ou expulsos, sendo disciplinados sem amor pastoral. Como resultado, pelo menos duas gerações de pessoas desta classe cresceram sem um lúcido conhecimento e convicção da validade de uma visão de mundo cristã e um respeito pela lei de Deus. Eles podem ter aceito a crítica da mídia que vê a fé cristã como uma filosofia extremamente estrita e ultrapassada.
Quando alguém da periferia decide aceitar a Cristo, um programa de discipulado que envolve assistir algumas aulas para se preparar para a profissão de fé não é suficiente para modificar um modo de viver enraizado em costumes que regulamentaram a vida de uma família por mais de uma geração. É por esta razão que o discipulado deve seguir a abordagem de programas de recuperação como o dos doze passos de Alcoólicos Anônimos, que encorajam fortemente a participação diária nas reuniões. Conforme relatado no livro de Atos, os novos convertidos que foram acrescentados à igreja por meio do batismo, se dedicaram ao ensino dos apóstolos, à comunhão, à celebração da Ceia do Senhor e à oração (Atos 2:42). Eles se reuniam diariamente no pátio do templo e compartilhavam as refeições em suas casas (Atos 2: 46). Fazer discípulos envolveu atividades que transformaram as pessoas em participantes ativos em uma nova maneira de viver, um novo estilo de vida. Foi um reforço diário de abandonar o antigo modo de vida e seus hábitos pecaminosos, e adotar um novo estilo de vida em conformidade à vida de Cristo. Foi uma comunidade de encorajamento mútuo e perdão onde recebeu poder para suportar as adversidades. Mesmo quando o comportamento pecaminoso era disciplinado e envolvia o afastamento da comunidade, isso era feito com amor e com o objetivo de restaurar o irmão pecador por meio do arrependimento (1 Coríntios 5:1; 2 Coríntios 2:5-8). Aqueles do setor operário precisam do alicerce da mensagem bíblica e do apoio constante para estabelecer novos padrões de comportamento. Eles precisam de muito companheirismo junto com o ensino da Palavra, muito louvor, muita oração, tudo banhado em amor e compaixão.
A razão pela qual eu exponho a mensagem bíblica sobre finanças, trabalho, casamento e tudo mais é porque é possível minimizar a dura realidade das consequências de uma vida pecaminosa. Pregar sobre o juízo não atrai como uma mensagem de total amor e aceitação. Um pastor pode pensar: “A maneira como essas pessoas vivem é apenas cultural. Nós, como igreja, devemos adaptar nossas maneiras para que sejam atrativas a eles.” O problema com uma mensagem de “sinta-se-bem” é que ela deixa as pessoas à vontade para continuarem a praticar um conduta que as escraviza ainda mais ao estilo de vida de pobreza. Isso permite que as pessoas pensem que estão bem, enquanto a realidade é que estão descendo rio abaixo, aproximando-se cada vez mais de uma cachoeira que as mergulha no abismo do inferno.
Discipular os pobres é muito difícil. É difícil mostrar sempre o amor de Jesus e, ao mesmo tempo, como ele repreender o pecado. Ilustrativo é a cura do homem coxo no tanque de Betesda. Depois Jesus o advertiu não voltar a pecar, para que algo pior não lhe acontecesse (João 5:14). Depois de multiplicar os pães e o consequente ensino sobre ser o Pão da Viida, Jesus enfrentou a realidade de que muitos de seus discípulos voltaram atrás e não o seguiram mais (João 6: 66). Mas isso proporcionou a oportunidade de desafiar os doze: “Será que vocês também querem se retirar?” (João 6:67). Pedro respondeu: “Senhor, para quem iremos? O senhor tem as palavras da vida eterna, e nós temos crido e conhecido que o senhor é o Santo de Deus” (João 6:68,69). Jesus não diluiu a verdade e não teve medo de chamar as pessoas a uma decisão e ao compromisso de continuarem fiéis a ele, embora esse apelo pudesse levar à rejeição. Precisamos fazer o mesmo apelo ao arrependimento e à decisão e, se for necessário, enfrentar a dor da rejeição. Agindo assim, Jesus reuniu uma comunidade de pessoas que creram nele e que estavam dispostas a serem transformadas pelo Seu Espírito. É uma comunidade que perdurou e se expandiu por todo o mundo, e é uma comunidade que está no mundo atual e ao mesmo tempo goza o início das bênçãos do céu.
Espero que esses estudos possam moldar o pensamento do leitor e até mesmo servir como um guia de estudo para aqueles que desejam ser discípulos de Jesus.
ENTENDENDO COMO PESSOAS TOMAM DECISÕES
Poucas pessoas estão preparadas para tomar uma decisão em um primeiro contato. As circunstâncias, muitas vezes, não nos permitem gastar uma hora explicando o evangelho. Podemos ter apenas dois ou três minutos. Mais importante, em razão de sua formação, experiências dentro e fora da igreja, as pessoas não são capazes de entender nem aceitar o que estamos falando. Precisamos nos perguntar: “Neste momento em suas vidas, o que nossos ouvintes podem entender? O que podem aceitar? Que opções podem tomar? Em que podem acreditar e a quem obedecer?”
James Engel e Wilbert Norton em seu livro: "What’s Gone Wrong with the Harvest?" (Como Foi Prejudicada a Lavoura?”), (Zondervan, 1975), contém uma tabela que mostra a possível resposta de uma pessoa à proclamação do evangelho. Aqueles que mais longe de tomar uma decisão tem apenas um conhecimento nebuloso de um Ser Supremo, mas nunca ouviram falar de Jesus Cristo. Outros têm uma vaga noção da religião cristã, da igreja e dos rótulos que a mídia atribui a vários ramos do cristianismo. A exposição a uma nova proclamação do evangelho deve levar nosso ouvinte a compreender as bases da fé, como os principais elementos do Credo dos Apóstolos, os Dez Mandamentos e a Oração do Senhor. (Várias declarações do Credo da Reforma Protestante, incluindo o Catecismo de Heidelberg, expõem essas três coisas). O contato e as instruções posteriores podem levar nossos ouvintes a compreenderem as implicações do evangelho. Isto é: as pessoas precisam se arrepender, deixar uma vida escravizada a este mundo e se submeter à autoridade de Cristo para viver em amor. Um passo importante no caminho para tomar uma decisão é ter uma atitude positiva em relação ao evangelho. Nosso ouvinte vai se indagar: “Faz sentido? Vai traz benefícios agora e no futuro? A essa altura, nossos ouvintes podem perceber o erro dos seus caminhos e sentir que é necessário mudar. Este é reconhecimento do problema pessoal. “Não consigo acreditar na verdade de Cristo e continuar a viver da maneira que tenho vivido.” Por fim, vem a decisão de agir, arrepender-se, abandonar o pecado e transferir a confiança a Cristo e segui-lo.
Em qualquer lugar ao longo dessa jornada, as pessoas podem rejeitar a mensagem. Elas podem ignorá-la por um tempo ou rejeitá-la, dizendo que não vai funcionar para eles. Isso pode ser temporário ou permanente, afastando-se e voltando para traz. Se as pessoas não responderem, pode ser necessário esperar seis meses ou um ano antes de entrar em contato novamente. Então pode indagar como estão e testar se estão dispostas a ouvir mais do ensino sobre Jesus. Se alguém mostrar aceitação e começar a frequentar os cultos da igreja, o engajamento pessoal pode ocorrer semanal ou mensalmente, dependendo do quanto nosso ouvinte pode absorver e colocar em prática.
O acompanhamento e a confirmação também seguem etapas progressivas de crescimento. Imediatamente após uma decisão, os novos convertidos provavelmente passarão por severas provações. O cônjuge pode ficar horrorizado com a decisão e isso afetará seu relacionamento conjugal. Podem perder o emprego, sofrer um acidente ou ficar doente. Alguém da família pode morrer. Os novos convertidos podem ter pensado que não pecariam mais ou nem seriam tentados novamente a beber álcool. Eles enfrentarão a realidade de que sua vida não é mais fácil, mas mais complicada e difícil. Devem saber que Satanás não quer deixá-los escapar do seu reino infernal e abandonar o pecado, e simultaneamente saber que o amor de Cristo é mais forte. Talvez eles pensassem que não haveria nenhum pecado na igreja. No entanto, eles logo perceberão que precisam aprender a perdoar outros cristãos que estão caminhando com eles na jornada da fé. Eles precisarão corrigir a linguagem que usam para descrever outros cristãos. Em vez de chamá-los de hipócritas, eles agora os descreverão como companheiros de jornada que estão lutando contra o pecado e a tentação. Eles aprenderão que é uma marca de autenticidade admitir o pecado, pedir perdão e buscar ajuda para superar a tentação. Aprenderão que depois de identificar uma área de pecado na sua vida, devem confessá-la. Depois de superar uma dificuldade, vão descobrir outra área, e depois outra, e ainda outra, em um processo que dura a vida toda.
Enquanto isso está acontecendo, o novo crente deve ser incorporado à igreja, o corpo dos crentes. Esse processo pode incluir uma classe de novos membros, batismo e reuniões de discipulado com um membro mais maduro da igreja. Na comunhão de crentes, o novo cristão será encorajado a compartilhar seu testemunho e aprender como explicar o evangelho, isto é, o caminho da salvação, a outros.
Em nosso ministério, podemos encontrar alguém que rejeite nossa mensagem e convite para seguir a Cristo. É válido entender que esta rejeição pode não ser a última palavra dessa pessoa. A pessoa pode ter chegado a uma fase de estagnação ao longo do caminho para uma decisão. Muitas vezes Deus vai orquestrar experiências para que a pessoa possa ouvir realmente o que nós ou algum outro cristão tenha a dizer.
No Pentecostes, Pedro encontrou uma audiência totalmente preparada para tomar uma decisão. A multidão foi composta de pessoas que conheciam detalhes da vida de Jesus e como ele fora crucificado. Eles também acreditaram nas escrituras proféticas. Ouviram o som de um vento forte, e os discípulos e os que estavam com eles falando em outras línguas. Eles estavam prontos para tomar uma decisão com base na explicação de Pedro sobre o derramamento do Espírito Santo, citando o Profeta Joel (Atos 2:17-21) e aplicando-a ao momento presente. Depois que o povo ouviu a acusação de Pedro sobre sua participação na rejeição e crucificação de Jesus, eles perguntaram: "Irmãos, o que devemos fazer?" (Atos 2:37). Pedro os chamou a se arrependerem e serem batizados; e eles prontamente seguiram suas instruções.
Quanto ao apóstolo Paulo, sempre que ele ia a uma cidade, ia primeiro à sinagoga onde argumentava que Jesus era o Messias, citando extensivamente passagens das escrituras judaicas (O Antigo Testamento) e explicando seu significado (Atos 13:13-48). Os gentios crentes no Deus judaico, por sua repulsa pela idolatria pagã e pela instrução semanal das Escrituras, foram preparados para ouvir da vida, morte e ressurreição de Jesus, e como isso se cumpriram profecias a respeito do Messias. Assim que entenderam a verdade, eles estavam prontos para tomar uma decisão. Eles entenderam as implicações e estavam prontos para obedecer e seguir o Messias. Os membros judeus da sinagoga, em geral, não estavam dispostos a mudar seu pensamento sobre as tradições transmitidas de geração em geração.
Ao encontrar um público pagão, Paulo usou uma abordagem diferente. Ele viu uma necessidade, curou um aleijado e os doentes e expulsou os espíritos malignos, confirmando o evangelho com sinais e maravilhas (Atos 14:3). Esses milagres, como Paulo explicou, foram as obras poderosas de um Cristo vivo. Em Listra (Atos 14), o povo concluiu que Paulo e Barnabé eram deuses e mereciam sacrifícios. Nesse contexto, Paulo foi obrigado a proclamar que Deus era o Criador de tudo e o único que merecia adoração. Paulo e seus companheiros eram meramente criaturas de Deus, assim como seu público. Naquele momento, Paulo não estava muito preocupado em explicar o evangelho, mas em parar a tentativa deles de adorá-lo e a Barnabé. O importante foi não se envolver em ritos pagãos, que foi em si uma pregação poderosa.
Ao falar com os filósofos gregos em Atenas, Paulo dirigiu sua atenção para o desejo deles pelo único Deus verdadeiro, observando a construção de um altar ao "Deus Desconhecido", citando seus poetas pagãos e dirigindo seus pensamentos para o Criador que fez todas as coisas e governou o destino dos povos e nações. Então, ele os chamou para se converterem dos ídolos para servirem ao Deus verdadeiro, porque este Deus os julgaria por meio do Messias, a quem ele ressuscitou dos mortos (Atos 17:22-31). Mesmo assim, apenas alguns aceitaram. Para a maioria deles, a ideia da ressurreição dos mortos era tolice (Atos 17:32). Mesmo depois de tentar corajosamente se conectar com sua visão de mundo, Paulo ainda foi visto como um estrangeiro balbuciando com ideias estranhas.
O que se segue são várias histórias sobre pessoas que estavam prontas para decidir seguir a Cristo e outras que não estavam. Espero que elas ajudem vocês a verem as pessoas como os que estão em uma jornada, se aproximando ou se afastando de Cristo, avançando ou recuando em sua caminhada com relação ao Senhor.
Esse princípio foi aplicado em meus contatos com Miriam, uma imigrante da Bósnia. Encontrei com Miriam na fila das pessoas que vieram à nossa igreja para a despensa de gêneros alimenticios oferecidos aos necessitados uma vez por mês. Eu estava oferecendo uma folha de papel com uma passagem da Bíblia e ao mesmo tempo, cumprimentando as pessoas com “Olá, como vai? Por acaso, tem um pedido de oração?" Em sua curta resposta, percebi que Miriam tinha sotaque, então perguntei qual era a sua nacionalidade. Ela disse: "Bósnia". Eu perguntei: "Você é muçulmana?" Ela respondeu: "Sim". Então, nos meses seguintes, ela conseguiu não me encontrar. Eu apenas a vi de longe. Com o passar dos meses, começamos a conversar. Aos poucos ele me contou algumas coisas sobre sua vida. Ela disse que se divorciou do marido por ele lhe ter abusado, batendo nela violentamente. Suponho que vindo para a América ela sentiu liberdade para resisti-lo. Ela tinha dois filhos de oito a dez anos que frequentemente a acompanhavam. Os filhos, juntamente com amigos na escola, se acostumaram à língua e aos costumes da América mais rápido do que a mãe. Ela disse que seus pais ainda moravam na Bósnia e que se comunicavam com ela pelo menos uma vez por semana. Eu lhe perguntei: "O que você conhece do Cristianismo?" Ela não respondeu a pergunta, mas disse: “Depois da meia-noite, vejo Joel Osteen, um pregador evangélico bem popular na televisão, e gosto do que ele diz”. Depois que passou um ano e meio, mais ou menos, perguntei se ela aceitaria um Novo Testamento junto com um estudo bíblico auto didático do Evangelho de Lucas. Ela disse que aceitaria. Depois disto eu a vi mais uma vez, desta vez de longe, e tive a oportunidade de perguntar se ela tinha lido a história de Jesus. Essa mulher tinha curiosidade pelo cristianismo e por Cristo, mas não se sentia livre para tomar uma decisão que certamente a levaria a sofrer a ira de seus entes queridos - seus pais. Se ela estiver perto de tomar uma decisão, ela terá que passar por alguma crise e clamar a Deus por socorro. Quem sabe, ela terá uma visão e ouvirá uma palavra sobrenatural de Deus, ou encontrará uma outra pessoa, talvez um outro muçulmano que se converteu.
Certa vez, encontrei um homem muçulmano que expressava claramente suas crenças e conversava com outros cristãos no emprego. Uma noite, minha esposa e eu fomos a uma loja para comprar alguns cartões de aniversário. Escolhemos esta loja em particular porque seus cartões traziam versículos bíblicos na capa interna. Eu disse ao filho do proprietário que atendia o caixa que apreciava a música cristã e os cartões. Ele respondeu: “José, no corredor seguinte, é muçulmano. Aposto que você gostaria de falar com ele." Então, me apresentei a José. Imediatamente, ele disse: “Então você é um cristão. Diga-me se um cristão pode orar pelo perdão e ter todos os seus pecados perdoados. E depois, pode continuar pecando, e ter todos os seus pecados futuros perdoados também, com base nessa oração?"
Essa foi uma pergunta carregada. Foi evidente que José estava fazendo perguntas. Ele estava curioso. Visto que ele era um homem em uma posição de autoridade na família muçulmana, ele tinha mais liberdade para tomar uma decisão, embora estivesse argumentando contra o cristianismo. Outros colegas de trabalho na construção estavam testemunhando a ele, provavelmente explicando alguma versão do esboço do caminho da salvação: todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus; é necessário confessar o pecado e pedir perdão, e confiar em Cristo que oferece a vida eterna.
Respondi dizendo que uma vez que alguém se torna um seguidor de Cristo, ele não deseja mais pecar. Ao contrário, ele faz progresso em deixá-lo para trás. Mas, também expliquei que quando Cristo morreu, ele morreu por todos os meus pecados, e não somente por meus pecados, mas pelos pecados do mundo inteiro; então, de fato, todos os nossos pecados estão perdoados para sempre. Então José respondeu: “Jesus não morreu. Ele era bom demais para isso. Allah o levou direto para o céu. Foi outra pessoa que morreu na cruz, e as pessoas pensaram que era Jesus”. Anteriormente, fui desafiado a provar a ressurreição de Jesus, mas esta foi a primeira vez que fui desafiado a provar sua morte.
Esse diálogo mostrou como uma apresentação mecânica do evangelho pode ignorar um ponto crucial para alguém de uma formação cultural e religiosa diferente. Minha oração era que as minhas palavras ajudassem José a avançar em sua prontidão a tomar uma decisão de seguir a Cristo.
Em meu segundo periodo de serviço missionário no Brasil, Lisa foi à Igreja com suas duas filhas pré-adolescentes. Ela estava procurando um novo caminho. Ela havia encontrado um punhado de penas pretas em seu travesseiro, um fetiche colocado ali por seu marido espírita, e ligou essa “maldição” às doenças e problemas que assolavam sua família. Ela havia aceitado a Cristo e estava fazendo aulas de catecúminos para se preparar para o batismo. Eu lhe ministrei as aulas na sua casa um dia por semana, numa tarde. Isso foi quando seu marido estava em casa depois de descansar de seu trabalho de terceiro turno na padaria. Com desinteresse óbvios, olhos embaçados e sonolentos, ele se sentou no sofá com sua esposa durante as aulas. Com a passagem do tempo, ele começou a frequentar os cultos com sua família. Uma vez ele discutiu com o professor da escola dominical, um sargento militar, sobre a Trindade. Ele veio até mim para uma explicação melhor. Bem, como você explica um mistério para uma "mente racional?" Duas semanas depois, ele me pediu para visitá-lo. Disse que no dia anterior, por volta do meio da tarde estava orando ao seu “guia”, um índio brasileiro, transformado em divindade espírita. Enquanto orava, viu este índio brotar chifres de sua cabeça e pernas se transformando em pernas de bezerro com cascos fendidos. De repente, ele entendeu que estava adorando e buscando socorro de um demônio, e que a orientação que recebeu só piorava sua vida. Em poucas semanas, ele se apresentou à igreja para o batismo.
As próximas três histórias ilustram como algumas mulheres no Brasil aceitaram a fé e o que isso me ensinou. Começou logo após nossa chegada à cidade de Bauru. O pastor da Igreja Presbiteriana Central me passou cerca de 200 cópias de uma tradução moderna experimental do Evangelho de Mateus. Distribuí-los como um folheto seria o mesmo que jogá-los no lixo. Eu também notei, fazendo pesquisa na comunidade, que a maioria das casas havia recebido um Novo Testamento dos Gideões. Os testamentos foram recebidos com a maior de gratidão, mas rapidamente foram relegados para o fundo de alguma gaveta junto com roupas ou outros objetos. Decidi fazer um estudo bíblico auto didático com perguntas de múltipla escolha ou verdadeiro-falso. Um estudo tópico em que as pessoas fossem obrigadas a pular de um texto em um lugar para outro texto em outro lugar seria confuso, pensei. Perguntas abertas, uma das favoritas na América do Norte, tendiam a ser respondidas com "Jesus", "fé" ou algo igualmente vago, que mostram que o leitor não entendeu o objetivo da pergunta. O formato de múltipla escolha seria fácil para corrigir e obrigaria o leitor a ler para fazer escolhas entre respostas certas e erradas, algumas delas complicadas.
O que aconteceu? Minha própria filha adolescente, que era meio rebelde, foi motivada a pedir o estudo sobre Mateus quando testemunhou o trauma causado pelo acidente de motocicleta de dois jovens da mocidade da igreja. Eles bateram na traseira de um caminhão e poderiam ter morrido, mas sobreviveram com feridas leves: um sofreu uma fratura no queixo e o outro uma fratura na perna. Depois de concluir Mateus, minha filha pediu o estudo de Romanos. Na época em que fez esses estudos, ela deixou de ser meu adversário para ser uma pessoa colaboradora. As suas ações diziam: "Pai, agora estou do seu lado. Vou cooperar com seus esforços para controlar essa minha natureza rebelde. Eu quero viver para Cristo.”
A próxima mulher visitou nossa igreja e estava disposta de ler a Bíblia utilizando o curso de Mateus. Ela estava estudando com as Testemunhas de Jeová, mas não tinha se comprometido com elas. Ela, porém, adotou a ideia de que Jeová era Deus único e que Jesus era seu filho não divino. Depois que ela terminou o estudo de Mateus, eu a visitei e corrigi o estudo. Eu cheguei à pergunta sobre Jesus acalmando a tempestade no Mar da Galileia: "Jesus é o Senhor da natureza? ( ) Verdadeiro ( ) Falso.” Ela a deixou em branco. Eu lhe perguntei “Por quê?” Ela disse: “Aprendi que só Jeová é o Senhor da natureza”. Então seus olhos se arregalaram e ela exclamou: “Depois de ler o livro de Mateus, vejo que Jesus pode fazer tudo!” Naquele momento, ela entendeu que Jesus era de fato a Segunda Pessoa da Trindade. Pouco tempo depois, ela e o marido se afiliaram à igreja e, em um ano, suas duas irmãs com suas famílias também professaram a fé.
A terceira mulher era Sonia, cuja tia era solteira e membro de longa data da Igreja Presbiteriana Central. Duas vezes eu me encontrei com ela e seu irmão e tentei explicar o evangelho. Cada vez que nossa discussão se encerrava de maneira inconclusiva. Suas desculpas ou dúvidas não foram respondidas satisfatoriamente, ou se foram, eles não estavam dispostos a entregar suas vidas a Cristo.
No devido tempo, a irmã de Sonia, Beth, veio à fé junto com seu marido João. João era um católico devoto que criticava os católicos que se confessavam no sábado, participava da missa no domingo e levava uma vida egocêntrica e rude pelo resto da semana. A linguagem comum desses católicos hipócritas era imoral e cheia de palavrões. A tia de Sonia sugeriu que João procurasse o pastor da sua igreja, que o levou à fé salvadora. João e Beth passaram por esse processo de decisão juntos. Como resultado, o laço estava se apertando em torno de Sonia. Tanto João quanto Beth argumentaram vigorosamente por causa de Cristo. Sonia visitou a nossa igreja -- era mais perto de sua casa -- e eu lhe dei o estudo bíblico de Mateus. Quando ela terminou, e eu tive a oportunidade de corrigí-lo. Não havia erro algum! Eu lhe perguntei se poderia lhe explicar o evangelho. Esta seria minha oportunidade de falar sobre nossa situação de perdição, sobre a expiação dos pecados pela morte de Cristo, sobre a necessidade de confessar o pecado e pedir perdão, e também pedir que Cristo entrasse em seu coração. Ela disse: “Não é necessário que você me explique nada. Eu li a história de Jesus. Como eu o aceito?” Aí mesmo, ela orou junto comigo para receber Jesus em sua vida.
Essas histórias me ensinaram que as boas novas de Jesus registradas nos Evangelhos é o próprio Jesus, por meio do testemunho registrado dos evangelistas, que estão chamando as pessoas a depositarem sua fé nele e a se tornarem seus discípulos. O que Jesus disse e fez constitui uma ferramenta poderosa, talvez a mais poderosa ferramenta evangelística que Deus colocou à nossa disposição.
Aprendi ao longo dos anos que o que fizemos no Brasil não funciona da mesma forma 35 anos depois no contexto norte-americano. As pessoas na América, em geral, não estão dispostas a ler a Bíblia, a menos que já tenham ido à igreja com certa regularidade. No entanto, temos usado esses estudos bíblicos auto didáctos com grande proveito no ministério semanal aos presidiários da Cadeia do condado de Oceana em Michigan. Literalmente, tínhamos um público cativo com muito tempo disponível. Então, para aproveitar essa oportunidade, desenvolvemos mais estudos em inglês e espanhol: Atos, Romanos, João, Tiago e Efésios, e 1 João. Não pudemos avaliar a eficácia desse tipo de ministério porque não fomos capazes de acompanhar os presos depois que foram soltos. Tenho certeza de que a leitura do evangelho produziu o fruto de uma vida transformada em alguns ex-presos.
Hoje, as pessoas podem ler a Bíblia digitalmente acessando um aplicativo em seus celulares. Eles estão bombardeados por mensagens concorrentes do YouTube, na mídia social, televisão e muito mais. Raramente encontro alguém que tem tempo e desejo para sentar e estudar as Escrituras. Por vários anos, com base na minha experiência brasileira, eu batia nas portas de um certo bairro cheio de pessoas que recebiam ajuda de aluguel do governo e perguntava: “Você gostaria de um estudo bíblico de autoajuda que possa fazer na privacidade de si mesmo para casa para aprender sobre o que Jesus disse e fez?” Mais da metade das pessoas aceitava. Seus nomes e endereços foram devidamente registrados no registro de minhas visitas. Cerca de um mês ou dois depois, eu aparecia de novo, “Como você está se saindo com o estudo bíblico do Evangelho de Lucas?” Mais de 90% das vezes, eu ouvi: "Está na mesinha de cabeceira ao lado da minha cama. Eu não me esqueci disso. Eu só não comecei ainda”. Finalmente percebi que nos três minutos que as pessoas me deram na porta, eu não estava comunicando nada de substantivo sobre quem é Jesus e as bênçãos que resultam de segui-lo.
No último ano (2019), eu continuava a chegar às casas, me apresentar junto com o meu companheiro, oferecer um convite para a igreja junto com um presente simples, como um bombom ou uma flor artificial. Geralmente pergunto como eles estão e se eles têm um pedido de oração. Então, após uma pausa, se eu sintia uma receptividade, eu perguntava: "Tenho certeza de que você gostaria de ir para o céu, certo?". “Você sabia que Jesus trouxe o céu à terra? Basta olhar para seus milagres. Lembre-se do que ele disse sobre o perdão, sobre o amor a Deus e ao próximo”. “Você sabe que se torna como um deus, ídolo, ou coisa a que serve?” Esses três minutos me ajudariam a avaliar se deveria apenas deixar um convite ou continuar a conversar. Se eu sentisse interesse por ler a Bíblia, eu lhe oferecia um estudo auto didatico do Evangelho de Lucas, dizendo, “Esta é a história da vida de Jesus, o que ele fez e o que ensinou.
Eu compartilhei das minhas experiências pessoais para mostrar o que está por trás da decisão de alguém de seguir a Cristo. Ao compartilhar o evangelho, você também poderá adicionar à sua memória as histórias de pessoas que aceitaram a fé. Você verá o papel importante que você desempenhou na vida do novo convertido. Você também perceberá que foi apenas um de uma série de eventos que Deus estava usando para trazer alguém para sua família.
Você não está limitado à sua própria experiência pessoal, no entanto. No seu relacionamento com outros cristãos, você pode perguntar: “Diga-me como você adquiriu a fé. O que o fez deixar de ser um espectador crítico da igreja para ser um membro entusiasta servindo no corpo de Cristo? O que aconteceu que revelou que o Espírito Santo estava o chamando?” O que você ouvir o ajudará a entender melhor a obra do Espírito. Você sabe que um carro avança com pneus rolando no asfalto. Por meio do testemunho de uma pessoa, você poderá ver as marcas que o pneu deixa no piso em um trecho específico da estrada da vida da pessoa.
Encontramos pessoas que dizem: “Duas coisas sobre as quais nunca falamos são política e religião. Ponto". Para eles, religião é motivo de discutir, resultando em dissensão e discórdia. Esse não é nosso alvo. Nosso propósito é ajudá-los a compreender que Jesus vem a eles para atender às suas necessidades e anseios mais profundos. Outros são curiosos e gostariam de aprender mais e estão dispostos a tentar algo. Eles estão dispostos a aceitar o convite de um amigo. E então, de vez em quando, alguém diz: "Estou convencido. O que faço agora?"
DISCIPULADO E ASSISTÊNCIA
A assistência aos necessitados pode variar de uma moeda dada a um mendigo na esquina até cancelar uma dívida de milhares de reais. Pode ser uma ajuda que atende a alguma necessidade imediata, como um sanduíche para aliviar a dor de fome, ou pode ser um programa de aconselhamento e orientação para um usário de drogas ou álcool. Alguns querem ajudar uma pessoa e aliviar a sua dor. Outros têm uma visão abrangente para tornar este mundo um lugar melhor, mais seguro e mais hospitaleiro, onde as pessoas possam prosperar e sentir valorizada. Dedicando-se a essas causas podem sentir uma consciência limpa e obter uma grande sensação de satisfação. Uma pessoa que está empenhada em evangelismo e discipulado pode cair na armadilha de avaliar um programa diaconal pelo número de “profissões de fé” ou batismos resultantes. Por exemplo, uma grande igreja que patrocina uma conferência sobre crescimento de igrejas talvez afirme: “Estabelecemos um ministério de conserto e manutenção de automóveis para ajudar mães solteiras e, como resultado, muitas delas vieram à nossa igreja e foram batizadas.” Ou uma igreja pode distribuir alimentos até semanalmente em um bairro pobre e afirmar que isso é evangelismo. Programas como esses não são projetados para evangelizar e discipular e não devem ser promovidos como tal.
Os ministérios diaconais funcionam melhor quando são oferecidos sem pressão para pessoas demonstrarem gratidão ou professarem a fé. Frequentemente, alguns voluntários falam mal dos que recebem alguma ajuda: “Essas pessoas nem mesmo dizem obrigado. Que ingratas!” Mas o que esperaríamos das pessoas do mundo? Eles nos julgam como julgariam o serviço de um supermercado ou um restaurante; e se a nossa caridade não alcança o mesmo padrão, eles reclamam prontamente. Eles podem ser ingratos, mas pelo menos são livres e não estão sendo coagidos ou manipulados a tomar uma decisão hipócrita.
Com isso em mente, algumas igrejas não realizam reuniões evangelísticas como um pré-requisito para fornecer assistência diaconal. O evangelismo está aí, como uma opção para os crentes voluntários aproveitarem a oportunidade, mas raramente acontece, pois não são treinados para isso. Algumas igrejas oferecem um culto de adoração regular enquanto as portas estão abertas para a distribuição de alimentos e roupas. O culto, no entanto, está acontecendo em um espaço separado. Quem quiser pode comparecer, mas sem se sentir pressionado. O que pode ser feito sem constrangimento é escolher voluntários para oferecerem porções das escrituras, conselho e oração.
Um ministério paternalista de corpo-alma, social-espiritual e evangelismo de serviço pode levar a uma amarga frustração. “Estamos aqui para ajudá-lo e forneceremos tudo de que você precisa”, mas não é dita a expectativa de que, por gratidão, a pessoa participe do culto na igreja e seja salva.
O que se segue é uma ocorrência rara, mas realmente aconteceu. Uma igreja próspera conservadora promoveu o ministério de um centro de recursos para gravidez em sua mensagem pró-vida. Algumas mulheres encontraram com Helena, uma mulher bósnia que estava prestes a entrar em uma clínica de aborto. Eles garantiram a ela: “Nós cuidaremos de todas as suas necessidades. Por favor, mude o seu pensamento e não faça um aborto”. Ela decidiu continuar com a gestação e deu à luz uma linda menina. Alguns voluntários vieram para lhe dar apoio emocional. Outros ainda compraram um carro usado em boas condições e pagaram por vários meses o aluguel de um apartamento. Então, algumas mulheres caridosas pediram aos diáconos da igreja que a visitassem para dar um testemunho da igreja e oferecer ajuda. Com medo e apreensão, eles dirigiram para o complexo de apartamentos onde “suas vidas poderiam estar em perigo” por causa de viciados e gangues de rua. No final da visita, os diáconos entregaram alguns vales para um supermercado. As mulheres caridosas não ficaram felizes. Elas queriam e até exigiam que os diáconos continuassem pagando o aluguel e oferecendo mais ajuda logo de inicio. Os diáconos “insensíveis,” por sua parte, estavam levando em consideração o orçamento da igreja dedicado à assistência. As mulheres que ajudaram disseram: “Nossa rica igreja pode fazer muito mais que entregar alguns vales”. Como resultado, as mulheres decidiram reunir seus próprios recursos e pagar o aluguel e as outras necessidades de Helena. Elas iriam prevenir que Helena caísse no sistema de previdência social do governo. Diziam: “Isso é o que o corpo de Cristo deve fazer neste mundo.”
As mulheres caridosas ajudaram Helena a achar um emprego para se manter e eventualmente se tornar financeiramente independente. Seu primeiro emprego foi operar uma empilhadeira numa fábrica, que exigia mais força física do que ela tinha. Ela adoeceu com dores de cabeça recorrentes. O bebê adoeceu e precisava de tratamento médico. Muitas vezes ela faltou ao serviço e pouco tempo depois desistiu. Eventualmente, Helena encontrou um emprego limpando apartamentos em um lar de idosos. Lá ela encontrou um ambiente atencioso entre os clientes cujos aposentos ela limpou. Muitas vezes, eles lhe deram presentes para mostrar gratidão pelo excelente trabalho que ela fez. Mesmo assim, esse trabalho não fornecia renda suficiente para pagar o aluguel e outras despesas. Perto do final de dois anos, as mulheres caridosas lhe avisaram: “Quando o contrato de aluguel anual terminar, você estará por conta própria. Não podemos continuar a pagar por mais tempo”. Helena, por sua vez, estava conversando com seus vizinhos e aprendeu como eles conseguiam auxílio de aluguel do governo e outros tipos de programas sociais. Ela realmente se tornou financeiramente independente, libertando-se da dependência da igreja.
Durante esse tempo, Helena foi convidada muitas vezes a frequentar a Igreja. Ouvimos seu testemunho em que ela declarou seu amor por Jesus. Ela era cristã, não muçulmana. E, sim, ela queria que seu bebê fosse batizado. Para isso, expliquei que ela precisava levar a sério o mandamento do Senhor de treinar sua filha a amar e respeitar o Senhor. Para alcançar este alvo, ela precisaria frequentar os cultos e a escola dominical com seu bebê e seu filho de 10 anos. As mulheres caridosas perceberam que ela não se encaixaria muito bem na cultura da igreja próspera que ficava bem longe. Elas a apresentaram a uma igreja mais humilde e acolhedora, e mais perto. Mesmo assim, foi difícil para ela entender o culto em inglês. Então, senti a necessidade de encontrar um Novo Testamento na sua língua. Para minha surpresa, não consegui encontrar uma Bíblia na língua bósnia. O que encontrei foi uma Bíblia online na língua sérvia “Sveto Pismo”, também falada por bósnios e que Helena entendia. Imprimi o Novo Testamento em parcelas e pedi que ela as lesse. Tornou-se evidente que ela não estava lendo sozinha. Em uma das nossas visitas, ela não conseguiu encontrá-las e disse que as perdeu. Ela também mostrou desinteresse pelo fato de que só ia ao culto quando sabia que uma das mulheres caridosas estaria presente. Os motivos para não comparecer ao culto geralmente incluem: "Tive enxaqueca" ou "O bebê estava com febre".
Para permitir que Helena ganhasse um emprego que dava um melhor salário, uma das mulheres caridosas pediu à minha esposa que lhe desse algumas aulas de inglês. Minha esposa é professora voluntária para Aprendizes da Língua Inglesa em uma igreja que hospeda um programa de uma agência cristã que ministra a refugiados. Durante essas visitas, minha esposa pediu-me para brincar com seu filho para ajudá-lo a não interromper as aulas. O menino era incontrolável -- Helena não estava dando disciplina consistente e amorosa e, portanto, falhou em fornecer uma vida estruturada que o beneficiaria grandemente. Com o passar do tempo, ficamos conhecendo a filha mais velha de Helena, que tinha um emprego remunerado e vivia com o pai, e que era obrigada a cuidar do bebê enquanto Helena estava trabalhando.
Nesta e em outras pequenas maneiras, Helena ainda dependia parcialmente de seu ex-marido. Com muita frequência, o menino adolescente também ficava com o pai. Uma vez, quando estava tentando mantê-lo ocupado, perguntei se seu pai estaria disposto a aceitar sua mãe de volta. Afinal, pensei comigo mesmo, ele não havia se casado novamente e tinha espaço onde Helena poderia morar com seu filho e a filha ilegítima. Sem hesitação o menino disse que sua mãe era a culpada pela separação.
Acredito que foi isso que provavelmente aconteceu. Helena, junto com seu marido, filha e filho imigraram para os Estados Unidos após a violência da guerra nos Bálcãs. Helena aproveitou a liberdade de que as mulheres americanas desfrutam, liberdade que seu marido não compreendeu e queria limitar, a ponto de usar a força física. Ela começou um relacionamento com outro homem, engravidou e procurou uma saída buscando o aborto. Nesta altura as mulheres caridosas entraram em ação.
Tudo o que fora feito, o fora para expressar o amor de Cristo. O discipulado não foi possível porque Helena nunca experimentou o novo nascimento da regeneração. Ela nunca confessou pecado ou buscou o perdão. Alguém, talvez um pastor, poderia ter visitado o marido para ajudá-lo a entender a cultura americana que infectou sua esposa, e para reconhecer a sua própria participação na alienação entre eles. Haveria possibilidade de reconciliação? A Helena afirmava ser cristã, ele teria afirmado a mesma coisa? Ou era ele um muçulmano cultural? Todas as indicações me levam a acreditar que ele não era fiel nas orações na mesquita. O que seria a sua reação se eu procurasse visitá-lo em sua casa? Em várias ocasiões, como numa festa de aniversário, encontrei familiares e amigos dele. Sabendo quem eu era, todas as pessoas próximas ao ex-marido evitaram contato comigo. Pareceu-me que, embora os benefícios das mulheres caridosas fossem reconhecidos e bem-vindos, eu não era. Eu representava uma força externa, um modo de viver com sua origem no reino dos céus.
Durante dois anos, o povo de Deus procurava discipular Helena, salvá-la das consequências do pecado e envolvê-la no corpo dos crentes. Durante todo esse tempo, Helena precisava se arrepender do pecado do seu coração que a levou a resistir ao marido, rebelar-se e ser infiel a ele. O seu marido, por sua vez, certamente deveria ter sido mais compreensivo e amoroso; mas ela, embora se considerasse cristã e justa nos olhos de Deus, ainda precisava compreender como ela ainda era escrava do reino desse mundo; precisava repudiar o seu poder, arrepender-se do pecado e se entregar a Jesus Cristo pela fé.
As mulheres caridosas que estavam mais diretamente envolvidas estavam altamente preocupadas em atender às suas necessidades sociais. Elas pressionaram-na para corresponder às expectativas, ou seja, aprender inglês e conseguir um bom emprego. Elas, sem questionar a perspectiva da Helena, adotaram a atitude de que o ex-marido era intolerante e violento. Eu fui o único que ouviu o ponto de vista do menino. Mesmo que ela tivesse pensado o mesmo, a filha adulta de Helena não compartilhou com nenhum de nós sobre os seus sentimentos a respeito da separação dos pais.
Em retrospecto, provavelmente teria sido melhor, para os líderes da igreja, ajudar as mulheres caridosas a entenderem que uma promessa mais realista a “Não faça um aborto; nós cuidaremos de suas necessidades”, teria sido “Não faça um aborto. Nós ajudaremos você e seus filhos acessarem a assistência pública o mais rápido possível.” Se ela respondesse favoravelmente, poderiam manter em contato por meio de visitas, cartões, comemorações de aniversário e muito mais. Eles também forneceriam a ela as escrituras em sua própria língua e, se possível, a chamariam ao arrependimento, mostrando-lhe como ela estava cativa do pecado e do sistema deste mundo. Eles também a exortariam a confessar seu pecado, pedir perdão a seu ex-marido e a outros membros da família e buscar a reconciliação.
DISCIPULADO E VÍCIO
O alcoolismo e o vício em drogas ou dependência de drogas levam a todo tipo de miséria para aqueles que estão relacionados à pessoa viciada. A ladainha de crime e violência, violência doméstica e negligência, baixa produtividade no trabalho e desemprego levam as crianças a ter vergonha do seu lar e os cônjuges a proteger o usuário do desprezo público. O divórcio com seu conseqüente estresse, sistema imunológico enfraquezido e salário reduzido pode ser um fator que contribui para a pobreza. Quando trabalhamos com os pobres, somos compelidos a exortar uma pessoa viciada a achar a liberdade através de se intregar a Cristo e começar uma nova vida. O apóstolo Paulo escreveu: “Não sabem que, quando vocês se oferecem a alguém para lhe obedecer como escravos, tornam-se escravos daquele a quem obedecem: escravos do pecado que leva à morte, ou da obediência que leva à justiça? (Romanos 6:16). Vemos o que está acontecendo, embora o usuário possa negar o fato.
Quando os dependentes quimicos chegam a perceber que não têm mais controle sobre suas ações, estão prontos para buscar ajuda. É aqui que um programa de 12 passos como os do Alcoólicos Anônimos (AA) é vital para a recuperação de uma pessoa. No entanto, AA não é, automaticamente, parte do discipulado de Jesus Cristo. Digo isso porque AA não promove nenhuma fé particular no Deus verdadeiro, apenas o reconhecimento de "um poder superior, não importando o que seja o seu entendimento sobre ele". Alguns participantes de AA chegam ao ponto de professar que uma xícara de café é o seu poder superior. Uma pessoa pode adotar os doze passos por meio da responsabilidade mútua que AA fornece, e estar livre do álcool, e ainda assim não entrar num relacionamento com Cristo e nem entrar em seu reino eterno. Para aqueles que recebem a Cristo e creem no Deus verdadeiro e se rendem a Jesus como Senhor, os doze passos são uma parte vital do discipulado e da recuperação.
Idealmente, o alcoólatra que recebe a Cristo deve fazer parte de um pequeno grupo onde os participantes confessam seus pecados e deem aconselhamento mútuo, enquanto estudam a palavra e oram juntos. Em um pequeno grupo da igreja, os participantes procuram resolver uma miríade de pecados e males, enquanto uma reunião de AA focaliza na libertação do vício em uma substância quimica, que nesse caso é o álcool. Ambos têm seus pontos fortes. Embora possamos encorajar alguém a fazer parte de um programa de 12 passos que focaliza um mal, também encorajaremos pessoas a se unir a um pequeno grupo na igreja para que possam começar a amar e a se preocupar com as fraquezas dos outros, não importando quais sejam.
Mesmo que não possamos fazer parte dos Alcóolicos Anônimos (AA) porque não somos viciados em álcool, devemos estar familiarizados com os doze passos. Podemos utilizá-los em uma miríade de situações.
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Os doze passos a seguir foram copiados de https://www.aa.org.br/informacao-publica/principios-de-a-a/os-passos
Passo 1: Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.
Passo 2. Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.
Passo 3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos.
Passo 4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.
Passo 5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.
Passo 6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.
Passo 7. Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
Passo 8. Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e dispusemo-nos a reparar os danos a elas causados.
Passo 9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem.
Passo 10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.
Passo 11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade.
Passo 12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes Passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades.
Os Doze Passos são um conjunto de princípios orientadores no tratamento da dependência que descreve um plano de ação para resolver problemas, incluindo alcoolismo, dependência de drogas e várias compulsões. Substitua “Jesus Cristo” por “um Poder superior a nós” (Passo 2) e “Deus conforme revelado na Bíblia” por “Deus como O entendemos”, e os doze passos se tornam os passos do discipulado para qualquer crente. Na verdade, os Doze Passos têm suas raízes em uma organização cristã evangélica, o Grupo Oxford, cujo foco principal era promover a paz e a reconciliação por meio do relacionamento com Jesus Cristo. Foi fundada em 1931 por um ministro luterano, Dr. Frank Buchman. Quatro anos depois, o AA foi fundado como uma irmandade de alcoólatras que trabalhavam juntos para superar seus problemas de bebida.
Nós poderiamos encontrar alcoólatras ou usuários de drogas e imediatamente reconhecer o problema e mostrar a solução. Não seria maravilhoso se o alcoólatra soubesse que era escravo da bebida. Bem, precisamos confrontar nosso próprio vício de escravidão ao pecado. Qual é a coisa, ou hábito, a quem nós nos submetemos como escravos, do qual parece impossível nos livrarmos? Se somos discípulos de Jesus, e se o professamos como Senhor, nós também nos comprometemos a identificar o pecado em nós, confessá-lo e pedir perdão e reconciliação com Deus e com outros. Entendemos que este é um estilo de vida, um ato contínuo, não apenas um evento único. Portanto, pergunto: “Somos viciados em nicotina? Estamos comendo demais?” O que a Bíblia diz sobre a gula? Não é isso que comer demais é? Criamos desculpas como: "Eu tentei parar, mas isso me deixou irritado, tão irritado que outros me acham impossível de conviver?" Ou, “Eu simplesmente não conseguia dormir com as dores da fome”. Ou “Sofro de muito estresse e pego compulsivamente uma lata de refrigerante ou um biscoito”. Quando falamos assim, não estamos agindo como alcoólatras ou viciados: dando desculpas, recusando a culpa ou minimizando as consequências?
Uma vez que tenhamos aprendido o esboço de uma apresentação bíblica do evangelho, devemos ser capazes de ilustrá-lo com referências às personagens bíblicas e às suas experiências. Além disso, devemos estar dispostos a abrir nossas almas para as pessoas com quem estamos conversando: "Sou um exemplo vivo de alguém que foi escravo do pecado. Eu estava cego para minhas próprias falhas. Quando tomei consciência do mal dentro do meu coração, descobri que não tinha forças para me livrar. Foi então que eu me voltei para Cristo e comecei a buscar a Deus e receber seu poder. Foi quando alguém da família de Deus veio até mim para me encorajar. Foi esse o mensageiro de Cristo para me ajudar."
Suponhamos que estejamos seguros financeiramente, familiarmente, socialmente e espiritualmente. Não devemos nos iludir pensando que a nossa luta não seja semelhante a dos pobres. Na verdade, se não pudermos compartilhar nossas lutas contra o pecado, não seremos capazes de ajudar aqueles que estão lutando. Os chamados miseráveis deste mundo facilmente e rapidamente desmascaram nossa presunção espiritual. Quão superficial é nosso consolo se tivermos feito todo o possível para nos desviar de problemas, especialmente o sofrimento que é consequência de professar e obedecer a Cristo! Mas se abraçamos a Cristo e o que significa sofrer por ele, recebemos seu conforto e podemos compartilhar esse mesmo conforto com os outros (2 Coríntios 1:4).
DISCIPULADO E DINHEIRO
Provavelmente, no início de um relacionamento com um pobre, receberemos um pedido para ajudar financeiramente. Escute isso. Linda (nome fictício) é auxiliar de enfermagem, alguém que tem instrução além de primário e segundo grau. No escritório médico, ela desabafou com Marlene, a enfermeira-chefe, uma mãe de meia-idade de três filhos e uma crente ativa em sua igreja. Linda está morando com o namorado na casa dos pais dele. Desde que sua mãe não permitiu que Linda deixasse seu namorado morar com eles, ela foi obrigada de se mudar. O namorado a pediu que se casasse com ele e assim ficaram noivos. Agora ela está grávida. O tio de seu noivo prometeu-lhes o valor de US$ 80.000 para pagar o custo de uma festa de casamento, mas depois desistiu porque disse que tinha três filhos na faculdade e isso é um peso além do que as suas finanças aguentariam. Como eles podem se casar sem este auxílio -- um vestido, smokings para os homens, banquete de recepção, fotógrafo, lua de mel, etc.?
Os pais de seu namorado enfrentam despejo porque o proprietário disse que eles não pagaram o aluguel. Linda diz: “Mas eu paguei”. Marlene pergunta: “Você não deu um cheque ao proprietário? Você não recebeu um recibo?”, ao que ela respondeu, “Não, eu paguei em dinheiro”. Marlene se pergunta: "Será que ela deu o dinheiro ao pai do noivo, que ficou com o dinheiro e não pagou o aluguel?". O noivo dela, conforme o que ela diz, não pode trabalhar porque ele tem câncer. Anteriormente ele constava no seguro saúde de seu pai, mas foi retirado porque chegou à maioridade. Essa é a história de azar de Linda. Então ela pediu a Marlene: “Você poderia me emprestar US$ 150 para comprar remédios para meu noivo? Nós simplesmente não temos dinheiro agora e ele tem essa grande necessidade. Quando eu receber o pagamento, pagarei de volta”.
Marlene e outro membro da equipe sugerem que Linda reduza suas expectativas para um casamento. “Não precisa ser tão elaborado. Você pode comprar um vestido de noiva usado pela metade do preço. Afinal, ele só vai ser usado uma vez. Além do mais, um vestido usado pode estar como novo; e a recepção não precisa ser em um restaurante, pode ser em estilo buffet, como meu casamento no, salão comunitário da igreja”. Linda demora para ouvir, mas logo muda de assunto e volta ao seu trabalho.
Marlene volta para casa pensando em Linda, seu mau desempenho no escritório e como ela chega ao trabalho totalmente estressada. Ela percebe que, embora Linda professe ser cristã, está vivendo por outros valores. Um espírito está dando orientação ao coração de Linda, e esse espírito não é o Espírito de Jesus Cristo. Marlene se pergunta como ela pode orientar a Linda. Linda já conhece a igreja e Jesus de uma forma superficial. O que Marlene pode perguntar ou dizer para ajudar Linda a se aprofundar no seu relacionamento com Jesus? Linda não está dando uma chance a ela. Marlene se pergunta o que pode fazer e leva o assunto a Deus em oração.
Pensando em tudo o que Linda havia dito sobre a saga de sua vida, Marlene resolve contar-lhe algo quando ela traz à tona seus problemas diários. Ela pensa: "Vou dizer-lhe: 'Acho que a sua confiança está sendo abusada. Eles estão se aproveitando da sua bondade. Você está em uma armadilha: Sua mãe não te aceita em casa. Seu namorado está doente e quer dinheiro para comprar remédios. Ele não está trabalhando. Ele não tem seguro de saúde. Agora você está grávida. Os pais do noivo precisam de dinheiro para pagar aluguel ou serão despejados, e você com eles. Além disso parece que eles estão mentindo sobre o pagamento de aluguel. Você tem uma saída?'”
Marlene espera ter uma oportunidade para dizer: “Eu conheço um pregador que fará o casamento de graça. Você terá que se encontrar com ele e ele lhe dará uma boa orientação que sirva de base para sua vida juntos. Eu assisti um casamento que foi realizado num culto de domingo na igreja com uma recepção com comes e bebes depois da cerimônia”. Essa abertura nunca veio.
Quando Marlene ouviu que a Linda tinha professado a fé em Cristo, ela poderia ter perguntado se queria uma vida melhor; e, ao mesmo tempo, ter perguntado: "Você sabia que Jesus trouxe o céu à terra?", e depois de uma breve explicação sobre isso, ela poderia ter perguntado: “Você sabia que uma pessoa se torna como o deus (ídolo) a quem serve? E sofrer o destino desse ídolo?” Isso poderia ter levado as duas para um restaurante, ou um lanche no McDonald's, para continuar a conversa. De qualquer forma, isso teria deixado Linda com algo para ponderar.
Ao lidar com pedidos de dinheiro ou ajuda financeira, é bom mantermos o ensino bíblico sobre dinheiro em mente. Ao fazermos isso, lembre-se de que Jesus e os apóstolos estavam conversando com camponeses e escravos mais do que com qualquer outro grupo de pessoas.
Também tenha em mente que Deus está falando conosco antes de tudo. É fácil ver a falha nos outros e ignorar a nossa. Jesus nos disse para retirar a trave dos nossos próprios olhos antes de tentar tira o cisco do olho de um outro (Mateus 7:1-5).
Paulo escreve que a ganância é idolatria (Colossenses 3:5). Linda anseiava por um casamento grande e pomposo, algo além das possibilidades de sua família. O amor ao dinheiro (ganância) atrapalha a verdadeira adoração a Deus. Sabemos que a adoração aceitável a Deus inclui dar-lhe prioridade em nossas vidas, satisfazendo a vontade dele antes da nossa. Paulo escreve que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os tipos de males (1 Timóteo 6:10). Para ganhar mais dinheiro, as pessoas enganarão o comprador de um carro ou uma propriedade. Ganância nos impede de seremos honestos ao fazer um exame ou uma tarefa escolar (trapaça). O candidato fará uma apresentação incorreta de seu curriculo vitae de trabalho anterior ou desempenho acadêmico para tentar conseguir um emprego com melhor remuneração. A questão mais importante é o que os ajudará a obter mais dinheiro, e não o que honra a Deus ou o que é benéfico para o próximo, seja ele um possível empregador, cliente ou colega.
O que Deus quer é ser honrado por nossa adoração, adoração de um coração crente e submisso. No Antigo Testamento, ninguém seria aceito na adoração ou receberia resposta às suas orações se não trouxesse uma oferta. Deus disse: “Ninguém aparecerá diante de mim de mãos vazias” (Êxodo 34:20). Até os pagãos conheciam esse princípio. Balaão, a serviço do rei Balaque de Moabe, esperava que Deus amaldiçoasse Israel se o rei o aplacasse com ofertas generosas, sete touros e sete carneiros (Números 23:2). Não funcionou porque Deus não muda seu propósito por meio de suborno (Números 23:8). Naamã, um general sírio, trouxe ricos presentes para o homem de Deus para que ele fosse curado de sua lepra, mas ele aprendeu que obediência (para se lavar no rio Jordão) era melhor do que sacrificar (2 Reis 5:5,10). O rei Saul ofereceu um sacrifício para que Deus abençoasse suas tropas na batalha, mas ele não esperou por Samuel, o servo designado por Deus, para fazer o holocausto. Numa outra ocasião, ele e suas tropas ofereceram ofertas de agradecimento pela vitória sobre os amalequitas. No entanto, ele não obedeceu ao Senhor destruindo completamente os amalequitas e seus bens. Em vez disso, eles pouparam tudo que era bom e destruíram tudo que era desprezível (1 Samuel 15:9). Quando Samuel se encontrou com Saul e ouviu o balido das ovelhas e o mugido dos bois, ele disse a Saul: “Será que o Senhor tem mais prazer em holocaustos e sacrifícios do que no obedecer à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o ouvir é melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado da feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e o culto a ídolos do lar. Por você ter rejeitado a palavra do Senhor , também ele o rejeitou como rei” (1 Samuel 15:22,23). Deus se deleita em ofertas, mas somente se forem dadas com um coração submisso.
Quando Israel trouxe ofertas aos bezerros de ouro em Betel e Dã, eles estavam adorando falsos deuses, não seu libertador do Egito, como Jeroboão alegou (1 Reis 12:28). Eles faziam o mesmo quando apresentavam oferendas em santuários dedicados às divindades do céu ou aos deuses das nações ao seu redor. Eles desejavam uma bênção para suas colheitas, seus rebanhos e famílias, mas estavam desagradando a Deus, a fonte de todas as bênçãos. Portanto, Deus puniu seu povo entregando-o nas mãos de seus inimigos e, por fim, permitiu que fosse levado para o exílio (2 Reis 17:22-23; 24:19-20).
Quando as pessoas apresentam ofertas em adoração com corações submissos, Deus as abençoa e cuida delas. Provérbios diz: “Honre o Senhor com os seus bens e com as primícias de toda a sua renda; e os seus celeiros ficarão completamente cheios, e os seus lagares transbordarão de vinho” (Provérbios 3:9,10). Malaquias acusou o povo de roubo a Deus nos dízimos e ofertas. “Tragam todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa. Ponham-me à prova nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não lhes abrir as janelas do céu e não derramar sobre vocês bênção sem medida” (Malaquias 3:10).
Depois que o povo voltou do exílio a Jerusalém, eles se dedicaram a construir suas próprias casas, deixando o templo em ruínas (Ageu 1:4). Consequentemente, eles não receberam a bênção do Senhor. Eles plantaram muito, mas colheram pouco. Eles comeram, mas nunca tiveram o suficiente. Eles beberam, mas nunca foram saciados. Eles vestiram roupas, mas não se aqueceram. Eles ganhavam salários apenas para colocá-los em bolsas furadas (Ageu 1:6).
Pelo critério do mundo, a igreja está roubando os pobres do meio de prover um teto sobre suas cabeças e comida para seus bebês quando os diáconos recolhem a oferta. Isto não podia estar mais longe da verdade. Jesus nos disse para não nos preocuparmos com comida ou roupas, que são as necessidades da vida. A preocupação com essas coisas distorce nosso pensamento, de modo que damos prioridade às nossas próprias preocupações. Jesus disse que os pagãos correm atrás dessas coisas. Não devemos nos preocupar porque Deus sabe que precisamos dessas coisas e ele vai providenciar. Em vez disso, devemos buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça, ou seja, obedecer à sua vontade, e todas essas coisas (as necessidades da vida) nos serão dadas também (Mateus 6:33).
Jesus está ecoando um tema que se estende por toda a Bíblia. A pessoa que medita na lei de Deus e tem o prazer de agradá-lo, prosperará em tudo o que fizer (Salmo 1:2-3). “Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá” (Salmos 1:6). “O ímpio pede emprestado e não paga; o justo, porém, se compadece e dá. . . .O Senhor firma os passos do homem bom e se agrada do seu caminho; se cair, não ficará prostrado, porque o Senhor o segura pela mão. Fui moço e agora sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão. É sempre compassivo e empresta, e a sua descendência será uma bênção” (Salmos 37:21,23-26).
Salmo 34. 19-20 diz: “Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra. Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles sequer será quebrado” (Salmos 34:19,20). Esta passagem profética fala de Jesus cujos ossos não foram quebrados para apressar sua morte na cruz (João 19:36), mas foi libertado da morte por meio da ressurreição. Da mesma forma, mesmo que um crente seja morto por sua fidelidade a Cristo, ele reinará com Cristo e ressuscitará da morte na volta de Cristo (1 Tessalonicenses 4:16; 1 Coríntios 15:49,51-57).
Jesus ensinou que o reino dos céus é como um tesouro escondido no campo. Quando um homem o encontrou, vendeu tudo para comprar aquele campo. É como um comerciante em busca de belas pérolas, que ao encontrar uma de grande valor vendeu tudo o que tinha para comprá-la (Mateus 13:44-45). Assim, Jesus nos ensinou a negar a nós mesmos, tomar nossa cruz e segui-lo (Marcos 8:34).
Alguns do baixo nível economico pensam que são pobres demais para dar a outros. Em vez de dar, na sua mente, eles deveriam receber. No entanto, essas mesmas pessoas compram um bilhete de loteria cada vez que compram um refrigerante e cigarros. Eles consideram sua vida tão difícil que, quando vem um cheque de reembolso do imposto de renda, eles pensam que merecem um descanso, um feriado.
Alguns pregadores, até mesmo alguns na TV, procuram obter dinheiro. Para eles uma doação à causa é “semente que produz fruto” ou investimento de capital inicial que rende lucro financeiro. Torna-se não um investimento nos tesouros da vida eterna, mas um investimento para a prosperidade pessoal. Jesus disse que a viúva, quando dava um centavo, dava mais do que os ricos porque ela deu tudo o que ela possuia para viver. Ela não sabia quando o próximo centavo seria dado a ela para sua próxima refeição (Marcos 12:44). Jesus não disse que, dando uma moeda de cobre, ela sairia do templo e receberia uma de ouro. Ela deu confiando apenas que Deus proveria sua próxima refeição.
Linda vive num universo governado pela ganância. A mãe a empurrou para fora de casa, o tio do namorado recusou de dar o prometido presente de casamento, o namorado, que perdeu o seguro médico, está mendigando dinheiro para comprar remédios, e o pai dele está pedindo mais dinheiro para o aluguel. O chamado de Jesus é que ela venha a Ele e encontre descanso para sua alma. Quando ela fizer isso, ela descobrirá que “seu mundo” a abandonou. A ganância abriu mão de nada. Indo a Jesus ela vai desistir de tudo para encontrar uma vida abençoada e protegida por um Pai celestial amoroso e generoso. Ela encontrará uma nova família no corpo dos cristãos. Ela encontrará ajuda, mas também será desafiada a render totalmente sua vontade à vontade de Deus.
Quando nós falamos sobre o evangelho, os pobres vão reclamar das dívidas que tem que pagar, das dívidas sufocantes de cartão de crédito, dos pagamentos de aluguel atrasados, da falta de dinheiro para material escolar ou remédios, da dificuldade de pagar passagens de ônibus ou da creche. A lista não tem fim. As pessoas precisam aprender a dar. No próprio processo a primeira parte de sua renda a Deus, eles começam a pensar em administrar suas finanças de uma forma que agrade a Deus, e não em gastar o dinheiro à mão em seus desejos e anseios.
Este tópico é tão importante que Bill Hybels fundador da mega-igreja, Willow Creek Community Church, em um subúrbio rico de Chicago, acha necessário oferecer um curso para novos membros sobre a administração de dinheiro e mordomia. A igreja da operários faria bem em ter um conselheiro financeiro treinado disponível para dar um curso de curta duração e/ou orientar alguém com ajuda individual.
DISCIPULADO E A ÉTICA DE TRABALHO
Charles Murray, em seu livro Coming Apart: The State of White America (Desintregação: O Estado da América Branca), 1960-2010 (revisado na revista Newsweek de 23 de janeiro de 2012), chama a ética de trabalho da classe lutadora de "ética idiota". O que ele quer dizer é que uma pessoa trabalhará quando forçada a trabalhar. Se receber uma renda pelo seguro-desemprego do estado, vai ocupar o seu tempo assistindo TV ou navegando na internet. Vai começar a procurar trabalho somente uma ou duas semanas antes do fim do seguro-desemprego. Ele está comprando lazer, não contribuindo com uma conta de aposentadoria ou economizando para pagar a entrada de uma casa.
O rotulo “Ética idiota” descreve as pessoas como preguiçosas. Porém, fale com um deles e você ouvirá algo assim: “Se eu encontrar trabalho temporário, estarei ganhando menos do que ganho pelo meu seguro-desemprego, e ainda terei as despesas de dirigir para trabalho. Se eu arrumar outro trabalho, a renda do seguro vai parar; pois, não posso complementar o seguro-desemprego com outro trabalho. Espero ser eventualmente chamado de volta ao meu trabalho”.
O problema é que as pessoas deixam de ser produtivas. Eles, por meio de conversas informais e por exemplo, também ensinam seus filhos a conviver com o mínimo ou, pior, viver ociosamente. Se o emprego temporário não for economicamente viável, o desempregado poderia dedicar algumas horas do que seria sua jornada normal de trabalho para servir a quem precisa ou para organizações filantrópicas. Paulo escreveu em Tito 3:14: “E, quanto aos nossos, que aprendam também a se empenhar na prática de boas obras a favor dos necessitados, para não se tornarem infrutíferos”. Isso desenvolve o caráter, ensina as crianças a ser generosas, oferece oportunidades de criar amizades e contatos e treina a pessoa para uma promoção ou um emprego melhor. Se eu estivesse entrevistando um candidato a emprego, e ouvisse isso, ficaria impressionado!
Os da periferia aprenderam as regras do jogo. Eles não são estúpidos. Eles têm uma boa mente e a usam a seu favor. Se for financeiramente dentro das possibilidades, eles comprarão um carro. Caso contrário, eles aprenderão as rotas de ônibus, horários e pontos de transferência. Uma mãe solteira logo aprende como acessar programas do governo para complementar o aluguel, creche, alimentação e seguro médico. Se ela se casar e seu marido tiver um emprego, ela perde a maior parte desse auxílio. No entanto, a pergunta principal é: "O que agrada a Deus?". Não, "E então, o que é economicamente vantajoso?".Temos que aprender que a obediência pela fé muitas vezes receberá a sua recompensada mais tarde, depois de ter sido provada.
Mesmo quando o sistema de previdência social não parecer atrativo, o trabalho continua a ser a forma digna e respeitável de ganhar a vida. Pessoas que não conseguem encontrar trabalho ou não têm um emprego, especialmente para os homens, se veem sem propósito.
Linda tem um emprego. O namorado dela está desempregado por causa de uma doença, talvez mais mental do que físca. Ela está grávida. Ela vai fazer um aborto? Provavelmente não. Ela anunciou sua gravidez e está muito orgulhosa do fato. Ela está se deleitando com a maternidade antes que ela chegue. Ela não demorará muito para dar à luz e terá de se ausentar do trabalho para recuperar, e isso sem remuneraçao. Ela poderia estar de volta ao emprego dentro de um mês, com creche fornecida pelos sogros. Se esse relacionamento não for bem sucedido, ela pode muito bem entrar no sistema de previdência social do estado.
Nesse ínterim, ela está trabalhando, mas não está sendo bem sucedida no trabalho. Marlene está bastante frustrada com seus lapsos e a aparente incapacidade de aprender com a correção. Linda segue a rotina de fazer o que se espera dela, mas falta aquela pequena atitude extra que resulta do interesse pela situação dos pacientes enfermos. A preocupação dela é sobre si e a sua situação. Ela está sentindo pena de si mesma e não dos outros. Ela poderia se destacar, mas, do jeito que está, é uma funcionária limítrofe. Ela não será demitida, mas com base nas avaliações de colegas, ela não receberá um aumento. Como ela está se sentindo menosprezada, é provável que vá procurar emprego em outro lugar e pedir demissão.
Os homens não entram no sistema de assistência governamental da mesma maneira como as mulheres. Eles podem entrar no sistema devido a uma lesão relacionada ao trabalho ou outra deficiência. Dor nas costas e lesão muscular dilacerada são duas doenças comuns. Parece que a falta de alegria e propósito no trabalho levam à propensão a lesões. Nenhum médico eticamente responsável dirá a um paciente que sua dor está apenas em sua cabeça. Ele vai pedir uma lista enorme de exames (raios-X, tomografia computadorizada, etc.) e se o problema ainda não tiver sido diagnosticado, ele pode muito bem prescrever opiáceos para a dor. Como resultado, o homem corre o risco de se tornar um viciado.
O trabalho faz parte da maneira como expressamos nossa fé cristã. Paulo escreve sobre o abandono de uma velha forma de vida e a adoção de uma nova maneira de seguir Cristo. Ele escreve: “Aquele que roubava não roube mais; pelo contrário, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o necessitado” (Efésios 4:28).. Paulo diz à nova igreja em Tessalônica para “se afastem de todo irmão que vive de forma desordenada e não segundo a tradição que vocês receberam de nós” (2 Tessalonicenses 3:6). Ele usa a si mesmo como um exemplo para os crentes: “Porque vocês mesmos sabem como devem nos imitar, visto que nunca vivemos de forma desordenada quando estivemos entre vocês,
nem jamais comemos pão à custa dos outros. Pelo contrário, trabalhamos com esforço e fadiga, de noite e de dia, a fim de não sermos pesados a nenhum de vocês.
Não que não tivéssemos o direito de receber algo, mas porque tínhamos em vista apresentar a nós mesmos como exemplo, para que vocês nos imitassem.
Porque, quando ainda estávamos com vocês, ordenamos isto: "Se alguém não quer trabalhar, também não coma" (2 Tessalonicenses 3:7-10).
Nos dias de Paulo, aqueles que não podiam ter um emprego, como as viúvas, deveriam ser sustentados por seus filhos e netos (1 Timóteo 5:4). O trabalho era tão importante que, para evitar que as viúvas mais jovens se tornassem fofoqueiras indo de casa em casa, elas deveriam ser encorajadas a se casar, ter filhos e administrar suas casas, conforme o ensino do Apóstolo Paulo (1 Timóteo 5:13-14). As viúvas mais velhas que não tinham família para cuidar delas deveriam ser colocadas na "lista das viúvas" para receber sustento da igreja, se tivessem sido fiéis a seus maridos e fossem conhecidas por suas boas ações, como criar filhos, mostrar hospitalidade, servir ao povo do Senhor, ajudar os que estão em dificuldades e se dedicar a todos os tipos de boas ações (1 Timóteo 5:9-10). Outro chamado dessas viúvas, junto com as mulheres mais velhas, era o chamado geral de ensinar as mulheres mais jovens. “Que sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amar o marido e os filhos, a serem sensatas, puras, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada” (Tito 2:3-5). Mesmo aqueles que recebem caridade têm o chamado de ser úteis e servir aos outros.
Os rapazes podem ter muita dificuldade para trabalhar se não tiverem o exemplo e o treinamento de um pai amoroso. É difícil trabalhar tendo uma atitude negativa especialmente se o trabalho for enfadonho e mal remunerado. Como um jovem se levanta cedo e persiste dia após dia num trabalho cansativo e repetitivo? Mesmo trabalhando em tais circunstâncias um jovem pode considerar o seu primeiro emprego bem sucedido se receber uma boa avaliação e o endosso do seu gerente para um outro emprego mais desafiador e que também oferece um salário melhor. É difícil, mas não impossível, se alguém fizer isso por causa de Cristo.
Outra área em que os rapazes podem ter dificuldade é aprender a submissão. Sem um pai, eles poderiam ter vivido em desobediência contínua. Uma mãe cansada e sobrecarregada há muito tempo desistiu de executar a punição que ela prometeu a seus filhos quando não seguiram as suas instruções. Papai não estava presente para apoiá-la como uma voz aliada a ela e com autoridade e força. O menino é abençoado se aprender a submissão na escola, na sala de aula ou no campo de esportes com o time. Se o menino não aprender a cooperar e seguir instruções em casa ou na escola, ele será tentado a ingressar numa gangue, onde será forçado a se submeter a algum líder na rua.
Compreender a autoridade, usá-la com sabedoria e submeter-se a ela é claramente ensinado como parte da nova vida em Cristo. Paulo começa o capítulo 5 de Efésios exortando seus leitores assim: "Sejam imitadores de Deus, como filhos amados. E vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós, como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus” (5:1,2). Não devemos ser embriagados com vinho, mas ser cheios do Espírito (Efésios 4:18). Portanto, os discípulos de Cristo, desfrutando da plenitude do Espírito Santo e refletindo o amor de Cristo em todos os seus relacionamentos, estão sendo exortados a se submeterem uns aos outros em reverência a Cristo (Efésios 5:21). Com base neste princípio, Paulo instrui as esposas a se submeterem aos seus maridos e que os maridos tendo o amor sacrificial de Cristo se entreguem às esposas (Efésios 5^:22-28). Desenvolvendo esse mesmo tema, Paulo se dirige a filhos e pais, principalmente pais, e escravos (empregados) e seus senhores (empregadores). Ele escreve,
“Quanto a vocês, servos, obedeçam a seus senhores aqui na terra com temor e tremor, com sinceridade de coração, como a Cristo,não servindo apenas quando estão sendo vigiados, somente para agradar pessoas, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus. Sirvam de boa vontade, como se estivessem trabalhando para o Senhor e não para pessoas,sabendo que cada um, se fizer alguma coisa boa, receberá isso outra vez do Senhor, seja servo, seja livre.
“E vocês, senhores, façam o mesmo com os servos, deixando as ameaças, sabendo que o Senhor, tanto deles como de vocês, está nos céus, e que ele não trata as pessoas com parcialidade” (Efésios 6:5-9).
Paulo também escreve: “Que todos estejam sujeitos às autoridades superiores. Porque não há autoridade que não proceda de Deus, e as autoridades que existem foram por ele instituídas. Assim, aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus, e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação” (Romanos 13:1,2).
Paulo está dizendo que, se somos crentes, devemos ser submissos a Cristo. Ele é nosso Senhor e Mestre. Ele nos salvou para este mesmo propósito: aprender e seguir nosso Mestre e Senhor. Deus, nosso Pai, provê e cuida de nós tanto na vida quanto na morte. Ao mesmo tempo, como pai amoroso, ele espera e exige respeito e obediência. Em nosso serviço a ele, ele nos disciplina para nos conformar à imagem de seu Filho, para nosso bem e para sua glória (Hebreus 12:4-11). Foi ele quem enviou seu Filho para estar conosco, para ser submisso até a morte, para pagar por nossa culpa na cruz e para ganhar por nós a vida eterna por meio da ressurreição. Com tal cuidado amoroso e sacrificial, Deus nos posiciona em relação a seu Filho, que é nosso exemplo e Senhor.
Mestres, empregadores e gerentes, mesmo quando dão ordens, devem tratar os funcionários e servidores com dignidade, respeito e justiça. Linguagem abusiva e degradante e punição vingativa e severa nunca devem fazer parte do estilo de liderança de um gerente cristão. Também, os empregadores devem promover um ambiente de trabalho saudável, oferecendo treinamento no trabalho ou fora dele, para ajudar o funcionário a se tornar uma pessoa melhor.
Os funcionários que são crentes devem servir aos clientes e gerentes como se estivessem servindo ao próprio Jesus Cristo. Isso não é fácil, especialmente se o cliente for irracional, irritado, cansado e tagarela. Como um balconista de uma lanchonete ou de uma casa de carnes pode ver Jesus num cliente em sua frente quando esse está excessivamente exigente e verbalmente abusivo? Como ele pode obedecer alegremente a um gerente se a ordem dele é dada de maneira humilhante? É somente pela fé e pela graça de Deus. Temos fé para confiar em Deus para a vida eterna, precisamos de ter fé para ver Jesus enquanto trabalhamos no mundo. Nosso trabalho é serviço a ele.
As pessoas fariam bem em refletir sobre o que o livro de Provérbios diz sobre a relação entre preguiça e pobreza. Por exemplo, em Provérbios 20:4, o mestre escreve: “O preguiçoso não ara as terras porque é inverno; por isso, no tempo da colheita, procura e não encontra nada” (Provérbios 20:40). Além disso, no capítulo 6. 6-11, o pai sábio instrui o filho a examinar a conduta da formiga e adverte-o sobre a preguiça porque esta leva à pobreza.
Vá ter com a formiga, ó preguiçoso! Observe os caminhos dela e seja sábio.
Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante,
no verão prepara a sua comida, no tempo da colheita ajunta o seu mantimento.
Ó preguiçoso, até quando vai ficar deitado? Quando se levantará do seu sono?
Um pouco de sono, um breve cochilo, braços cruzados para descansar,
e a sua pobreza virá como um ladrão, a miséria atacará como um homem armado” (Provérbios 6:6-11).
Interessantemente, os versículos 10-11 são empregados novamente em Provérbios 24:33-34 e o resultado é descrito nos versículos anteriores (24:30-31): “Passei pelo campo do preguiçoso e junto à vinha do homem sem juízo. Eis que tudo estava cheio de espinhos e coberto de urtigas; e o muro de pedra estava em ruínas”.
Além disso, Provérbios 26. 13-16 nos ensina que o preguiçoso apresenta desculpas ultrajantes para evitar o trabalho.
“O preguiçoso diz: "Um leão está no caminho! Um leão está no meio da rua!
A porta gira nas dobradiças; o preguiçoso se vira na cama.
O preguiçoso põe a mão no prato e não quer ter o trabalho de a levar à boca.
O preguiçoso é mais sábio aos seus próprios olhos do que sete homens que sabem responder bem” (Provérbios 26:13-16).
Na verdade, sobre a ligação entre a preguiça e o sono em Provérbios 6: 9-10 e 6:14, Salomão escreve: “A preguiça faz cair em profundo sono, e o ocioso passará fome” (Provérbios 19:15). No entanto, em nítido contraste com a preguiça, o trabalho diligente traz sua justa recompensa. Em Provérbios 10:4, por exemplo, Salomão observa: “Quem trabalha com a mão ociosa fica pobre, mas o que trabalha com diligência enriquece” (Provérbios 10:4). Da mesma forma, em Provérbios 13:4, Salomão faz um contraste semelhante: “O preguiçoso deseja e nada tem, mas o desejo dos que se esforçam será atendido”
Alguns se perguntam por que o proprietário de uma empresa não valoriza seu trabalho por dar-lhes uma promoção ou aumento de salário. O chefe pode ser um avarento ingrato, mas o problema também pode ser com o trabalhador. Provérbios 10:26 sugere que a preguiça pode ser o problema: “Como vinagre para os dentes e fumaça para os olhos, assim é o preguiçoso para aqueles que o enviam”, para aqueles que o empregam.
Se o nosso ensino não for respondido por uma vontade de aprender da parte do aluno, nossos esforços serão em vão. Ensino sobre administração financeira, sobre casamento e sobre o valor do trabalho tem valor somente se houver na pessoa o desejo de mudar. O ensino vale a pena, mas não produz efeito benéfico algum, a menos que seja posto em prática.
Theodore Dalrymple era psiquiatra britânico secular que trabalha em um hospital de favela onde trabalha de plantão para tratar de presidiários. Alí já tratou de mais de 10.000 pacientes. No seu livro, Life at the Bottom: The Worldview that Makes the Underclass [Vida no Subsolo: O Ponto de Vista que Cria a Classe Mais Baixa] (Chicago: Ivan R. Dee, 2001), ele escreve: “a pior pobreza ... não é pobreza material, mas pobreza de alma” (p.143). Conversando com um colega da Índia sobre o caso de uma certa mulher em seu hospital na Inglaterra, Dalrymple conclui que o problema dela não era pobreza. “O problema dela era que ela não cogitava consequências do seu próprio comportamento, que ela não temia a possibilidade de fome, a condenação de seus próprios pais ou vizinhos, ou de Deus. Em outras palavras, a miséria da Inglaterra não era econômica, mas espiritual, moral e cultural” (p. 139).
Em seu relatório The Negro Family: The Case For National Action [A Família Negra: O Caso para Ação National], 1965, o senador Daniel Patrick Moynihan explica como a discriminação de Jim Crow no Sul, a lei que separava as raças branco e preto no sul dos Estados Unidos, e a falta de empregos para homens negros no Norte dos Estados Unidos, ambos agravados pelo programa de bem-estar de assistência âs crianças após a Segunda Guerra Mundial, conspiraram juntos para destruir a família afro-americana. Influenciado por essas descobertas, o presidente Clinton impulsionou a reforma da previdência. Em Michigan, o nome da agência de bem-estar foi mudado para Conselho de Independência da Família. As mães solteiras agora são obrigadas a trabalhar fora do lar. Em vez de elas ficarem em casa para cuidar dos seus filhos, são obrigadas a levá-los para creches, que são então subsidiadas pelo governo. E isso é feito para o bem das crianças. O programa mudou um pouco, mas não o efeito. A infecção de lares desfeitos e de famílias que vivem pela assistência governamental se expandiu para a comunidade branca e está aumentando de uma geração para a outra.
DISCIPULADO: CASAMENTO E ABUSO CONJUGAL
Linda não é casada, mas está grávida do homem com quem mora. Ela acredita que encontrou o amor verdadeiro e provou seu amor ao se entregar de corpo e alma ao amante. Mas, ele é digno de ser marido e pai da criança que vai nascer? Linda pensa que sim, mas Marlene não sabe. Marlene não buscou saber dos detalhes da vida de Linda. Ela só ouviu o que Linda reclama. Aparentemente, o seu amante perdeu o emprego por causa do câncer. Marlene indaga a si mesma, “Ele perdeu o emprego por algum outro motivo e inventou a história sobre sua doença?” Parece óbvio que eles não se esperaram para coabitar até que o namorado tivesse recursos para alugar ou comprar uma casa. Ele ainda vivia em dependência de seus pais e não era capaz de deixar sua casa e sustentar sua noiva. O casal não esperou para ter relações sexuais até que estivessem prontos para deixar a casa dos pais e estabelecer a sua própria.
Coabitar parece casamento, mas sem o documento legal. Aos olhos do casal, o papel não tem valor. Só o amor um pelo outro é o que conta. Isso é errado, mesmo que tenha certa sanção legal, os indivíduos se abram para abuso sem recurso à justiça. Além disso, não recebe a bênção da igreja (e de Deus). Pode ou não receber a bênção dos pais. O casal não jurou fidelidade um ao outro “até que a morte os separe” diante de Deus, da família e das testemunhas.
Por um lado, Marlene e Linda vivem no mesmo mundo. Eles são residentes e cidadãs americanas. Ambos estão sujeitas às leis do país e são influenciadas pelos líderes culturais. Elas trabalham no mesmo lugar, provavelmente compram em muitas das mesmas lojas, ouvem as mesmas notícias e estão envolvidas de alguma forma com as redes sociais.
Porém, num outro nível, elas pertencem a mundos diferentes. Marlene está no mundo, mas não pertence a ele (João 17:6). A cidadania de Marlene está no céu (Filipenses 3:20). Embora viva neste mundo e cumpra amplamente as leis e costumes de sua cultura, ela tem a sua mente e o seu coração voltados a ouvir o que o Senhor de seu reino está dizendo. Ao seu ver, ela jurou lealdade absoluta a este Senhor e faz todo esforço para em tudo agradá-lo.
Com relação à moralidade sexual e ao casamento, o reino deste mundo está furiosamente lutando contra o reino de Deus. Esse conflito nem sempre é formal, aberto e codificado na lei civil. Em vez disso, como Paulo descreve, o conflito está entravado dentro de nossa própria alma. É o conflito da carne, a natureza pecaminosa, em guerra com o Espírito de Cristo. Os desejos e atos da carne pecaminosa são óbvios, pelo menos para os crentes, Paulo escreve. Eles são: “imoralidade sexual, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçarias, inimizades, rixas, ciúmes, iras, discórdias, divisões, facções, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas” (Gálatas 5:19-21). Tudo isso é o contrário do fruto ou das ações do Espírito: “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gálatas 5:22,23).
A lei do nosso país dá licença para adultos em mútuo acordo entre si terem relações sexuais com os do mesmo gênero ou o oposto, com pessoas em um casamento ou fora dele. Um adulto que tem relações sexuais com um menor comete um crime terrível, mas se o menor completar dezesseis anos de idade não é mais. É permitido relações entre adultos “maduros”. A imoralidade é permitida, mas se você for um legislador ou funcionário do estado, não tem permissão para usar recursos do governo para encobri-la. O adultério é permitido, mas não o uso de fundos do governo para interesse pessoal, não é?
Mas Jesus ensina: “Vocês ouviram o que foi dito: 'Não adultarás', Mas eu lhes digo: Qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração” (Mateus 5:27-28).
Nosso sistema legal dá aos indivíduos o direito ao divórcio sem questionar a razão. As razões podem ser conflito pessoal ou financeiro, incompatibilidade ou simplesmente não se sentir sexualmente atraído como antes - "Nosso amor esfriou". Ou, "uma outra pessoa onde eu trabalho me ouve e me entende. Portanto, é hora de seguir em frente. E não é bom para as crianças se a mãe e o pai brigam o tempo todo. Eles entenderão se fizermos o que nos traz felicidade”. Mas Jesus disse: “Eu, porém, lhes digo: quem repudiara sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério” (Mateus 19:9).
É a vontade de Deus que aqueles que pertencem a ele se casem apenas com aqueles que também são crentes. Paulo escreve que o futuro cônjuge “deve pertencer ao Senhor” (1 Coríntios 7:39). O povo de Israel não devia se casar com idólatras estrangeiros, para prevenir que o amor por eles levasse seu povo a adorar suas divindades pagãs. Malaquias escreve: “Judá profanou o santuário do Senhor, o qual ele ama, e se casou com a adoradora de deus estranho” (Malaquias 2:11). Deus busca uma descendência piedosa, filhos que o adoram e obedecem como seus pais o fazem (Malaquias 2:15). Portanto, ele instrui seu povo a guardar seus mandamentos em seus corações e a inculcá-los a seus filhos (Deuteronômio 6:6-7). O vínculo do casamento não deve ser dissolvido. Deus odeia o divórcio; e também odeia homem que se cobre de violência (Malaquias 2:16). Isto quer dizer que através do divórcio, o homem faz violência àquele que ele deve proteger. “Ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade” (Malaquias 2:15).
O casamento na igreja gentia do Novo Testamento é tido em tão alta consideração que o apóstolo Paulo diz que um irmão ou irmã crente não deve se divorciar de seu cônjuge descrente se este estiver disposto a viver com ela. No entanto, se o incrédulo for embora, o crente não está preso em tal circunstância. No entanto, permanecer casado, mesmo com um descrente, é preferível. Dá espaço para o incrédulo se voltar para o Senhor e permite a santificação dos filhos (1 Coríntios 7:12-16).
Uma grande parte dessa perspectiva bíblica é afirmada por Theodore Dalrymple. No seu livro, citado anteriormente, ele dedica um capítulo ao abuso. É um assunto que precisa ser abordado porque muitas mães solteiras me disseram que se separaram de seus amantes por causa de abuso. Isto é tido como o adultério e serve de causa justificável de separação. Eu pedi que descrevessem o abuso, mas as mulheres solteiras não gostam de falar sobre isso, provavelmente por causa do sentimento de culpa e vergonha causado pelo tratamento de seus agressores. Apreciei a abordagem do assunto por Dalrymple porque tirou a máscara de vergonha que as pessoas não desejam tirar, a menos que primeiro tenham aberto seus corações ao Senhor e permitido que Ele os cure no âmago de seu ser.
Em seu capítulo sobre o abuso, "Amor Duro", ele escreve contra as elites liberais cujos pontos de vista, amplamente adotados por nossa cultura, "transformaram os pobres de uma classe em uma casta". (p. 47). Ele escreve: “Os revolucionários sexuais queriam libertar as relações sexuais de tudo, exceto do mero contexto biológico. Daí em diante, tais relações não deveriam estar sujeitas a acordos contratuais burgueses restritivos -- ou Deus me livre, sacramentos -- como o casamento; nenhum estigma social devia ser atribuído a qualquer conduta sexual que até então fora considerada repreensível. O único critério que regia a aceitabilidade das relações sexuais era o consentimento mútuo de quem as mantinha” (p.46).
Dalrymple viu o fracasso dessa filosofia em primeira mão e como ela afetou os pobres. Ele continua: “Nem por um momento os libertadores sexuais pararam para considerar os efeitos sobre os pobres da destruição de fortes laços familiares que por si só tornaram possível a saída da pobreza para um grande número de pessoas. Eles estavam preocupados apenas com os dramas mesquinhos de suas próprias vidas e insatisfações” (p. 46-47).
Por causa de sua vasta experiência, Dalrymple chegou ao ponto em que podia identificar "a propensão de um homem à violência" através de "seu rosto e porte como qualquer outro traço de caráter fortemente marcado" (p. 38). Ele observa que as mulheres em geral vivem em negação e não reconhecem um agressor e, portanto, universalmente “pensam em si mesmas como vítimas, e não como vítimas e cúmplices que são” (p.39).
Certa vez, fui chamado para aconselhar um casal em que o homem foi acusado de abusar da esposa. Este foi o segundo casamento de ambos e muitos pensaram que foi uma decisão precipitada e imprudente. Enquanto eu os aconselhava, observei como ela manipulava e provocava seu marido. Ele não mostrou violência na minha presença, mas eu podia imaginar para onde a provocação dela poderia levá-lo. Mais tarde, liguei isso com o que ela havia dito muito antes sobre ser abusada sexualmente por seu pai adotivo. Percebi que ela havia aprendido quando criança a chantagear e manipular o pai para conseguir o que queria. Agora ela estava usando a mesma estratégia para conseguir o que queria do marido.
Dalrymple conclui que o ciúme inflamado é a principal causa do abuso em homens, e que isso é vinculado à licença sexual. “Se as pessoas exigem liberdade sexual para si mesmas, mas fidelidade sexual de outras pessoas, o resultado é a inflamação do ciúme, pois é natural supor que eles estão sendo tratados como eles estão fazendo aos outros -- e o ciúme é o precipitante mais frequente de violência entre os sexos” (p. 42). A grande maioria dos homens abusivos que Dalrymple conheceu são "flagrantemente infiéis".
Um homem abusivo, desprovido de autoestima em quase todas as áreas da vida, educação, trabalho ou posição social, obtém uma sensação de status pelo controle que tem sobre "sua garota". Na falta de qualquer outra riqueza, ele possui a única coisa que pode controlar. É assim que Dalrymple descreve o seu controle provocado pelo ciúme.
“Assim, quando ouço de uma paciente que o homem com quem ela mora a espancou severamente por um motivo trivial -- por ter servido batatas fritadas quando ele queria fervidas, por exemplo, ou por não ter limpado a poeira da televisão -- sei de imediato que o homem é obsessivamente ciumento: pois um homem ciumento deseja ocupar cada pensamento de sua amante, e não há método mais eficaz de conseguir isso do que seu terrorismo arbitrário. Do seu ponto de vista, quanto mais arbitrária e desproporcional a violência, mais funcional ela é. De fato, ele muitas vezes estabelece condições impossíveis para a mulher satisfazer – por exemplo, que uma refeição preparada na hora deve estar pronta no momento em que ele chega em casa, embora ele não tivesse dito nem mesmo um espaço de tempo dentro das próximas quatro horas -- precisamente para que ele tenha a oportunidade de bater nela. Na verdade, esse método é tão eficaz que a mente de muitas das mulheres violentamente abusadas que me consultam concentrou-se durante anos em seus amantes -- seu paradeiro, seus desejos, seus confortos, seus humores -- com exclusão de tudo o mais ”(p. 44).
Em uma sociedade mais civilizada, o marido ciumento, que está perdendo o controle de sua esposa, chama o pastor: “Você tem que me ajudar. Faça minha esposa voltar. A Bíblia diz: ‘Esposas, submetam-se a seus maridos em tudo’. Faça-a fazer o que deve fazer”. Esses homens nunca se lembram do contexto em que Paulo escreve que o marido deve amar e cuidar de sua esposa como ele cuida do bem-estar e conforto de seu próprio corpo. Ele deve se dar sacrificialmente e se humilhar, assim como Cristo se humilhou e se entregou pela igreja morrendo na cruz pelos seus pecados (Efésios 5:25-29). Além dessa ignorância, ele exige que o pastor largue tudo e faça o que ele manda imediatamente, naquela hora. O resultado que ele deseja é que sua esposa peça desculpas e volte como um cão submisso, com o rabo entre as pernas.
Por que as mulheres abusadas não vão embora? É porque, escreve Dalrymple, essas mulheres acreditam "na inevitabilidade do ciúme masculino" (p.43). Assim, elas pensam que é melhor conviver com o abuso que conhecem do que com o abuso inevitável que ainda não conhecem. Além disso, acreditam que uma mulher solteira, sozinha na vizinhança, se abre para ser molestada por todos (p. 43). Ainda mais, algumas das que deixaram um agressor para encontrar alívio com um homem calmo e tranquilo, também o abandonam porque o consideram “insuportavelmente indiferente e emocionalmente distante” (p. 46).
Essa maneira de viver a maldição de Éva -- “O seu desejo será para o seu marido, e ele a governará” (Gênesis 3:16). -- é freqüentemente perpetrada na vida de seus filhos. “A tendência social para esses tipos de relacionamento é auto reforçada: os filhos gerados desses relacionamentos crescem supondo que todas as relações entre homens e mulheres são apenas temporárias e sujeitas de mudança. Desde a mais tenra idade, portanto, as crianças vivem em uma atmosfera de tensão entre o desejo natural de estabilidade e o caos emocional que veem ao seu redor. Elas não podem fazer nenhuma suposição de que o homem em suas vidas -- o homem que elas chamam de 'papai' hoje - estará lá amanhã” (p..44-45).
Um resultado desse tipo de lar é que as crianças crescem em uma vida de ilegalidade. Elas não fazem distinção entre autoridade legítima e ilegítima, entre disciplina amorosa controlada e disciplina raivosa brutal. Contra qualquer tipo de restrição, elas reagem somo se fossem amiaçadas: "Não me toque!". Com homens entrando e saindo de sua vida, a mãe é a única autoridade no lar. No entanto, ela muitas vezes mina, ou subverte até mesmo essa sua autoridade por não apoiar a disciplina de seus filhos por um professor ou diretor da escola.
A maldição de Gênesis 3:16 pode ser sustentada de maneira positiva onde a esposa se submete ao marido e onde o marido ama, cuida, sustenta e apoia sua esposa. Em tal casa, o marido apoia a sua esposa quando ela é desrespeitada por uma criança; e ele atende sua esposa quando ela quer que ele se acalme. A disciplina exercida pelos pais unidos, firme e amorosa, oferece, mesmo que apoiada pela força apropriada, um ambiente seguro onde as crianças podem prosperar, e sentir a orientação de um Deus todo amável, santo e perdoador.
Considerando essas coisas, o que a igreja deve fazer? Deve pregar e ensinar ousadamente o que é o padrão bíblico. Nós, o clero, muitas vezes não tocamos em certos assuntos porque sabemos que eles podem criar murmuração na congregação ou ofender uma família influente que está tolerando o pecado entre seus parentes. Além disso, podemos sentir que ensinar a verdade bíblica sobre essas questões impedirá que os interessados e visitantes voltem. No entanto, porque a igreja é a coluna e a base da verdade (1 Timóteo 3:15), ela é obrigada a abordar esses tópicos de maneira séria e urgente (2 Timóteo 4:2-5).
Costumava ser, na minha juventude (década de 1950), que apenas a imoralidade sexual era uma justificativa para o divórcio. Quando houvesse suspeita de infidelidade, o cônjuge poderia contratar um detetive particular para pegar o infrator no ato, como observar o cônjuge conduzindo a outra pessoa para um quarto de motel ou fotografar o suspeito se beijando em um carro à beira de uma rua. No entanto, hoje a igreja não pode contar com o governo para apoiar o ensino bíblico sobre moralidade sexual, casamento e divórcio. Por causa disso, o ensino e o discipulado da igreja entram em conflito com a prática pública e a mídia.
Marlene e cristãos como ela sempre serão desafiados. Eles precisam orar por aberturas para falar a palavra. Talvez possa ser comiseração simpática: "Você gostaria de tomar café da manhã comigo, onde podemos conversar sobre o que está acontecendo na sua vida?". Ou pode ser uma pergunta direta e afiada: "O que você esperava quando errou?". Em outras ocasiões, podemos ser obrigados a falar abertamente quando divertimento moralmente ofensivo é proposto para uma festa de escritório.
Será preciso ficar vigilante em casa sobre o que é permitido na TV e na internet. Com que amigos nossos filhos terão permissão para ficar com que amigos? Se eles passarem a noite na casa de um amigo, que tipo de supervisão haverá? Como os pais e a igreja ensinarão os jovens sobre moralidade sexual?
Em certos círculos da igreja, não é apropriado falar sobre essas coisas. Mensagens sexuais podem ser exibidas na TV o tempo todo, mas alguns pensam que o pregador não deve falar sobre um assunto “tão sujo” do púlpito sagrado. Uma igreja que ministra para operários precisa lidar com essas coisas continuamente. As pessoas dessa classe estão imersas nos caminhos do mundo, e o mundo geralmente é imoral. Seu espírito predominante é que tudo está bem, desde que "ninguém se machuque". Essa é a ficção delirante pela qual muitos vivem..
DISCIPULADO E RECONCILIAÇÃO
Ao aceitar a Cristo e procurar segui-lo, os novos crentes estarão lidando com seus relacionamentos. É necessário que parem de continuar no pecado e isso pode fazer com que alguns velhos amigos se afastem. Provavelmente precisam dizer aos outros: "Estou parando com isso. A razão é que tenho um novo líder. Não sou eu e não é você. É Jesus”.
Ao mesmo tempo, precisaremos ensinar aos novos discípulos como resolver situações de conflito. Alguns relacionamentos, como pai-filho ou marido-esposa, precisam ser restaurados. Ao confessar nossos próprios pecados, podemos ajudar os novos crentes a confessar seus pecados, tomando assim o primeiro passo para a restauração. Além disso, nosso objetivo é apresentar o convertido para a família de Deus. Se a ira, a amargura e a raiva não forem tratadas, essas emoções podem destruir relacionamentos dentro do corpo de Cristo. Como família de Deus, precisamos ser irmãos e irmãs que vivem em harmonia uns com os outros.
Relacionamentos rompidos são um grande problema em nossa sociedade, especialmente entre o povo de baixa renda. É raro encontrar pessoas que sabem da sua história familiar além de seus avós. As pessoas entram e saem de relacionamentos matrimoniais, entram em uma igreja e depois saem, pegam um emprego e depois vão para outro. Alguns podem se apegar a um relacionamento muito desfuncional que é semelhante a uma escravidão opressora. Eles temem uma retaliação brutal, até mesmo assassina, caso falem abertamente e rompam.
Ao discipular novos crentes, os líderes da igreja serão chamados para ajudá-los a tomar decisões que honrem a Deus e a restaurar relacionamentos quebrados e torná-los saudáveis. Esta é provavelmente a parte mais difícil e árdua do discipulado. Vivemos em solidariedade com o novo convertido e sentimos sua dor. Podemos expor a vontade de Deus nessa situação, mas ainda é a responsabilidade do convertido obedecer e sofrer as consequências. Precisamos permitir que eles confiem e sintam a companhia de Cristo em tudo isso. Eles têm que fazer a decisão enquanto nós observamos e oramos, sofrendo junto com eles. Nós também precisamos confiar que Deus cumprirá suas promessas na situação deles.
Há muitos livros escritos sobre perdão e reconciliação, mas o que se segue são algumas passagens das Escrituras que tem sido úteis para mim. Elas ajudaram a me orientar a restaurar relacionamentos sem que eu estivesse dividido interiormente, tentando agradar as pessoas que tomaram posições conflitantes. Este é apenas um pequeno esboço, mas me ajudou a ficar seguro naquelo que é básico. A reconciliação com Deus é o modelo e a base de nossa reconciliação com os outros.
Para se reconciliar, ambos os lados precisam fazer alterações. Em nosso relacionamento com Deus, Deus deu o primeiro passo. O Filho eterno se tornou homem, suportou a maldição de nossos pecados e pagou sua punição na cruz (2 Coríntios 5:21). “E ele é a propiciação pelos nossos pecados — e não somente pelos nossos próprios, mas também pelos do mundo inteiro” (1 João 2:2). Desta forma, Deus se reconciliou conosco. Em vez de ser hostil para conosco, ele agora se inclina em nosso favor, sem levar em conta os nossos pecados contra ele. Ele perdoou o pecado do mundo e não o culpou (2 Coríntios 5:18,19).
Com base na obra de Deus, o apóstolo Paulo implora: "Somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus” (2 Coríntios 5:20). De nossa parte, precisamos reconhecer e confessar nosso próprio pecado. Precisamos nos arrepender, mudar de ideia e aceitar a revelação e vontade de Deus e nos submeter a ela. Em vez de sermos hostis para com Deus, culpando-o por nossos problemas e desculpando-nos por nossas faltas, agora estamos favoravelmente inclinados a ele. Em vez de acusá-lo de maldade, reconhecemos sua intenção amorosa para conosco e a abraçamos. Este é um processo vitalício que molda nossa vida em conformidade com Cristo. Este é então o modelo que seguimos para nos reconciliarmos com os outros.
Em uma situação de conflito, a primeira coisa que temos que fazer é ouvir o que a outra pessoa tem a dizer. Ela está nos acusando de algo. O que ela viu ou ouviu de nós? Em nossa opinião, ela pode estar interpretando a situação erradamente. Pode ser verdade ou não; mas de qualquer maneira, precisamos entender seu ponto de vista.
Depois, precisamos nos examinar para descobrir se nós, de fato, fizemos algo de errado. Há um aspecto da minha vida que não está em conformidade com a vontade de Deus? Eu amo genuinamente essa pessoa? Estou julgando e tomando decisões com base apenas em informações parciais e equivocadas? Cumpri todas as minhas promessas? Tenho dito uma coisa e fiz outra? Escondo e guardo segredos e uso isso a meu favor? Preciso chegar a um ponto em que posso dizer: “Você quer dizer . . .?” (repita a acusação da outra pessoa usando outras palavras). “Eu posso entender porque você pensa assim. Eu realmente fiz tal coisa . . . ” (Admito e confesso meu pecado, aquilo que eu realmente fiz. Eu não confesso algo que não fiz.). "Você pode me perdoar?" (Procure sua resposta). “Você pode me acompanhar para me ajudar a fazer a mudança que preciso fazer?”
Precisamos confessar nossos pecados o mais rápido possível. Em Efésios 4:26, Paulo escreve: “Apaziguem a sua ira antes que o sol se ponha.” Além disso, em Mateus 5:25, Jesus nos ensina: “Entre em acordo sem demora com o seu adversário, enquanto você está com ele a caminho, para que o adversário não entregue você ao juiz, o juiz entregue você ao oficial de justiça, e você seja jogado na prisão”.
Se temos comportamento pecaminoso, é geralmente um hábito. Ao pedir ajuda, estamos dando à outra pessoa o direito de nos corrigir quando erramos, e não iremos contradizê-la ou ficar com raiva quando ela usa esse direito. O que estamos fazendo? Estamos permitindo que nosso adversário se torne o agente de Deus para nos purificar.
A próxima coisa que precisamos fazer é perdoar o que a outra pessoa fez para nos machucar. Aqui, precisamos fazer o que Deus fez por nós – arcar com o custo e não nos vingar. Nosso senso de justiça nos leva a retribuir e nos vingar, mas esse não é o nosso trabalho; é de Deus. Paulo nos instrui como devemos pensar e como agir em Romanos 12:14,16-21.
“Abençoem aqueles que perseguem vocês; abençoem e não amaldiçoem. . . . Tenham o mesmo modo de pensar de uns para com os outros. Em vez de serem orgulhosos, sejam solidários com os humildes. Não sejam sábios aos seus próprios olhos. Não paguem a ninguém mal por mal; procurem fazer o bem diante de todos. Se possível, no que depender de vocês, vivam em paz com todas as pessoas. Meus amados, não façam justiça com as próprias mãos, mas deem lugar à ira de Deus, pois está escrito: ‘A mim pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor.’
Façam o contrário: ‘Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber; porque, fazendo isto, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele.’ Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem”.
Quando retribuimos o bem por mal, estamos amontoando “brasas vivas sobre a cabeça” de nosso inimigo. Não estamos desejando infligir angústia mental e punição em nosso inimigo. Significa o despertamento da consciência da pessoa para que possa se sentir envergonhada e convencida de seu próprio erro. Quando lemos sobre o sofrimento e crueldade infligidos a Cristo, sabendo que ele era inocente, enquanto nós éramos os pecadores e culpados, e que por nós foi morto, começamos a sentir nossa própria vergonha e culpa. Desta forma, Jesus amontoa brasas vivas sobre nossas cabeças.
Se nós, por outro lado, retribuímos o mal com o mal, se nós os julgamos, condenamos e retribuímos da mesma maneira, eles se sentirão justificados em continuar a nos tratar com desprezo e maldade. Em vez de sentirem culpados, eles terão uma falsa sensação de retidão. Por se sentirem justos, eles não se arrependerão, nem sentirão a necessidade de fazer uma mudança.
Isso está de acordo com o ensino de Jesus no Sermão do Monte: “Amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês” (Mateus 5:44). Desse modo, imitamos a Deus, que derrama seus dons de chuva e luz do sol tanto sobre os justos quanto sobre os injustos (Mateus 5.45).
Finalmente, temos uma tendência natural de procurar aliados que simpatizem conosco e fiquem do nosso lado no conflito. Compartilhamos os "fatos" de nossa perspectiva e omitemos o que poder nos comprometer. Em vez de fazer isso, devemos ir ao nosso adversário e apontar sua falha, apenas entre nós dois (Mateus 18.15). Enquanto fazemos isso, estejamos prontos para ouvir seu ponto de vista. Isso pode modificar a nossa condenação. Também pode fazer com que haja mudanças em nós mesmos. Isso geralmente encerra o assunto. Caso contrário, precisamos buscar a ajuda de algum irmão crente sábio e maduro ou um líder de igreja (Mateus 18:16-17).
Deus não quer que soframos em silêncio, absorvendo a condenação até que estejamos deprimidos e cheios de culpa. Também não quer que fujamos e desistamos de lutar pelo bem.
Um livro útil sobre perdão é “Forgive and Forget: Healing the Hurts We Don’t Deserve”, (Perdoar e Esquecer: Curando as Feridas Que Não Merecemos), de Lewis B. Smedes (San Francisco: Harper and Row, 1985). Precisamos entender que este é um lado da equação. Para que a reconciliação ocorra, a outra pessoa tem que fazer o mesmo. Eu espero que a outra pessoa mude seu comportamento -- eu me mudo para me conformar à vontade de Deus; ele se muda também para se conformar à vontade de Deus. O resultado é unidade entre nós dois. Se a outra pessoa demorar para reconhecer seus próprios defeitos e mudar, não vou deixar que isso me impeça de seguir para crescer na fé. Unilateralmente, vou me submeter a Cristo e fazer o que ele quer que eu faça. Quando alguém é convertido, ele ou ela deve passar por esse processo ao lidar com parentes, amigos ou colegas. Quando decido seguir Cristo, entro em conflito com meu pecado e com o mundo que está sob o controle do maligno. Deus, por meio de Cristo, é reconciliado comigo; Eu, pela confissão de fé, estou reconciliado com Deus. Como Deus me perdoou, eu perdoo os outros. Eu aceito a dor e conto o custo, mas chamo aqueles ao meu redor para reconhecerem seus pecados também e se reconciliarem comigo. Em seu cerne, isso é evangelismo e discipulado penetrando em nossos relacionamentos.
A IGREJA DA PERIFERIA
INTRODUÇÃO
Eu uso o termo "igreja da classe lutadora", não "igreja para a classe lutadora", porque esta é uma igreja onde os membros deste nível social não são apenas bem-vindos e celebrados, mas onde a igreja não pode cumprir sua missão sem seu testemunho, seus talentos e habilidades, suas finanças e outros dos seus recursos, seu tempo, sua participação no ministério e seus dons espirituais. Esta é uma igreja que reconhece que não pode crescer espiritualmente na fé e boas obras, e em número de adeptos, a menos que estenda seu alcance às diversas classes que vivem ao seu redor. Alcançando e discipulando membros da classe lutadora e formando uma variedade de pequenos grupos, a igreja pode se expandir para novos bairros. Ao fazer isso, os membros amadurecidos e aqueles com maiores recursos podem aprender a ser como Jesus, vendo as pessoas como ele as via e servindo como ele servia. À medida que os crentes abrem seus corações para a missão de Cristo e para os pobres, eles descobrirão como eles próprios estão lutando para se livrar do fascínio e do poder deste mundo que os leva à escravidão espiritual.
Além disso, o propósito deste livro é ajudar a igreja a cumprir seu mandato de ir e fazer discípulos (Mateus 28:19). Não se trata de um mandato para aliviar a pobreza. Nossa oração, no entanto, é que as pessoas saiam da pobreza à medida que superam o seu estilo de vida destrutivo que por tanto tempo as puxou para a pobreza. Muito queremos que todos possam viver em bairros seguros, mas, mais do que qualquer outra coisa, desejamos que as pessoas não tenham unicamente segurança para viver, mas também que sirvam de refúgio para aqueles ao seu redor que vivem em perigo. Mais do que ganhar mais dinheiro, desejamos que os pobres aprendam a ser generosos com o pouco que têm e a serem gratos. Resumindo, desejamos que a igreja da classe lutadora seja uma igreja que faz discípulos, ganhando os perdidos e ajudando-os a seguir a Cristo.
FAZENDO AMIZADE E CRIANDO AMIGOS
Criando relacionamentos é a chave para um bom resultado em evangelismo e discipulado. Para criar relações, precisamos primeiro fazer contato. Só podemos liderar e ensinar se o líder e os seus seguidores confiarem uns nos outros. As pessoas precisam saber que nós, como elas, lutamos contra o pecado, o confessamos e nos rendemos a Deus. Eles precisam saber que faríamos o que lhes dissermos para fazer se estivéssemos na situação deles. Como Paulo, queremos ser como uma mãe que amamenta e cuida de seus filhos, compartilhando não apenas o evangelho, mas também sua "própria vida" (1 Tessalonicenses 2:7,8), e como um pai que encoraja, conforta e estimula seus filhos para viver uma vida digna de Deus (1 Tessalonicenses 2:11,12).
Podemos ser tentados a dizer que não temos tempo para fazer contato com os do setor operário. Devemos confessar – não temos tempo porque nossas vidas estão cheias de nós. Nossas vidas estão repletas de atividades concentradas em nossa família, escola, trabalho e igreja, e todos esses laços estão com os do nosso nível social. Provavelmente, mais do que qualquer pessoa na igreja, o pastor está isolado do mundo fora da igreja, especialmente das pessoas da renda baixa. Os diáconos trabalham com ministério evangelístico para os pobres. O diretor de evangelismo lida com programas como a Escola Bíblica de Férias. Um comitê de missões mantém contato com o apoio missionário, tanto local quanto estrangeiro.
Por outro lado, o pastor trabalha mais de perto com a liderança do conselho de presbíteros e os diáconos. Isso é muito importante porque cada um gostaria de puxar o pastor para um lado ou para outro. No meio deles, o pastor está procurando liderar e encorajar todos a seguir a vontade do Senhor como pregada e ensinada pela Palavra de semana a semana. O pastor também precisa visitar os enfermos, os que estão em crise, os que se desviaram e os desanimados. As ovelhas do rebanho, muitas vezes feridas e assustadas, precisam de atenção. Os presbíteros deveriam liderar essa obra, mas muitas vezes eles se desculpam: "Estou muito ocupado esta semana". Ou, “Pastor, você pode fazer isso muito melhor que eu”. Então, como é possível que o pastor saia desta comunidade amorosa e se aventure visitar em um bairro onde ele é um estranho, e bater na porta de pessoas que possivelmente não o queiram ver? Para escapar, o pastor precisa deliberadamente reservar o tempo, entrar em contato e fazer essa ligação. Devido ao fato de que os pobres não estão buscando orientação dele, ele tem que ir em busca deles.
A igreja tradicional de persuasão reformada geralmente cresce biologicamente. As famílias cristãs enviam os seus filhos para escolas cristãs e os trazem à igreja. Essas crianças recebem instrução religiosa na igreja. Elas fazem um outro curso especialmente preparado para se preparar para profissão de fé. Este é um processo de educação familiar e acadêmico para moldar a fé e o caráter daqueles que nasceram de pais crentes. A ênfase está em conservar aqueles que nasceram em uma família da igreja.
O método biológico de crescimento da igreja tem enfrentado tempos difíceis. O uso quase universal de anticoncepcionais fez com que as famílias limitassem o número de filhos a três ou menos. É uma receita para crescimento zero.
Uma maneira de fazer amizade com pessoas de fora da comunhão da igreja é por meio do casamento. É muito desencorajado, mas os jovens da igreja às vezes namoram e se casam com alguém de fora da comunidade cristã. A probabilidade de perder a juventude por causa do casamento com um estranho é tão alta quanto à de ganhar o estranho. Se o forasteiro decidir se afiliar à igreja, ele precisa adotar esse sistema cultural e educacional. Alguns fazem isso e prosperam e até mesmo se tornam líderes na igreja. Outros não prosperam, mas toleram o sistema por amor à família.
O alto custo da instrução escolar cristã exclui efetivamente as crianças de operários. Os pais são atraídos e promovem a educação de seus filhos, seja nas escolas cristãs ou nas escolas públicas. Assim, os contados sociais de pais envolvidos na educação cristã de seus filhos, ou os que enrolam seus filhos em academias privadas ou clubes esportivos são muito diferentes daqueles de pais cujos filhos frequentem escolas públicas. Além disso, aqueles que instruem seus filhos em casa tendem a ser atraídos para um terceiro conjunto de associações.
Nós, os crentes da persuasão Cristã Reformada (minha denominação nos Estados Unidos), geralmente defendemos a ideia de que os pais que fazem os votos batismais são obrigados a enviar seus filhos à escola cristã, se houver tal escola na mesma comunidade. Com a passagem do tempo está expectativa das igrejas desta denominação está diminuinda. Acontece que nem toda família tem uma renda que lhe permita pagar a mensalidade integral, principalmente se a família tiver mais de um filho. Então, às vezes, uma igreja decide que deve ajudar essa família, complementando o custo da educação cristã. Isso demonstra a solidariedade da comunidade de fé – os que têm muito compartilham com os que têm menos. É um programa que funciona admiravelmente nas situações em que a grande maioria tenha uma alta renda. Por outro lado, o programa falha quando a grande maioria não tem renda suficiente.
Esse sistema de responsabilidade mútua também falha se um membro da igreja com uma renda menor não demonstra uma vida exemplar. É um segredo estritamente guardado a quantidade de auxilio que uma família em particular recebe. Porém, em uma comunidade onde todos bem conhecem uns aos outros, as pessoas suspeitam qual é o valor desta ajuda. Elas se sentem livres a criticar se a família comprar um carro novo ou viajar para a Disney World, algo que “nós, bom mordomos de nossas finanças, não ousaríamos fazer.” A família pobre toma parte na igreja, mas realmente não lhe pertence. Não é da mesma classe que o resto da igreja. Seus filhos também não são convidados para as mesmas festas e não podem atender às expectativas dos outros, como a possibilidade de fazer um excursão, por exemplo, a menos que seja subsidiado por uma arrecadação de fundos. Subsidiar um programa de igreja ou escola para um pobre é uma forma de fazer contato e estar intimamente envolvido na vida das pessoas, mas por causa de sua estrutura, pode incluir apenas alguns. Não pode ser oferecido à comunidade em geral.
Outra maneira de fazer amizade com os de renda baixa é distribuir alimentos periodicamente num bairro da periferia. Esta é uma oportunidade de atender a uma necessidade sentida por muitas pessoas de baixa renda. Se um voluntário da igreja distribuir literatura (folhetos evangelisticos, convites, passagens das escrituras, etc.) e falar com as pessoas e orar com aqueles que falam de um problema, a igreja começará a se conectar com alguns dos beneficiados.
Tenho feito isso com algumas igrejas há vários anos. Embora eu seja apenas um voluntário, as pessoas muitas vezes me perguntaram: "Você é o pastor?" Se o pastor fizer isso, tenho certeza que as pessoas confiarão nele e o buscarão para obter ajuda espiritual. Se ele negar um pedido de aluguel, por exemplo, terá oportunidade de explicar a missão da igreja e como o povo pode fazer parte dela. Conectados dessa forma com o pastor, alguns podem se sentir atraídos para a adoração e o culto.
Precisamos nos desabusar do pensamento que nossa generosidade fará com que as pessoas sejam gratas, e que essa gratidão é um passo que estão fazendo para se tornarem discípulos de Cristo. O uso de poder e privilégios mundanos para exercer influência sobre outros não promove a verdadeira comunhão no corpo dos crentes. O que provavelmente acontecerá é que aqueles que são tocados pelo eangelho dessa maneira provavelmente buscarão comunhão em outras igrejas, talvez numa igreja grande onde possam frequentar anonimamente. Tendo sofrido algum tipo de abuso eclesiástico no passado, eles examinam o cristianismo de longe e somente se entregam quando se sentem seguros. Em sua anonimidade, eles encontram segurança e, em sua liberdade, podem decidir quando querem aceitar um apelo de aceitar a Cristo e se juntar à igreja e se unir a um pequeno grupo dela.
Marlene, seu pastor e membros da igreja de elite, encontram pobres diariamente. Marlene e muitos como ela trabalham juntos com o setor operária e ouvem de suas dificuldades com os filhos, com um cônjuge infiel, com dívidas, etc. Alguns membros da igreja vem a conhecer um certo garçom ou uma garçonete em seu restaurante favorito. A classe lutadora está em toda parte, mas ao mesmo tempo está longe. Na praça, no serviço, no emprego, nossos relacionamentos costumam ser formais e superficiais. As oportunidades de compartilhar o evangelho são limitadas e geralmente passageiras. Frequentemente, sabemos quando chega um momento oportuno. E nós nos cobramos porque deixamos a oportunidade passar, mas seria um passo na direção certa se tivéssemos reconhecido a abertura.
Porque nossos mundos são tão distantes, é necessário que nós nos tornemos como missionários que viajam a um país estrangeiro: aprendem sua língua, residem em sua terra e de certa forma se sujeitam:às suas regras. O apóstolo Paulo fez isso para conquistar as pessoas das várias culturas onde ministrou. Ele escreveu em 1 Coríntios 9.19-23:
“Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Para com os judeus, fiz-me como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da Lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da Lei, embora eu não esteja debaixo da Lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, a fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, para ser também participante dele”.
Nós nos sentimos muito desconfortáveis e inseguros ao colocar-nos em uma posição onde obreiros são os professores e nós os alunos, onde eles são os donos do estabelecimento e nós somos os clientes, onde eles estão por dentro e nós estamos por fora; mas é empenhando desta maneira que sentimos como os outros estão se empenhando nas suas circunstâncias. Quando nós nos mudamos para o Brasil em 1967 como missionários, vimos as crianças brincando e as ouvimos falar umas com as outras. Eles podiam falar muito melhor do que nós. Nossas mentes estavam pensando como estudantes universitários, mas nossas línguas balbuciavam como um bebê em um berço. Na medida em que aprendemos a língua portuguesa, sempre fomos apoiados pelo amor e a bondade dos brasileiros que deixaram passar a nossa ignorância. É assim que precisamos nos aproximar das pessoas de um nível social menor.
Acredito que o melhor lugar para conhecer pessoas é em suas casas, o lugar que é delas e onde vivem como querem. A questão então se torna: "Como posso ser convidado à casa de alguém?" Às vezes, no caso de vizinhos, trazemos um cartão ou um pãozinho caseiro da minha esposa na época do Natal. Alguns deles nos convidaram para entrar e isso nos leva a conversar sobre a vida espiritual. Fazer uma visita evangelística é mais difícil, mas não é impossível. É provável que o líder de um clube de meninos ou meninas conheça um dos pais de uma criança da comunidade. Um líder pode dizer: “É tão bom ter o seu filho em nosso clube. Ele é como um de nós. Posso fazer uma visita à sua casa para conhecer melhor você e sua família?” Se for positiva a resposta, continue dizendo, “Tudo bem? Qual seria um dia bom para vocês?”.
Nessa visita, não seria difícil perguntar: “Como seu filho ficou sabendo do clube? Quem o convidou? Seu filho está gostando? Quais foram algumas das experiências mais marcantes? O que você achou das atividades do seu filho? Haveria alguma sugestão para melhorar o programa?”. O líder pode perguntar sobre a família, sua formação, trabalho, etc. Ele ou ela também pode dizer: "Eu gostaria de compartilhar o que nos motiva e o que é a coisa mais preciosa em minha vida". Sentindo receptividade pode continuar a falar sobre o amor de Jesus e o que ele deseja de nós. Depois de algumas visitas, o líder pode perguntar: “Você gostaria de estudar a Bíblia comigo?”.
O contato inicial pode ser feito no trabalho, batendo de porta em porta para deixar um convite, ou quando fazemos convites de casa em casa e encontramos alguém com interesse espiritual. Isso não é infrutífero. Uma vez, dediquei uma hora por semana para andar pelas ruas de um setor residencial. Quando me apresentei a uma porta, e me apresentei desta forma: “Recentemente nós nos mudamos para esta parte da cidade e encontramos uma igreja de que gostamos muito. Você aceitaria um convite?” Em três meses, eu me apresentei à porta de todas as casas e quatro famílias visitaram a igreja. Também identifiquei algumas famílias que careciam de recursos para comprar presentes para os filhos na época do Natal. Também, eu me encontrei uma mulher que estava mortalmente doente. Pedi licença para ungi-la com óleo e orar pela restauração da sua saúde (Tiago 5:14,15). Ela recebeu saúde e força novamente, e frequentou o culto diversas vezes, mas não continuou firme. Depois de algum tempo voltou à vida de prostituição. Sem a visitação no bairro ela não poderia ter uma oportunidade para seguir Cristo.
Uma outra maneira de fazer amizade com as pessoas da periferia é organizar uma escola bíblica para crianças no quintal. É uma Escola Bíblica de Férias de uma classe, uma professora, um ajudante em uma casa para as crianças que moram nas proximidades. Ali ouvem uma história da Bíblia, aprendem a memorizar um versículo bíblico, cantam corinhos, fazem um simples projeto de arte manual, e aprendam a orar. No final das sessões, os voluntários podem visitar as casas das crianças para apresentar um estudo bíblico aos pais e mostrar como se faz uma leitura de história bíblica para crianças. Alguns dos pais visitados dessa maneira leram todas as histórias da Bíblia para crianças várias vezes.
Eu acredito que é importante não esconder o nosso propósito. Podemos dizer logo de cara: “Podemos nos encontrar para almoçar em um restaurante ou posso ir à sua casa para conversar sobre o que a Bíblia diz sobre o que significa ser cristão? Eu realmente gostaria de conhecê-lo melhor. Eu quero ouvir sua história”. Eles podem aceitar, mas nós damos a liberdade de se recusarem. Respeitando-os, ainda assim, é reconhecer sua dignidade e sua responsabilidade. É importante que façamos o que Deus deseja e confiemos em Seu Espírito Santo para preparar o solo dos seus corações antes mesmo de fazermos contato.
GRUPOS HOMOGÊNEOS
A ideia por trás da classe lutadora como um grupo homogêneo é que as pessoas gostam de adorar e ter comunhão com sua "própria classe". “Os pássaros da mesma pena voam juntos”. Algumas novas igrejas têm como alvo específico alcançar um determinado grupo demográfico. Por exemplo, a equipe dos fundadores pode ser composta de jovens adultos liderados por um recém-formado do seminário. A música, a comunhão, a pregação – tudo é preparado para satisfazer o gosto dos recém-formados, jovens profissionais, recém-casados, etc. Se um casal de idosos visitar a igreja, dentro de 15 minutos se sentirão que o lugar não é para eles. A música está muito alta. As ilustrações e a aplicação do sermão não se aplicam a eles de forma alguma. Eles acham que a mensagem é superficial, mas os participantes jovens regulares acham que é incrível e penetra os anseios do seu coração.
Os crentes são todos um em Jesus Cristo, mas os ricos têm dificuldade em se relacionar com os pobres, os afro-americanos têm dificuldade em se relacionar com os latinos. Os hispânicos de Porto Rico não se sentem confortáveis com os do México ou de El Salvador. Imagine um Chief Executive Officer (CEO) ou Diretor Executivo e um funcionário do Burger King no mesmo pequeno grupo. O funcionário provavelmente se sentiria tão intimidado que não compartilharia nada, para não ser ridicularizado. O CEO provavelmente não compartilharia sua luta com prioridades ou dificuldades nos relacionamentos pessoais. Como nos Alcólicos Anônimos (AA), um alcoólatra confrontando outro dependente, o CEO precisaria de alguém em uma posição semelhante para confrontá-lo com seus negócios tortos. É por isso que um pequeno grupo de mulheres sente afinidade e liberdade para compartilhar sem a presença de homens.
Também os presidiários, de certo modo, constituem um determinado grupo demográfico. Muitas vezes, conversei com presidiários que vieram para um culto de adoração na cadeia. Eles me disseram como gostaram. Eles se sentiam confortáveis. Foi um serviço especialmente voltado para suas necessidades. Um dos conselheiros voluntários costumava convidar um preso para visitar à sua igreja quando ele fosse solto. Porém, uma vez libertado da cadeia vivendo novamente em casa, o ex-presidiário nunca frequentou a igreja da qual o voluntário era membro. Ele simplesmente não se sentia confortável ali. Só em dirigir o seu carro para o estacionamento da igreja ele dizia a si mesmo que ele não pertencia àquele lugar. Aos seus olhos, o seu carro era somente uma lata de lixo em comparação aos outros carros no estacionamento. E ele dizia a si mesmo, “Eu não pertenço a essa comunidade”. Porém, a verdade é que todos os que estavam naquela igreja também eram pecadores necessitados, mas o ex-presidiário se considerava indigno em comparação. Precisamos levar esse fenômeno sociológico em consideração quando nos esforçamos para discipular os da periferia.
Em 1913, o Rev. William Van Wijk, então pastor da Oakdale Christian Reformed Church em Grand Rapids, escreveu um livreto de 16 páginas intitulado “Stadsevangelisatie, Waarom en Hoe” (Evangelismo Urbano, Por Quê e Como), Grand Rapids: Eerdsman e Sevensma. Grandes igrejas étnicas holandesas de Grand Rapids sentiram o desejo de evangelizar sua vizinhança, mas perceberam que representavam um elemento estrangeiro na cidade. Então, elas estabeleceram pontos de pregação, pequenas igrejas a quem poderiam convidar as pessoas da vizinhança a Cristo e reuni-las em uma congregação que pudesse desempenhar um papel significativo e importante. As igrejas maiores contrataram evangelistas que receberam treinamento no Reformed Bible Institute (agora Kuyper College). Esta escola foi fundada para treinar homens e mulheres em evangelismo e discipulado. Muitos desses pontos de pregação se tornaram igrejas reformadas cristãs. Infelizmente, estes pontos de pregação foram vistos como um tipo de igreja inferior, quando deveriam ter sido respeitados como igual entre as igrejas. O verdadeiro pastor era o evangelista missionário, mas por não ter se formado no seminário, o presbitério não o deixou a administrar os sacramentos do batismo e da Ceia do Senhor. Com o passar do tempo, isso mudou, mas o evangelista ainda servia sob algumas restrições. As mulheres podiam servir na comissão de direção porque não era um verdadeiro conselho de presbíteros e diáconos. A comissão de direção servia como um conselho da igreja, mas suas decisões precisavam ser aprovadas pelo conselho da igreja patrocinadora. O ponto de pregação, a igreja da periferia, nunca entrou nas fileiras de uma igreja “verdadeira” até que alcançasse os padrões da igreja metropolitana. A tragédia foi que quando o ponto de pregação se tornou uma igreja com um pastor treinado no seminário, ele se tornou tradicional e não-evangelístico, e parou de crescer pela evangelização e o discipulado de pessoas da comunidade.
Agora que conhecemos o que é o princípio homogêneo e como ele pode nos ajudar a iniciar novas congregações, precisamos encarar as suas limitações. Koinonia (comunhão) é uma palavra grega que significa “parceria”, “compartilhamento”, “irmandade”. A igreja primitiva cheia do Espírito, imediatamente após o Pentecostes, experimentou uma comunhão enorme. Os crentes “perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. . . . Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. . . . Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração” (Atos 2:42,44,46). Era uma igreja que estava crescendo. “Enquanto isso, o Senhor lhes acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos” (Atos 2:47).
A koinonia de uma igreja vibrante e em crescimento pode, ao curso do tempo, se transformar em “koinonitis”, um termo usado pelo missiologista Peter Wagner para descrever uma igreja que é tão amorosa e compartilhadora entre seus próprios membros que fica isolada e distante do mundo ao seu redor. Em outras palavras, koinonitis é uma comunhão doentia. Os membros conversam e interagem entre si antes e depois do culto. Eles ficam a par das novidades do que está acontecendo com seus amigos. Refeições comunitárias e eventos de arrecadação de fundos para projetos missionários, e a comissão de jovens para um projeto de serviço comunitário ajudam a unir as pessoas. Ainda assim, um visitante se sentiria totalmente deslocado. Existe humor que apenas os membros percebem. É feita referência a eventos que são significativos para membros antigos, mas sem significado para um recém-chegado.
Anos atrás, havia um grupo de pessoas que efetivamente evangelizou seu bairro. A comissão executiva era composta por pessoas de origem étnica holandesa e herança reformada que tinham um coração para o evangelismo. Os voluntários andaram nas ruas entregando convites de casa em casa, dirigiram as Escolas Bíblicas de Férias e levaram crianças da vizinhança para a escola dominical. O pastor pregou mensagens evangelísticas relevantes baseadas na Bíblia e as pessoas da vizinhança aceitaram o evangelho e se uniram à igreja. Em seus estágios iniciais de crescimento, a igreja refletia a composição cultural do bairro. Os membros da igreja se tornaram uma família unida de fé. Com o tempo, os pastores vieram e foram embora. O alcance evangelístico variava dependendo da liderança pastoral, mas os visitantes raramente se converteram e cresceram na fé e dedicação ao ministério da igreja.
Hoje a igreja está tentando atrair novos membros do bairro, mas sua unidade familiar e coesão a impede de ministrar fora de sua concha, do seu lar. Ela prega uma mensagem evangelística, mas continua a seguir tradições do passado, se apegando também à maneira como o evangelismo era feito há 50 anos atrás. Quando vem um visitante, os membros são muito amorosos, mas é difícil assimilar a nova família no seio da igreja. As pessoas amam sua igreja e se perguntam por que os visitantes não continuam a frequentar e depois se arrolar.
Em muitos casos, a vizinhança ao redor da igreja se mudou. À medida que os membros se tornaram mais prósperos, eles se mudaram para bairros mais nobres, onde passaram a congregar em igrejas com um estilo de adoração, doutrina e nível social semelhantes aos seus. Eles estavam fazendo parte de um “transplante” gradual para uma nova área, muitas vezes preservando o modo de vida e as tradições que sempre mantiveram, ocasionalmente atualizando-os para os tempos e à nova geração.
Embora tenham se mudado para um novo bairro, alguns membros, por lealdade à igreja e um desejo de continuar a ter comunhão com amigos de longa data, viajam para participar do culto e de outros programas da igreja. Na vizinhança da igreja, famílias jovens compraram as casas que foram colocadas à venda. Algumas casas se tornaram unidades de aluguel. Esses novos residentes viram isso como um avanço em relação ao que tinham antes. Os antigos membros da igreja, porém, agora frequentadores do culto, viram a mudança de bairro como um retrocesso. Na verdade, o bairro perdeu a estabilidade que tinha antes. O setor operário entrou enquanto a classe média e profissional saíam. Com o passar do tempo, o tamanho da congregação diminuiu e a idade média de seus membros envelheceu cada vez mais. É uma comunidade que vive fora do contexto da nova realidade composta de pessoas que não têm os recursos e energia para manter a programação da igreja. Por fim, o grupo remanescente decide vender o prédio para uma nova congregação. Outro grupo homogêneo (talvez hispânico, talvez afro-americano, talvez outro) veio a predonomiar no bairro e a estabelecer sua igreja.
No Brasil tenho visto a cidade de Taguatinga se transformar de casebres de madeira dos trabalhadores nordestinos que construiam a cidade de Brasília em uma cidade de apartamentos altos cujos habitantes são funcionários do governo e do comércio. Com a demolição dos casebres, as igrejas mudaram radicalmente em sua composição de membros. O sístema de culto e outros ministérios também se mudaram. Muitas vezes, por um tempo, os velhos, os fundadores pioneiros, resistiram a mudânça de stilo de música, etc. A igreja teria morrido se não tivesse adaptado à nova cultura social. É a transformação de pobre para rico, que é mais facil, do que se transformar de rico para pobre, como acontece em muitos centros norte americanos
É no ponto em que a igreja estava mais em seu auge, desfrutando de sucesso em quase todas as áreas de ministério, que ela deveria ter buscando uma visão de como poderia alcançar os novos residentes. Ela deveria ter trabalhado energicamente para abrir pontos de pregação para atrair as pessoas que se mudaram recentemente para o bairro.
A missão do apóstolo Paulo aos gentios estabelece um precedente. Não foi apenas que aqueles que estavam mortos em transgressões e pecados foram vivificados pelo amor e graça de Deus por meio da fé no Senhor Jesus (Efésios 2:1-10), mas também que aqueles gentios que estavam longe, separados de Israel e da aliança com Deus, foram trazidos para perto pelo sangue de Cristo (Efésios 2:11-13). Por meio da aceitação de Jesus como Senhor e Cristo, os gentios foram aproximados para se tornarem parte da “nova comunidade” que Deus estava criando (Efésios 2:15). Paulo escreveu: “Pois todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus;
porque todos vocês que foram batizados em Cristo de Cristo se revestiram. Assim sendo, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vocês são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:26-28). Judeus não pararam de ser judeus, escravos não pararam de ser escravos e homens não pararam de ser homens, e pobres não pararam de viver em casas humildes, mas todos os que aceitaram a Cristo foram unidos em espírito, e todos eles puderam celebrar isso em uma grande assembleia de adoração.
Ao abdicar de sua responsabilidade de ganhar e reunir aqueles que estão distantes cultural e socialmente, a igreja perde a alegria e a vitória da paz em Jesus que supera as barreiras sociais. Quem sabe quanta alegria poderia se esperar de um executivo de uma empresa e um funcionário braçal abrindo seus corações, confessando seus pecados e encorajando un ao outro na fé, se eles fizessem parte do mesmo pequeno grupo?
REPRODUTÍVEL
Uma igreja em multiplicação pode se reproduzir dentro das limitações dos recursos à sua disposição. Muitas igrejas ocidentais contemporâneas presumem que uma igreja pode continuar e crescer uma vez que tenha um prédio e um líder com o equivalente a um diploma de bacharel (três anos de seminário além de um grau superior de ensino de quatro anos). A Bíblia, por outro lado, enfatiza o enchimento do Espírito, a pregação da Palavra de Deus e a submissão ao mandamento de Jesus de amar uns aos outros, bem como ao mandato de sair para fazer discípulos. Em um artigo na revista Christianity Today (abril de 2019), Kate Shellnutt relata como o avivamento da igreja tailandesa foi tabulado por Dwight Martin em um abrangente banco de dados de igrejas nacionais. “Em aldeia após aldeia, os tailandeses que nunca tinham ouvido o nome de Jesus responderam às dezenas para segui-lo. Em um único dia em dezembro passado [2018], 309 pessoas começaram a seguir a Cristo enquanto as equipes da Associação da Igreja Livre em Jesus Cristo (FJCCA) visitaram quatro aldeias pela primeira vez... Martin finalmente perguntou diretamente aos pastores que o acompanharam, “Quem te ensinou como fazer isso?” Eles não entenderam a pergunta. Depois de uma pausa, a esposa de um dos pastores disse: “Acabamos de ler o que Jesus e Paulo fizeram nos Evangelhos e Atos, e fazemos a mesma coisa” (p. 30-31). Shellnutt acrescentou: “A FJCCA agora planta mais igrejas em duas semanas que mais de 300 missionários evangélicos com a Evangelical Fellowship of Thailand (A Associação Evangélica da Tailândia) fazem em um ano inteiro” (p. 31).
Não experimentamos aqui a plantação de igrejas assim na América hoje porque vivemos em uma cultura diferente, uma cultura que foi infundida por uma tradição cristã por séculos. No entanto, nosso pensamento saturado por secularismo e método científico nos impede de sentir o sobrenatural, um mundo de magia, poderes espirituais, bons e maus, e milagres. Além disso, as famílias em áreas tribais da Tailândia provavelmente estão intactas e inter-relacionadas, de modo que aldeias inteiras podem chegar a uma decisão corporativa, enquanto nós vivemos em uma sociedade muito individualista, onde uma pessoa pode tomar suas próprias decisões e agir como queira. No entanto, seria bom crer que o poder de Deus é capaz de penetrar em todas as culturas, em todas as épocas. Afinal de contas, Jesus disse que recebeu toda autoridade no céu e na terra e que estaria com seus seguidores até o fim dos tempos, quando eles saíssem para fazer discípulos (Mateus 28.18-20).
Quando Wayne Ondersma, o pastor da igreja People Investing in Eternal Riches (PIER ) “Povo Investindo em Riquezas Eternas”, estava promovendo classes bíblicas nos quintais, pequenas Escolas Bíblicas de Férias, ele disse: “Clubes bíblicos de quintal são pequenos, simples, sólidos e reproduzíveis”. O tamanho será limitado pelo tamanho do pátio ou quintal. O dono da casa e os voluntários vão convidar um grande número de crianças a menos que haja vários obstáculos que impeçam um grande número de convidados de realmente comparecer. Aqueles que ensinam e dirigem esses grupos geralmente são encorajados a usar materiais didáticos complicados e além da compreensão das crianças criadas sem igreja. Na verdade, a instrução para o professor pode ser muito simples, "Leia a história diretamente da Bíblia várias vezes, depois leia a mesma história numa Bíblia para crianças várias vezes, a fim de aprendê-la de cor. Depois, conte a história usando as suas próprias palavras e aplique-a à vida das crianças”. No Brasil, no início da década de 1980-1990, professores de formação primária, que foram capazes de ler e escrever bem, não tiveram dificuldade em aceitar esse cargo. A maioria delas eram mães, mas cumpriram muito bem o trabalho. Os adolescentes voluntários mais maturos também podem ensinar uma lição. Não é preciso muito para conduzir uma escola bíblica que seja simples e biblicamente fiel.
Esta não é uma ideia pequena. É um conceito que expande a imaginação – ela visa à multiplicação. Ela prevê voluntários de renda baixa liderando e ensinando, mas, ao mesmo tempo, não joga um fardo muito pesado sobre o novo convertido. Deixe-o observar e ajudar no início e depois o deixe assumir a liderança de acordo com o nível de sua experiência e maturidade espiritual.
Tudo isso é muito mais fácil e altamente possível quando os pais realizam culto doméstico. Devoções com a leitura da Bíblia ou de um livro de histórias da Bíblia para crianças, oração e discussão na hora das refeições, são o modelo de culto que pode ser realizado no quintal para as crianças da vizinhança. Realizar culto doméstico é uma tarefa difícil para uma família que não está acostumada nem mesmo a comer juntos. Preparar uma refeição e chamar a família à mesa exige disciplina. Uma criança vai querer terminar um jogo da internet, ou falar com um amigo, cada um com a sua agenda. “Crianças, venham para a mesa agora!”, Diz a mãe. Nesse momento ela tem que exigir obediência. Se papai, seu marido, não está cooperando, ela tem que falar com ele em particular e eles juntos têm que chegar a um acordo sobre como fazer isso acontecer. Ao terminar de comer, cada pessoa vai querer se levantar e sair. Mais uma vez, mamãe ou papai precisam chamá-las de volta.
Veja, os pais estão aprendendo a exercer autoridade firme, amorosa e até vigorosa. O que é verdade para o culto doméstico também é verdade para reunir a família e ir para o culto na igreja. Na verdade, não é diferente ao ir ao cinema ou fazer compras, quando a família vai junto. Ensinar e adorar em conjunto e exercer autoridade amorosa são exatamente o que é necessário para uma escola bíblica no quintal. Essa pode ser uma tarefa difícil, mas é possível quando crentes mais amadurecidos discipulam e orientam os mais novos.
Esta é a pergunta: "A Bíblia prevê tal coisa?" Sim. Por exemplo, em João 4:4-42, Jesus falou a uma mulher samaritana no poço de Jacó, fora da cidade de Sicar (4:5). Quando ela quis a água viva da qual Jesus falou, Jesus disse lhe: “Vá, chame o seu marido e volte aqui” (João 4:16). Quando ela disse que não tinha marido, para sua vergonha, Jesus disse que ela estava morando com um homem, não seu marido, depois de ter se casado e se divorciado cinco vezes. Ela percebeu o conhecimento sobrenatural de Jesus e concluiu que Jesus era um profeta (4.19). Então Jesus se revelou como o Messias (4:26). Quando a chegada dos discípulos interrompeu a conversa, ela deixou sua jarra d'água e correu para a aldeia e disse ao povo: “Venham comigo e vejam um homem que me disse tudo o que eu já fiz. Não seria ele, por acaso, o Cristo?” (4:29).
Podemos imaginar uma mulher, filha de um viciado em drogas, que foi obrigada a proteger seus irmãos menores enquanto eles foram separados dos pais e entregues a uma série de pais de criação; uma mulher que em sua vida adulta, deu à luz cinco filhos com cinco homens diferentes, todos abusivos, e que agora está vivendo com um sexto homem. Ela vem ao encontro de Jesus e vai para contar a outros do seu amor e perdão? O que a tornaria capacitada para falar a outras pessoas sobre o Salvador? Ela teria que expulsar o homem com quem está morando? Ou ela teria que se casar com ele? Depois de receber Jesus como Senhor, quando e como pode ela começar a servir na igreja, o Corpo de Cristo?
É da mais profunda tragédia de um convertido que seu testemunho vem. A mulher samaritana disse: “Venham comigo e vejam um homem que me disse tudo o que eu já fiz. Não seria ele, por acaso, o Cristo?” (João 4.29). Por causa do testemunho da mulher, muitos samaritanos acreditaram em Jesus (4.39).
André e Filipe são outros exemplos de pessoas que compartilharam o evangelho com outras pessoas logo que começaram a seguir Jesus. André foi um dos discípulos de João Batista (João 1:40). Ele estava com João na beira do Rio Jordão, onde João estava batizando (1:28). Quando João viu Jesus passando, ele disse: "Eis o Cordeiro de Deus!” (João 1:36). Quando André e o outro discípulo anônimo de João ouviram o testemunho de João, eles seguiram Jesus (1:37). Depois de passar um dia com Jesus, a primeira coisa que André fez foi ao encontro do seu irmão Simão e dizer-lhe: “Achamos o Messias ’” (João 1:41).
Como André, Filipe é outro exemplo de um discípulo que fez outro discípulo. Logo que Filipe atendeu ao chamado de Jesus para segui-lo (1:43), ele encontrou Natanael e disse-lhe que eles haviam encontrado aquele sobre o qual Moisés escreveu em Deuteronômio 18:15, “O Senhor , seu Deus, fará com que do meio de vocês, do meio dos seus irmãos, se levante um profeta semelhante a mim; a ele vocês devem ouvir”.
Em Atos, Lucas registra duas vezes (Atos 22:3-16; 26:12-18) como Paulo deu testemunho de como o Senhor Jesus apareceu a ele no caminho para Damasco e o comissionou para ser seu “servo e testemunha” (Atos 26:16). Embora fosse blasfemador, perseguidor e violento, Deus mostrou misericórdia a ele (1 Timóteo 1:13). Com essa experiência, ele escreveria: “Esta palavra é fiel e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, que sou o principal pecador, Cristo Jesus pudesse mostrar a sua completa longanimidade, e eu servisse de modelo para todos os que hão de crer nele para a vida eterna” (1 Timóteo 1:15,16). A partir do exemplo de Paulo, vemos que o novo cristão confessa seu pecado e não se vangloria disso; mas ao compartilhar seu testemunho, ele celebra o amor, a misericórdia e o poder de Deus. Quando o novo crente aprende como compartilhar seu testemunho, ele ou ela dirá aos outros: “Deus fez uma grande coisa por mim. Ele pode fazer o mesmo por você”. Os pobres e indoutos que encontraram a paz têm uma história para contar e, ao fazê-lo, tornam-se instrumentos de multiplicação nas mãos de Deus.
Infelizmente, em muitas igrejas estabelecidas, os membros acreditam que é a equipe paga que deve levar as pessoas a Cristo. Eles dizem: “Contratamos o pastor para pregar sermões comoventes, o líder da mocidade para inspirar os jovens a dedicarem suas vidas a Cristo, e o diretor de evangelismo para ajudar aos necessitados. Vou ajudar se tiver tempo, mas, por favor, não me peça para dizer alguma coisa. Falar? Esse é o trabalho deles. Deixe que eles façam isso”. No entanto, essa visão da igreja está errada porque viola o ensino bíblico do sacerdócio de todos os crentes (1 Pedro 2:9) que enfatiza que cada um deve alcançar um (2 Cor 5:18).
Além disso, a igreja da periferia não tem o luxo de contratar, empregar tal equipe. Eles mesmos são o pessoal. Eles precisam de um líder, que pode receber um salário integral ou não, mas os membros são os ministros, missionários, conselheiros, educadores, terapeutas e muito mais. À medida que cada parte do corpo faz sua parte, ela se une em amor e cresce em todos as áreas (Efésios 4:15-16), tanto em maturidade quanto em número para o louvor de Deus.
Este princípio de reprodução deve operar em cada igreja porque é o ensino dos Evangelhos e Epístolas e a ênfase da Reforma Protestante no sacerdócio de todos os crentes. É a vontade de Deus para cada igreja, mas é especialmente importante na igreja da periferia. Aqueles que viviam em dependência, e muitas vezes faziam coisas erradas, precisam saber que pela fé em Cristo são ricos e herdeiros da vida eterna. Por meio do poder do Espírito, eles podem vencer o pecado e, por meio desse mesmo Espírito, receber os dons, talentos e experiências para serem produtivos em seu reino. Uma falsa humildade e piedade, e um pensamento mesquinho de pobreza, não devem ser tolerados na igreja. A igreja da periferia recebeu de Cristo todos os recursos necessários para se reproduzir e crescer. Líderes e crentes estarão orando de joelhos por aqueles em situações desesperadoras e estarão pedindo ao Senhor para ajudá-los a verem os recursos para aliviá-los. Deus responderá às suas orações com o seu Espírito (Lucas 11:13).
O PERIGO DO PATERNALISMO
Paternalismo é uma relação doentia em que uma pessoa ou organização mais forte domina e controla outra mais fraca por meio de ajuda generosa. Damos e, junto com a doação, controlamos. Nós continuamos a ajudar e continuamos a manter em dependência porque cremos que eles não podem aprender, não os ensinamos e nem lhes entregamos responsabilidades que podem levar à independência. Podemos pensar: “Doação já é penosa, e agora, além disso, você está me pedindo para ensiná-los? Isso é demais!” Por exemplo, para mim é mais fácil fazer uma refeição do que dedicar o tempo para ensinar minha filha como fazê-la. É mais trabalhoso e demorado ajudar esta criança desajeitada e inexperiente a medir, cortar, misturar, fritar, ferver ou assar, do que eu mesmo o fazer. Dar e providenciar são apenas metade do trabalho. Treinar alguém para uma vida independente custa muito mais.
Um exemplo extremo de paternalismo é uma mãe que sofre de ansiedade de separação ao se despedir de seu filho que vai para a faculdade. A mãe quer ligar todos os dias para saber como está o filho. Em todas as orientações para calouros, a universidade insiste que os pais saibam que não devem fazer isso. O filho tem que ter a liberdade para ser ele mesmo. Os pais ouvem: “Seu filho vai ficar bem. Relaxe".
O segredo para um relacionamento saudável é apoiar os filhos enquanto eles são dependentes. Ao mesmo tempo, eles precisam ser treinados para obedecer, aprender com os pais e ajudar em casa conforme a sua habilidade. Às vezes, eles precisam ser corrigidos e disciplinados caso se mostrem rebeldes. Em casa, eles aprendem a cumprir as regras da casa. Na época apropriada, os filhos receberão o incentivo e a bênção dos pais quando partirem para a faculdade, o serviço militar ou se casarem. Os pais podem estar tremendo de ansiedade com receio de que seus filhos farão confusão. Mesmo assim, precisam deixá-los ir e permitir que aprendam por conta própria e sofram as consequências de seus próprios erros. Foi exatamente assim que os pais aprenderam quando estabeleceram a sua nova casa.
De maneira semelhante, os novos convertidos devem ser treinados e motivados a liderar e treinar outros. Certamente erros vão ocorrer enquanto fazemos isso. Às vezes, damos muita liberdade e responsabilidade cedo demais. Às vezes uma pessoa pode exigir uma posição quando não está pronta. Por essa razão, Paulo advertiu que um presbítero, um bispo (supervisor) “não seja recém-convertido, para não acontecer que fique cheio de orgulho e incorra na condenação do diabo” (1 Timóteo 3:6).
O paternalismo era frequentemente praticado pelas igrejas-mães em relação às filiais, as igrejas emergentes. Por exemplo, as congregações geralmente recebiam subsídios financeiros de igrejas maiores e mais prósperas; mas as igrejas maiores também controlavam as filiais. Além disso, as pessoas das filiais não podiam preencher adequadamente as funções estabelecidas pela igreja mantenedora. Consequentemente, essas funções continuaram a ser preenchidas, ano após ano, por pessoas mais capazes da igreja mantenedora. Por exemplo, um professor de escola dominical não orienta nem dá oportunidade a um membro da filial dirigir a classe. Em vez disso, ele continua em sua posição porque, em sua opinião, ninguém mais pode fazer o trabalho tão bem quanto ele. Ou o professor exigente não permite que a lição seja substituida por material didático que é mais fácil de entender e mais fácil de ensinar. Infelizmente, enquanto os convertidos não estão sendo treinados para preencher funções de ministério e liderança, eles continuarão a agir como crianças, eternamente alunos da escola dominical.
A Igreja Cristã Reformada certa vez tinha um fundo para igrejas menores. O número dessas igrejas estava aumentando devido à migração de membros das áreas rurais para centros urbanos. Os jovens da igreja, não vendo oportunidade na zona rural, saíram de casa para buscar emprego mais lucrativo ou foram estudar numa universidade. Com o declínio do número de membros, essas igrejas rurais não podiam contribuir para ministérios denominacionais, nem continuar pagando um salário adequado para um pastor de tempo integral. Saiba, um pastor de tempo integral era algo que as pessoas esperavam e a denominação exigia de seu clero. Consequentemente, essas igrejas estavam em uma situação difícil. O povo da igreja havia sido acostumado a exigir um clero treinado em seminário de tempo integral e, para complicar as coisas, a denominação impôs um padrão salarial. Quando estudantes no seminário, os pastores não cogitaram a possibilidade de buscar posições não pastorais. Os leigos não foram treinados para pregar expondo a Palavra de Deus, nem tinham permissão para administrar os sacramentos. Por fim, a denominação decidiu que o número crescente de igrejas dependentes menores não poderia ser sustentado dessa forma. A ajuda denominacional gradualmente foi reduzida e finalmente eliminada. Muitos pastores deixaram essas igrejas e as igrejas fecharam. A grande maioria dessas igrejas continuou com uma liderança leiga ou com pastores interinos ou bi-vocacionais.
O ciclo do paternalismo foi quebrado, mas não conheço alguma igreja pequena que floresceu e cresceu. O fluxo de fundos alocados a congregações menores e estagnantes parou. Em vez disso, as Missões Nacionais e a renovação presbiterial tiveram sucesso apenas limitado em motivar igrejas pequenas a crescerem. Às vezes, a estratégia foi fechar a velha e abrir uma nova igreja com um pastor e um grupo de pessoas comprometidos ao evangelismo e ministério na vizinhança.
Assistência diaconal também pode ser dada de forma paternalista. Isso é feito quando os diáconos ajudam uma família com a expectativa de que aqueles que recebem ajuda demonstrem gratidão frequentando a igreja e/ou buscando emprego. Se a família carente não alcançar as expectativas, o relacionamento se torna azedo. É melhor ajudar apenas para ajudar sem exigir nada em troca. Então, os destinatários estão livres para não nos seguir e nós por nossa parte temos a liberdade de suspender a assistência.
Às vezes, nosso sentimento de compaixão é tão grande que não deixamos alguém sofrer as consequências de sua própria tolice teimosa e insustentável. O livro de Provérbios tem muito a dizer sobre as consequências da tolice. Aqui estão alguns exemplos. “O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os insensatos desprezam a sabedoria e o ensino“ (Provérbios 1:7). “Os ingênuos são mortos porque se desviam da sabedoria; os tolos são destruídos por estarem satisfeitos consigo mesmos” (Provérbios 1:32). “A mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata a derruba com as próprias mãos” (Provérbios 14:1). Existem muitas outras passagens desse tipo. Por intervir cedo demais, ou por ajudar demais, nós não permitimos que Deus fale à consciência por meio do sofrimento que ele inflige. Às vezes, uma pessoa ouvirá Deus falar por meio de um capelão na prisão quando ele se recusou a ouvir o pastor na igreja. Foi enquanto alimentava porcos que a consciência do filho pródigo foi despertada e ele caiu em si e resolveu voltar para seu pai (Lucas 15:17-20). É bom mostrar misericórdia e aliviar a dor, mas há muitas situações em que é melhor não ajudar, mas permitir que a pessoa sofra as consequências de suas ações tolas.
Um exemplo talvez seja o de uma mãe crente com filhos que continua a viver com o marido ocioso e viciado. Ela sustenta seu vício ligando para seu empregador, "Henrique não pode ir ao trabalho hoje. Ele está doente." A igreja pode ajudar uma vez, quando vem um aviso de desligamento da companhia elétrica, mas não ajuda uma segunda vez. Embora a igreja tenha recursos financeiros para pagar a conta novamente, pode dizer a ela: “Esta situação é insustentável. Não tomaremos parte do abuso dele da sua bondade e tolerância. Se você quiser, podemos ajudar você achar um lugar para você morar num abrigo para mulheres.” Mas ela se recusa. Ela não quer confrontar o marido dizendo-lhe que ela vai sair se ele não tomar providência para se livrar do vício. Ela tem medo de sua rejeição e raiva. Eventualmente, chega o dia em que companhia elétrica avisa que a energia vai ser interrompida. Virá o dia que o dono da casa envia um aviso de que seus bens serão despejados por falta de pagamento do aluguel. Assim chega o dia em que é obrigada com seus filhos a desocupar a casa. O que ela tanto temia aconteceu. Ela se tornou vítima da inatividade. Um resultado positivo seria mais provável se ela tivesse agido com fé e confrontado o marido mais cedo ou mais tarde.
Minha esposa e eu regularmente oferecemos caronas para as pessoas, a fim de possam vir aos cultos com mais facilidade. Esperamos que, uma vez que eles conheçam o caminho e gostem, eles consigam chegar à igreja por conta própria. Já vi pessoas caminharem cinco quilômetros para fazer negócios ou fazer compras, mas não estavam dispostas a caminhar dois quilômetros até a igreja. Se não houver carona, eles não vêm, embora possam andar. Outras vezes, porém, há uma necessidade real e fazemos isso por muito tempo.
Eventualmente, toda essa ajuda de dar uma carona vai chegar ao fim. Considerando isso, sou lento para oferecer uma carona para a igreja. Vou encorajar a pessoa que não tem veiculo a pedir uma carona a outro membro da sua família, ou talvez a um amigo ou vizinho. Se eles aceitarem o desafio e estiverem entusiasmados com a fé, esta pode ser a sua maneira de convidar alguém para a igreja e, ao mesmo tempo, compartilhar sua fé.
Algumas pessoas em necessidade extrema procuram uma carona, ou algum dinheiro, ou algum outro benefício. Sua confiança está em coisas materiais para cumprir seus desejos. Outros esperarão no Senhor. Eles orarão e obedecerão a Deus mesmo se forem abandonados, mesmo que esteja doendo. Eles vão esperar até que Deus abra uma porta de oportunidade. Podemos orar com eles, dando-lhes nada além de nós mesmos, e quando a resposta vier, eles saberão que foi Deus e não nós. Podemos ser agentes da graça de Deus, mas muitas vezes atrapalhamos dando coisas e querendo parte do louvor . Alguns são usuários dos benefícios de Deus para sua própria agenda, outros são seguidores submissos. Nós também podemos ter nossa agenda, não permitindo o que Deus faça o que ele queira. Não vamos criar dependência paternalista!
PLANTANDO UMA IGREJA DE PERIFERIA
Neste livro, meu objetivo foi estabelecer a necessidade de plantar igrejas na periferia. A pessoa mais importante para este trabalho é o plantador de igrejas. Ele deve ter uma forte convicção do chamado do Senhor em sua vida para fazer esta obra. Deve ter uma visão de como será a igreja que ainda está por vir, seu lugar na comunidade, seu povo, seu estilo de culto e seu ministério. Como líder, ele precisa compartilhar esta visão com outros e reuni-los em um núcleo de famílias igualmente motivadas para juntamente se empenhar para realizá-la. Ele precisa ser um líder, alguém que tomará a iniciativa e sairá da sombra de alguém que inicialmente podia tê-lo motivado a fazer esse trabalho. E ele precisa ser um homem, "esposo de uma só mulher” (1 Timóteo 3:2) e “governe bem a própria casa” (1 Timóteo 3:4), pois estará ministrando às pessoas que foram feridas por relacionamentos. Mesmo que suas vidas sejam fragmentadas, eles vão querer saber que seu pastor é confiável e é alguém que cumpre o que prega.
Suponha que uma igreja de elite sinta o chamado para começar uma igreja da na periferia. Onde ela encontrará essa pessoa para formar uma equipe e liderar uma igreja emergente? O conselho de uma igreja normal teria uma resposta quase unânime: “Precisamos chamar (empregar) um obreiro e nomear uma comissão para supervisionar seu trabalho”. Por causa de uma decisão assim, a nova igreja vai ser sujeita a um orçamento maior do que os membros pobres podem sustentar. É mais fácil para a igreja de elite designar dinheiro do que mobilizar uma equipe de voluntários leigos para evangelizar e discipular operários.
O conselho deveria perguntar: “Devemos, ou não, mobilizar uma equipe de voluntários para o ministério? Quem pode mobilizar essa equipe?” A pessoa que eles procurariam para liderança seria o pastor de sua igreja.
Pode uma equipe, como marido e mulher juntos, com mais algumas pessoas, começar uma igreja? Pode, mas inevitavelmente um deles se tornará o líder. Os membros da equipe podem formar um grupo de estudo da Bíblia com o propósito de aumentar o número de seus participantes. No entanto, a equipe deve entender que a tendência de um grupo será de se acomodar ao que é confortável para a maioria. Um bom líder visionário é necessário para manter o grupo focado no alvo. Ele ou ela também será obrigado a permitir que algumas pessoas saiam, se não desejarem fazer os sacrifícios necessários de tempo e recursos. Na verdade, o líder pode sentir a necessidade de pedir a alguém que saia, caso esteja impedindo a formação e crescimento do grupo em uma igreja. Às vezes, o líder ficará sozinho, mas ele deve confiar que Deus moverá o coração daqueles que seguirão em obediência a Cristo. Se isso acontecer, o líder deve interpretar essa saída nem como disciplina por um erro, nem como uma falha do grupo em cuidar da vida espiritual de seus membros. A liderança por consenso pode trazer paz, mas não levará o grupo a avançar.
Na plantação de igrejas, um grande obstáculo a ser superado é a tentação de conduzir a igreja como comércio ou corporação, onde a diretoria contrata e julga o desempenho do CEO (o pastor). Os presbíteros exercem autoridade sobre o pastor, o presbítero docente, enquanto o pastor prega e ensina apenas com a esperança de que os presbíteros ouçam, entendam e sigam. O pastor não está acostumado a exercer autoridade espiritual sobre os presbíteros e diáconos de uma forma que eles imitem o tipo de liderança que Jesus exerceu sobre seus discípulos. Não estamos acostumados a pensar nos membros do conselho como discípulos do pastor. A igreja permitirá que o pastor seja o tipo de líder que faz discípulos? Esta é a questão enfrentada por todo conselho de igreja e todo pastor.
Além disso, o pastor pregador de uma igreja de elite raramente tem experiência em evangelizar e discipular pessoas pobres. Ele está acostumado a pastorear a congregação e administrar a educação dos jovens da igreja. Ele é o coordenador dos funcionários pagos da igreja se a igreja não tiver um diretor administrativo. Ele está no centro de um grupo homogêneo que resiste a aceitar estranhos. No entanto, ele é a pessoa que precisa lançar a visão para o trabalho e convencer a diretoria a permitir que ele dedique uma parte de cada semana para evangelizar e treinar uma equipe de discípulos que, por sua vez, são capazes de fazer outros discípulos (2 Timóteo 2:2). O pastor pode se sentir totalmente inadequado, mas isso é uma coisa boa. Isso o faz confiar em Deus e não em si mesmo. Também o obriga, e a todos os que aceitam sua liderança, a aprender das próprias pessoas que evangelizam. Eles podem conhecer as escrituras, a Bíblia, mas também precisam de ler um outro livro – as pessoas da classe lutadora. Ao ouvirem as pessoas que eles estão conduzindo a Cristo, eles estão aprendendo a ler as escrituras de uma nova maneira, uma forma que comunica a verdade aos quebrantados e abatidos.
Eu ouvi falar de um pastor que ficou sozinho dentro de seu escritório enquanto a igreja dirigia a escola bíblica de férias. Por que ele não participou? Ele estava exercitando seu dom! Por que ele não se apresentou para encorajar aqueles que estavam trabalhando abnegadamente? O pastor pode estar acompanhando a liderança da escola bíblica, encorajando e orando por eles. Ele poderia chamar um grupo de pessoas para orar junto com ele enquanto a escola bíblica está em funcionamento. Ele poderia se apresentar na assembleia de abertura, visitar as aulas e se misturar com as crianças durante o tempo de artesanato. Melhor ainda, para aumentar muito a frequência das crianças da vizinhança, ele poderia motivar os professores a participarem de classes bíblicas nos quintais – convencer pessoas a abrirem suas casas, convidar crianças da vizinhança e dar aulas.
A igreja também pode hospedar festas de rua, ou um piquenique de “cachorro-quente” num bosque, ou serenata cantando hinos natalinos nas ruas num bairro terminando com canjica quente para todos. Em todos esses eventos, o pastor pode ser uma presença visível. Desde que estas atividades estejam sendo realizados nos bairros do povo, professores e voluntários podem estar anotando os nomes e endereços dos participantes para posteriormente fazer visitas às casas. Aqui, novamente, o pastor pode orientar pessoas para o trabalho.
Além disso, o pastor pode dedicar uma hora por semana junto com uma equipe para fazer visitas na comunidade de casa em casa a fim entregar convites, orar por necessitados e falar com pessoas dispostas a aprenderem do evangelho. Ao fazer isso, ele estará treinando outros a trabalhar nas trincheiras, por assim dizer. O tempo todo, o pastor é principalmente o pastor do rebanho. Todas as atividades que mencionei podem ser periféricas ao seu trabalho principal, mas o rebanho sabe que o coração do pastor está em busca dos perdidos. À medida que aumenta o envolvimento da igreja no ministério entre pessoas de baixa renda, líderes emergem. O pastor pode perguntar a alguém: “Podemos contar com você para organizar um evento no centro comunitário ou na praça do bairro? Você pode dar a mensagem?” Ou um alcoólatra convertido em recuperação pode ver a necessidade de iniciar uma reunião de AA. Ou algumas mulheres formarão um grupo para dar apoio para mães não-casadas. A igreja de elite estará ministrando para a classe média para cima, mas não deve negligenciar os bairros carentes. Está se tornando conhecida como uma igreja missionária para todos.
No meio da igreja missionária, Deus deveria estar chamando alguém para o ministério de pastor-evangelista. Nesse caso, o pastor pode encorajar e orientar essa pessoa. A igreja pode se sentir inspirada a chamá-lo para um trabalho de tempo parcial aos jovens ou tempo parcial para supervisionar o ministério de evangelismo. A igreja pode também o motivar a fazer cursos de seminário online (ou em pessoa) para melhor interpretar a Bíblia e pregar. Em algum lugar ao longo desta jornada, aquele que foi chamado para plantar uma igreja da periferia vai conhecer a cultura das pessoas que está procurando alcançar. Ele terá uma visão de como proceder e estará em uma posição de convidar outras pessoas com mesma paixão pela missão a reunirem-se para formar uma equipe fundadora de uma nova igreja.
Um dos desafios duma equipe fundadora será encontrar um lugar para realizar os cultos. Eu conheço uma grande igreja em uma comunidade que com a passagem de tempo se tornou hispânica. Hoje é uma ilha de riqueza caucasiana em um mar de pobreza hispânica. Então, a igreja contratou um evangelista hispânico que fez um bom trabalho. Ele começou os cultos de domingo à tarde no templo da igreja mãe. Com o crescimento de membros a igreja caucasiana comprou propriedade e construiu um novo templo numa região mais nova e rica da cidade. A congregação hispânica mudou-se com ela. O resultado foi que a congregação hispânica foi deslocada longe da maioria dos hispânicos. Também, estava se reunindo no salão social de um prédio de alto padrão. A riqueza da igreja mãe criou uma distância entre ela e a grande maioria dos outros hispânicos da cidade. Como resultado, a congregação hispânica parou de crescer. Teria sido mais vantajoso para a congregação hispânica ter alugado uma loja desocupada para os cultos e para os seus ministérios de evangelismo. Lá, os líderes poderiam ter sido como os discípulos de Jesus aprendendo a ministrar às necessidades espirituais e sociais dos pobres. Infelizmente, ela estava muito conectada à congregação mantenedora e não foi capaz de fazer incursões profundas na comunidade hispânica e ministrar para sua disjunção social e suas famílias desestruturadas.
Vários anos atrás, ouvi um palestrante convidado de um seminário de Nova York falar em uma classe de implantação de igrejas no Calvin Theological Seminary. Ele estava cooperando com uma nova igreja na cidade de Nova York que foi iniciada por leigos de uma mega igreja nigeriana. Sua missão não era apenas reunir os imigrantes nigerianos para o culto, mas também trazer outros residentes da cidade. Esses nigerianos foram transferidos para Nova York a negócios e começaram uma igreja para alcançar os nova-iorquinos. Os membros desta mega igreja também começaram igrejas em muitos outros países. Seus membros foram inspirados e capacitados para iniciar igrejas internacionais onde quer que seus empregos os levem. Eles compartilham lealdade na doutrina e inspiração à igreja mãe e provavelmente também enviam de volta uma porcentagem das ofertas. Tudo o que os membros da equipe precisaram para começar uma igreja foi que cada um trouxesse uma cadeira, uma Bíblia e um instrumento musical simples como uma cítara, gaita, harmônica, pandeiro ou violão. As pessoas em conjunto alugaram um local de reunião, às vezes apenas um dia por semana. É assim que os trabalhadores nigerianos nos Estados Unidos começaram igrejas que conquistam e reúnem residentes nascidos nos Estados Unidos.
Em nosso trabalho no Brasil, organizamos o uso de escolas ou centros comunitários para reuniões de congregações emergentes. Nos Estados Unidos, as lojas e restaurantes podem servir ao mesmo propósito.
Um grande obstáculo para a formação de uma congregação num bairro da periferia é o quebrantamento e o caos que cercam a vida dos novos convertidos. Uma coisa tão simples quanto sentar à mesa para compartilhar uma refeição pode exigir uma tremenda autodisciplina e a disciplina das crianças. Exigir que todos permaneçam sentados ao redor da mesa para a leitura da Bíblia (talvez de um livro de histórias da Bíblia) e a oração é outra barreira enorme. Restaurar relacionamentos fragmentados e aprender a administrar as finanças são outros grandes desafios. Enquanto uma casa for tão caótica, ela não pode servir como um ponto de encontro para um grupo de estudo bíblico ou outro grupo de apoio, como AA. Para uma congregação funcionar bem, ela precisa de número suficiente de membros maduros, que sejam capazes de se doar para ajudar os outros, e com compaixão suficiente para amar os não amados. Alguns dos maiores ministros de nossa igreja eram como a mulher samaritana. Eles foram lavados, santificados, formados à semelhança de Jesus. Eles foram discipulados e não estão mais quebrados; em vez disso, eles estão curados e se tornaram fortes.
O caminho para se tornar um líder, um parceiro no ministério, um professor voluntário, músico, evangelista, e mais, é semelhante a um aluno iniciante de música. No início, é uma luta aprender uma peça musical e passar algum tempo diariamente tocando o piano ou outro instrumento. Pode demorar, mas virá o dia em que o aluno estará fazendo o seu instrumento soar, completando uma lição, podendo até avançar para a próxima sem a importunação do mestre. A alegria de tocar nas teclas é tão grande que tocar piano se torna uma forma de recreação e relaxamento. Avançando mais, o aluno entre em contato com outra criança que gostaria de aprender. Ela diz: “Eu posso te ensinar”, e ela se torna uma professora e até ganha algum dinheiro com isso!”. Da mesma forma, as pessoas que ministram entre os quebrantados e necessitados chegarão a um lugar onde verão os resultados. É possível. Realmente funciona! A vitória é emocionante! Eles experimentam altas emoções. Eles dizem: "Se fulano pudesse fazer o que estou fazendo, ele teria a mesma vitória e alegria. Exige dedicação e sacrifício, mas vale a pena”. Como resultado, eles se sentem confiantes o suficiente para ensinar ou orientar outras pessoas.
A igreja de periferia será composta por pessoas que estão rompendo sua tradição e criando uma nova, inspirada em Cristo. Os primeiros líderes dessa igreja, pessoas de igrejas estabelecidas, também são pessoas que estão rompendo com sua tradição. Eles decidiram deixar a segurança da igreja estabelecida para fazer nascer uma nova.
CONCLUSÃO
God has a special concern for the needy. He wants them to experience blessing, well-being, both body and soul, both for now and for eternity. Jesus himself promised:
Deus se preocupa com o bem estar dos necessitados. Ele quer que eles experimentem bênçãos, bem-estar, tanto no corpo quanto na alma, tanto para agora quanto para a eternidade. O próprio Jesus prometeu:
Bem-aventurados são vocês, os pobres,
porque o Reino de Deus é de vocês.
Bem-aventurados são vocês que agora têm fome,
porque serão saciados.
Bem-aventurados são vocês que agora choram,
porque vocês hão de rir. (Lucas 6:20-21)
Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados os que choram,
porque serão consolados. (Matt. 5:3-4)
Muitas igrejas não estão acolhendo pessoas que não se parecem ou agem como a maioria dos membros. Do pastor até o membro mais jovem, muito poucos fizeram um discípulo. Com certeza, muitos pais treinaram seus filhos para conhecer as histórias da Bíblia e viver por elas. Este é o discipulado que é praticado nos confins da unidade familiar. Mas, quantos conversaram com um mendigo na rua, falaram sobre o amor de Deus e o convidaram a seguir Jesus? Quantos trouxeram uma cesta de alimentos para uma mãe solteira, oraram com ela e lhe explicaram como é uma bênção seguir a Cristo? Mais provavelmente, voluntários levaram essa cesta até a porta e disseram: "Oi! Aqui está um presente para você!" e foram embora esperando que o cartão na cesta fosse o suficiente para motivar o destinatário a ir a um culto e dizer: "Obrigado".
Tiago, o irmão de Jesus, escreveu: “Sejam praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando a vocês mesmos” (Tiago 1:22). Eu confio que você irá rever em sua mente a mensagem deste livro, e que você possa identificar uma coisa que você pode colocar em prática.
Pastores, vocês sabem quem visitou o culto no último domingo? Se houve ninguém, vocês têm um cartão de convite que podem dar a qualquer pessoa não-membro que vocês conhecem? Vocês já perguntaram a alguém se eles têm certeza de que irão para o céu quando morrerem? Quando vocês visitam um membro da igreja no no hospital, vocês oraram com uma pessoa na cama ao lado? Vocês conversaram com uma pessoa obviamente anciosa na sala de espera ou oraram com ela?
Membros da igreja, vocês hesitam em convidar alguém para os cultos porque acreditam que ele não se sentirá bem-vindo? Se isso for verdade, procure uma igreja que faça você, um estranho, se sentir aceito.
Ao visitar igrejas, sou sempre bem-vindo, especialmente quando as pessoas descobrem que sou um pastor. Estou vestido apropriadamente, e as pessoas sabem que tenho a mesma fé delas. Mas também sei que na mesma igreja alguém que não se veste apropriadamente, que tem pele de cor diferente e que fala com sotaque provavelmente será recebido com olhares vazios.
Finalmente, e talvez este seja o ponto de partir: conte a um colega ou amigo sobre sua preocupação com a classe lutadora. Diga lhes que você tem medo de agir sozinho. É provável que seu amigo também tenha medo. Então, reúnam-se para orar para que Deus os leve a fazer um ato de caridade ou evangelismo. Deus responderá à sua oração e lhe dará força para fazer o que você sabe que é certo.
AVISO! Se você começar a falar sobre Cristo e suas reivindicações, enfrentará oposição e rejeição. Você pode se surpreender que parte da rejeição surgirá entre irmãos e irmãs cristãos na igreja. Seguir a Jesus não é popular. As pessoas rejeitarão você como o rejeitaram. Jesus sabia que isso aconteceria. Ele disse aos seus discípulos:
“Se o mundo odeia vocês, saibam que, antes de odiar vocês, odiou a mim. Se vocês fossem do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas vocês não são do mundo — pelo contrário, eu dele os escolhi — e, por isso, o mundo odeia vocês. Lembrem-se da palavra que eu disse a vocês: "O servo não é maior do que seu senhor." Se perseguiram a mim, também perseguirão vocês; se guardaram a minha palavra, também guardarão a de vocês” (John 15:18-20).
Vale a pena ajudar os outros se isso traz sofrimento para você? Ao compartilhar, você cometerá muitos erros. Provavelmente, você dirá uma coisa errada, ou visitará em um momento inconveniente. Você estará ajudando da maneira que puder, mas será julgado como insuficiente. As pessoas mentirão e tirarão vantagem de você. Alguns farão promessas que não pretendem cumprir. Você pode até acabar pagando a dívida de outra pessoa porque você foi co-assinante para ela. Essa é uma experiência de aprendizado custosa! Ai.
Que recompensa você ganha se o serviço não for valorizado nem por sua família nem pela igreja? Para isso, você precisa olhar para aquele que o envia. Ouça o que Jesus disse sobre você,
What reward do you get if outreach isn’t valued by your family or your church? For this, you need to look to the one who sends you. Listen to what Jesus said about you, “Bem-aventurados são vocês quando, por minha causa, os insultarem e os perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vocês. Alegrem-se e exultem, porque é grande a sua recompensa nos céus; pois assim perseguiram os profetas que viveram antes de vocês” (Mateus 5:11-12). Ele acabou de dizer o que será o seu galardão!
RECONHECIMENTOS
Estou em dívida com o falecido Dr. Roger S. Greenway, que foi meu mentor em meu programa de Doutor em Ministério no Seminário de Westminster. Este livro, de certa forma, é uma versão de minha tese de doutorado, mas agora enriquecido pela vida e ministério nos Estados Unidos nos últimos trinta e tantos anos.
Foi o pastor Wayne Ondersma quem me incentivou a escrever. Em um de nossos frequentes encontros, ele disse: “Você deveria anotar isso”, e foi o que fiz. A primeira versão escrita há mais de dois anos atrás foi revisada e atualizada com sugestões de colegas, e com mais experiência ministrando para pessoas de baixa renda no contexto da Igreja PIER de Grand Rapids, onde sou um voluntário e onde Wayne Ondersma é pastor.
Agradeço a minha esposa Clarice que leu o documento e fez várias correções e apontou áreas que eram ininteligíveis. O mesmo pode ser dito de minha filha Elizabeth Lindemulder, que fez o mesmo. Ela também questionou certas ideias que precisavam ser explicados melhor.
Ben Meyer, um plantador de igrejas e treinador de plantadores de igrejas no México e na África, com a Multiplication Network Ministries, deu palavras de encorajamento e me alertou com relação a frases que podem ser interpretadas como racistas ou chauvinistas.
O professor emérito do Calvin Theological Seminary, Carl J. Bosma, e eu, quando éramos missionários no Brasil engajados na obra de plantação de igrejas, passamos por experiências semelhantes e crescemos em nossa compreensão do que significava ser uma testemunha e fazer discípulos. Ele leu criticamente o manuscrito completo e fez sugestões que iam desde o uso mais persuasivo das escrituras até à correção de erros gramaticais. Só ele notaria que o uso da palavra “pobre” por Lucas em seu Evangelho (dez vezes) foi mais do que Mateus e Marcos juntos (quatro vezes cada), e como isso poderia reforçar minha exposição do capítulo, "O Cuidado Especial de Deus Para os Pobres”. Foi ele que destacou que as palavras de Jesus, "arrependam-se e creiam no evangelho” (Marcos 1:15) significam "torne-se meu discípulo", pelo que se seguiu imediatamente no versículo 17, "Venha, siga-me". Outras observações semelhantes marcaram a revisão final deste livro.
Helena Cristina Napolitano é filha de Lídia, que durante sua mocidade experimentou muitas dificuldades financeiras, juntamente com os pais e irmãos, e fazia parte do grupo de jovens da Igreja Presbiteriana de Vila Operária (hoje, Segunda Igreja Presbiteriana de Goiânia) à época em que eu pastoreava aquela igreja (1968-1971). Lídia graduou-se e se tornou professora na rede estadual de educação. Helena também é graduada, casada com um professor universitário, e juntos têm uma filha. Eles congregam a Capela Presbiteriana de Anápolis, na qual participam ativamente das atividades. Helena concordou em ler a minha tradução do livro que escrevi para o contexto urbano norte-americano. Enquanto revisava a gramática, o vocabulário e fazia sugestões e observações do tipo "não entendi" ou "concordo", ela também me encorajou. Fez diversas comparações do evangelismo urbano e a plantação de igrejas no Brasil em relação ao que eu havia escrito. Sua reação confirmou a minha convicção de que as semelhanças culturais são maiores do que as diferenças. As dificuldades a serem superadas no discipulado de pessoas de um outro dado setor da sociedade são bem semelhantes.
